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a montanha encantada { concluded }

Durante mais uma temporada de férias na fazenda do Padrinho, as crianças Vera, Lúcia, Cecília, Quico e Oscar se envolvem uma aventura cheia de fantasia e mistério. Eles ficam curiosos sobre uma estranha luz que aparece no cume de uma montanha, que eles chamam de Montanha Encantada, próxima da fazenda, e decidem descobrir o que é. Com a autorização do Padrinho os cincos correm para uma excursão até a montanha. Durante o percurso eles ouvem uma música misteriosa que faz com que fiquem ainda mais curiosos. Ao chegar no topo da montanha eles acidentalmente caem em um buraco que os leva para um mundo desconhecido. Eles avistam uma casa onde moram alguns anões e depois descobrem que na verdade era uma cidade de anões. Neste local tudo é feito de ouro e rubi, inclusive as roupas. Ali eles descobrem o mistério da luz da Montanha Encantada.

9julio9 · Book&Literature
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18 Chs

O ALTO DA MONTANHA

Nesse dia, à tarde, chegaram ao alto. A finalidade da excursão era descobrir por que a montanha brilhava de longe; ao chegar ao topo, nada viram de extraordinário. Apenas rochedos muito grandes e árvores altíssimas; não fizeram o acampamento bem no alto por faltar água nesse lugar; acamparam um pouco mais abaixo. Depois de armadas as barracas e as camas de campanha, almoçaram, soltaram os animais e foram explorar os arredores.

A vista era maravilhosa; viram o rio Paraíba, que se estendia lá embaixo como uma fitinha de prata; a casa da fazenda parecia um ponto branco quase perdido entre o arvoredo. Tudo parecia pequeno visto daquela grande altura.

Padrinho havia dito: "Vamos ficar uns três dias aqui. Assim teremos tempo de explorar toda a montanha, e quem sabe descobriremos coisas estupendas para contar depois".

A tarde da chegada passou sem novidade; todos se divertiram em andar de rochedo em rochedo procurando orquídeas e plantas raras entre as árvores. Com o binóculo que haviam levado, olhavam para todos os lados e viram fazendas vizinhas, gado que parecia formigas espalhadas pelos vales e planícies.

Quando a tarde caiu completamente, todos estavam cansados; foram tomar banho na nascente do rio, pois a água que despencava montanha abaixo tinha a nascente naquele lugar. Era uma água muito pura e clara que brotava entre avenças e samambaias, bem no meio das pedras.

Não puderam tomar banho porque a água era pouca; lavaram o rosto, as mãos, o pescoço e os pés e, depois de bem refrescados, foram jantar. Bento fez uma omelete deliciosa com queijo e presunto; depois comeram compota de pêssego com requeijão e bananas.

Deram milho aos cavalos e, depois de terem amarrado muito bem os animais, recolheram-se às barracas; a noite estava linda e o céu brilhava de tão estrelado. Conversaram algum tempo antes de dormir; Cecília disse:

— O que será que brilhava tanto aqui em cima? Lá de baixo a gente via aquele brilho; agora que a gente está aqui, não vê nada.

Henrique respondeu da outra barraca:

— Amanhã vamos explorar melhor a montanha; chegamos tarde e não houve tempo, amanhã vamos ver.

Quico bateu uma mão na outra:

— Temos que descobrir o mistério; eu vou descobrir nem que seja para ficar um mês aqui.

Vera falou:

— O que eu achei mais estranho foi o toque de sinos; nunca pensei que houvesse sinos em montanhas. Tomásio também ouviu...

Oscar perguntou:

— Será que você vai ouvir hoje outra vez? Se ouvir, me acorde, quero saber o que é.

Henrique falou:

— Vera ouviu sinos de alguma fazenda aqui por perto; todas as fazendas têm sinos para chamar os empregados; ela estava dormindo, acordou ouvindo som de sinos. Para mim é isso.

— Você já ouviu sinos tocando durante a noite? — perguntou Cecília.

— Quem sabe houve incêndio em alguma fazenda e os sinos tocaram para chamar gente para acudir?

Padrinho recomendou silêncio:

— Vamos dormir que é melhor; amanhã continuaremos a conversa.

Dormiram todos e houve grande sossego no alto da montanha. Mal o sol surgiu no dia seguinte, as três meninas, que tinham acordado primeiro, saíram das barracas. Os outros ficaram ainda dormindo. Acompanhadas pelos dois cachorrinhos, subiram até o ponto mais alto e sentaram-se numa pedra para admirar o panorama. Ficaram ali uns minutos, quando viram Quico e Oscar, que vinham na direção delas. Quico falou:

— Pensamos que vocês ainda estivessem dormindo...

— Qual o quê! — respondeu Cecília. — Fomos as primeiras a acordar; tive uma vontade danada de me levantar, chamei Vera e Lúcia e viemos para cá.

— Que lugar formidável, hein? — disse Oscar. — Parece que a gente está no topo do mundo.

Os dois meninos sentaram-se ao lado delas, sobre o enorme rochedo. Vera disse:

— Há montanhas muito mais altas que esta. Isto está longe de ser o topo do mundo...

— Sei muito bem — disse Oscar. — Os Andes devem ter uma altura louca.

— E o Himalaia então? — perguntou Lúcia. — É o mais alto do mundo.

— Hum! Ela sabe geografia — respondeu Quico.

Lúcia suspirou:

— Sei, como não? Mas agora eu queria um café com leite bem quentinho...

— Com pão de ló? — perguntou Oscar.

— O Bento vai acordar e fazer para nós — falou Vera.

Ficaram uns minutos em silêncio admirando o panorama; nesse instante a enorme pedra pareceu mover-se um pouquinho. Cecília avisou, um pouco assustada:

— Parece que a pedra está querendo cair, vamos descer.

— Impossível — disse Oscar. —Você está sonhando...

— Eu também senti a pedra se mexer — disse Vera.

— O que será?

Não houve tempo de nada; o grande rochedo rangeu como se tivesse molas e as cinco crianças e os cachorros foram cair num lugar escuro e silencioso. Quico foi o primeiro a falar:

— Nossa Senhora! Que foi que aconteceu?

Ninguém respondeu; estavam tão assustados que não falaram; Vera gemeu:

—Ai! Será que não quebrei nada? Lúcia, onde você está?

A vozinha de Lúcia respondeu do outro lado:

— Estou aqui segurando no braço de Cecília. O rochedo virou conosco?

— Parece que virou — disse Oscar.

— Como é que podia virar sozinho?

Vera perguntou:

— E Pipoca? Onde estará meu cachorrinho?

Cecília respondeu:

— Estou segurando num rabo aqui; não sei se é Pingo ou Pipoca.

— E eu estou sentindo um focinho frio encostado na minha perna — disse Vera. — Ah! É você, Pipoquinha? O que foi que houve?

— Não sei — disse Oscar. — Desconfio que fomos enterrados vivos.

Cecília ficou apavorada:

— O quê? Enterrados vivos? Como vamos sair daqui agora?

— A pedra virou e nós estamos debaixo dela.

Nesse momento uma luz muito fraca brilhou num canto; a princípio não viram nada, só a luz avermelhada; depois distinguiram um homem pequenino que segurava uma lanterna

acima da cabeça; tinha barbas compridas e esbranquiçadas. Cecília sussurrou ao ouvido de Vera:

— É um anãozinho; já vi igual no circo.

O homenzinho deu uns passos à frente e perguntou com voz firme:

— Quem são? O que vieram fazer no alto da montanha?

As cinco crianças ficaram pasmadas, com ar apalermado. Estariam sonhando? Impossível que todos tivessem um sonho igual. Os cachorros rosnaram, estranhando. O anão vestia uma roupa que parecia de veludo e tinha um gorro de penas brancas na cabeça. Vera e Lúcia lembraram-se de gravuras antigas, de gente vestida daquele jeito; Vera recuperou primeiro a coragem; achou graça no anão vestido com aquelas roupas e falando um português arrastado, como o que se fala em Portugal. Deu um passo e respondeu com toda a delicadeza:

— Viemos fazer uma excursão até aqui no alto desta montanha com nosso Padrinho, que tem uma fazenda lá embaixo. Dormimos em barracas e levamos três dias para chegar. Hoje cedo levantamos para ver o panorama aqui de cima e sentamos numa pedra muito grande. De repente a pedra virou... não compreendemos o que aconteceu...

O anão sorriu levemente; diante daquele sorriso, todos tiveram vontade de falar, de perguntar alguma coisa. Oscar dirigiu-se ao anãozinho:

O senhor mora aqui? Tem casa na montanha?

— Nasci aqui e vivi sempre aqui — respondeu ele.

Com a lanterna suspensa, o anão examinava as cinco crianças atentamente; da mesma maneira as crianças o examinavam. O olhar do anãozinho baixou para Pingo e Pipoca:

— São seus cães?

— São, sim senhor; vieram conosco — disse Lúcia.

Os dois cachorrinhos, meio desconfiados, estavam encolhidos junto às pernas das crianças. O anão falou:

— Há muito tempo tivemos cachorros aqui. Mas o último morreu há muitos anos e não temos mais nenhum.

Cecília, que estava sem coragem de falar, animou-se diante do olhar bondoso do anão:

— O senhor mora aqui... sozinho?

Ele riu francamente:

— Não. Somos muitos, somos mais de cem pessoas dentro da montanha.

As crianças arregalaram os olhos:

— Mais de cem? E moram dentro da montanha?

— Mas há casas lá dentro? Como é que vivem?

— Venham ver — disse o anão.

— Precisamos avisar Padrinho; ele pode estar nos procurando...

Mas o anão já caminhava na frente e as cinco crianças não tiveram outra alternativa senão acompanhá-lo, pois quem ficasse atrás ficaria em plena escuridão. Os dois cachorros também foram. Atravessaram um corredor escuro, um segurando na mão do outro para não se perderem, passaram por uma porta que parecia de ouro, de tão brilhante, depois por outro corredor e outra porta. Subiram e desceram ladeiras, pois o caminho não era plano.

Chegaram finalmente a uma espécie de rua; era muito estreita e calçada com uma pedra escorregadia; de cada lado havia umas janelas cravadas nas paredes e, em todas essas janelas, apareciam cabeças que espiavam com curiosidade o grupo de crianças. Uns

pareciam velhos, outros moços; uns estavam sérios, outros rindo, e todos pequeninos e vestidos à moda antiga. Os meninos perceberam que estavam num mundo completamente desconhecido para eles, um mundo que eles não imaginavam que pudesse existir.

Andavam juntinhos e estavam com um pouco de medo, mas não sabiam por que tinham medo, pois todas as fisionomias eram simpáticas e bondosas, apesar de esquisitas. Era uma gente diferente, estranha; todos os habitantes eram pequenos, não mediam mais de um metro de altura. As crianças pareciam gigantes perto deles.

Pararam no fim da rua porque o anão que ia na frente também parou; Quico escorregou e quase caiu; endireitou-se e ficou muito desapontado porque vários anões estavam sorrindo. Quico olhou para o chão e sussurrou para os companheiros:

— Vocês não viram nada! O chão é feito de ouro! A calçada é de ouro!

— Impossível! — disse Oscar. — Quico está sonhando.

Os outros olharam para o chão. Vera inclinou-se e passou a mão na calçada:

— Credo! Se não é, parece; por isso é que a gente escorrega. Olhem como Pipoca escorrega também!

Os dois cachorrinhos pareciam dançar; e em cada passo que davam, deslizavam como se patinassem. O anãozinho que os tinha levado mandou-os esperar e sumiu por uma porta lateral; os outros, cada um vestido da maneira mais engraçada, rodeavam as crianças e sorriam. Oscar perguntou:

— Afinal, onde é que estamos?