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a montanha encantada { concluded }

Durante mais uma temporada de férias na fazenda do Padrinho, as crianças Vera, Lúcia, Cecília, Quico e Oscar se envolvem uma aventura cheia de fantasia e mistério. Eles ficam curiosos sobre uma estranha luz que aparece no cume de uma montanha, que eles chamam de Montanha Encantada, próxima da fazenda, e decidem descobrir o que é. Com a autorização do Padrinho os cincos correm para uma excursão até a montanha. Durante o percurso eles ouvem uma música misteriosa que faz com que fiquem ainda mais curiosos. Ao chegar no topo da montanha eles acidentalmente caem em um buraco que os leva para um mundo desconhecido. Eles avistam uma casa onde moram alguns anões e depois descobrem que na verdade era uma cidade de anões. Neste local tudo é feito de ouro e rubi, inclusive as roupas. Ali eles descobrem o mistério da luz da Montanha Encantada.

9julio9 · Book&Literature
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18 Chs

O PEQUENO MUNDO DENTRO DA MONTANHA

Um dos anões, que possuía uma barba branca e parecia o mais velho de todos, aproximou-se e falou:

— Estão na nossa cidade. Desde o tempo dos avós dos nossos avós vivemos aqui nesta montanha e nunca ninguém veio perturbar nossa paz. Só vocês... E ainda perguntam onde estão. Nós é que devíamos perguntar o que vieram fazer aqui...

Riu-se e os outros que haviam se aproximado riram ' também. Cecília falou:

— Nós não sabíamos, senão não teríamos vindo perturbá-los. Viemos dar um passeio até o alto com nosso Padrinho. Não temos culpa se a pedra em que estávamos sentados virou conosco.

Lúcia perguntou:

— E como podem viver aqui? Não falta ar? Tem comida?

O de barba branca riu mais e perguntou:

— Está faltando ar para você?

— Não.

— Ora essa, nem para nós!

Duas anãs haviam se aproximado de Lúcia, Vera e Cecília; examinavam as três meninas e sorriam. Uma delas perguntou:

— O mundo lá fora é muito bonito?

— É sim — disse Vera. — Uma beleza.

O de barba branca falou, irritado:

— Mulher é sempre curiosa, olhem o que ela quer saber.

O anãozinho que os havia guiado apareceu pela mesma porta, dizendo:

— O príncipe espera-os; quer conhecê-los. Façam o favor de me acompanhar.

Quico disse baixinho:

— O quê! Eles têm príncipe!

— Psiu! — fez Oscar. — Não fale.

Acompanharam o anão e entraram pela porta indicada. Cecília queria saber se eram eles quem tocavam sinos, mas não teve tempo. Entraram num salão magnífico, enfeitado com pedras preciosas; não havia ninguém. Lúcia, que carregava Pingo no colo, teve medo. Murmurou:

— O que será que eles querem de nós?

— Decerto querem conversar — disse Vera. — Saber como é o mundo, como é que a gente vive, pois eles vivem aqui dentro desta montanha e não saem nunca. Vou carregar Pipoca, senão ele é capaz de fazer alguma coisa imprópria aqui neste salão tão bonito.

— Eu acho que eles são bons — disse Cecília. — Gente que ri e é amável com os outros não pode ser má.

— Também acho — murmurou Oscar. — Mas que beleza de salão... Vejam só!

Nesse momento, uma porta abriu-se na parede, na frente deles, e apareceu um grupo de anões com roupas de veludo de várias cores. Um deles tinha uma coroa de brilhantes na cabeça; devia ser o príncipe. O guia falou, adiantando-se um pouco:

— São essas as pessoas que eu vi subindo a montanha há dois dias. Prendi-os hoje; são crianças... Disseram que vieram fazer uma excursão até o alto e sentaram-se no rochedo para admirar a paisagem...

Os outros começaram a rir imaginando o susto que eles haviam levado quando o rochedo virou. Quando pararam de rir, o príncipe levantou a cabeça e fixou os olhos nos meninos, nas meninas e nos cachorrinhos. Perguntou:

— O que vieram fazer aqui? Sabiam da nossa existência?

Oscar resolveu contar a verdade; disse que havia um tal brilho no alto da montanha que chamou a atenção dos que moravam lá embaixo, na fazenda do Padrinho, por isso resolveram fazer uma excursão para ver se descobriam o que era aquilo. O príncipe passou a mão pela testa:

—Já sei! É a experiência que Roque está fazendo com os diamantes. Digam a ele que pare com isso, do contrário vai atrair o mundo inteiro para cá... Com essa mania de astronomia...

As crianças souberam depois que Roque, um dos anões, tido como sábio, juntava uma imensidade de diamantes e pedras preciosas e ficava no alto da montanha querendo atrair os habitantes da Lua com aquele brilho extraordinário. Era louco por astronomia.

Depois que o príncipe disse isso, dois anões vestidos de amarelo-claro saíram da sala; com certeza foram executar as ordens do príncipe e avisar Roque para parar com as experiências.

O príncipe sentou-se numa cadeira toda trabalhada em ouro; fez um sinal para que as crianças se aproximassem. As três meninas ficaram na frente, Oscar e Quico mais atrás. Ao lado deles, havia uma dúzia de anões; um deles estava com vontade de passar a mão na cabeça de Pipoca; estendia o braço e encolhia outra vez como se não tivesse coragem, depois deu uma risadinha muito engraçada.

O príncipe fazia uma porção de perguntas às crianças, queria saber tudo. Oscar falou um pouco, depois Vera e Quico. O príncipe então contou a própria história: disse que depois que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, vieram muitos portugueses para cá, a fim de ficarem residindo na nova terra. Um deles chegou no tempo de Mem de Sá e trouxe uma dúzia de anões portugueses para representar no teatro e divertir as pessoas daquele tempo.

Os anões vieram e foram ficando; acostumaram-se tanto no Brasil que não quiseram mais voltar para Portugal. As famílias foram aumentando.

Certa ocasião houve uma briga muito grande no Rio de Janeiro entre índios e portugueses; como os anões eram pequenos e não podiam combater, resolveram fugir. Embrenharam-se pelo mato e andaram dias e noites sem parar; passaram fome e frio. Alguns

não resistiram e morreram no caminho. Afinal chegaram ao pé daquela montanha depois de muito caminhar; naquela montanha viram-se rodeados de índios ferozes.

Juntaram as últimas forças que ainda tinham, galgaram a montanha e esconderam-se no meio do mato, lá em cima... Temendo que os índios os descobrissem naquele lugar, escavaram a terra por trás de um rochedo e ficaram escondidos ali dias e dias, comendo raízes e bebendo água.

Tinham trazido com eles algumas galinhas, cavalos e cães; resolveram morar sempre no alto, pois ao menos estavam longe dos índios ferozes e dos perigos. Havia água em abundância da fonte que nascia entre as pedras.

Um dia resolveram aumentar a escavação para que a moradia ficasse mais agradável: descobriram então uma grande caverna muito confortável e cheia de diamantes, ouro e pedras preciosas. Essa caverna ficava no centro da montanha. Como não precisassem de ouro, começaram a trabalhar com ele, usando-o como material comum; fizeram cadeiras de ouro, casas de ouro, calçadas de ouro, portas de ouro. Isso tinha acontecido há muitos anos, no tempo em que viviam os avós dos seus avós.

Com o correr do tempo haviam nascido mais anões e por isso eles agora eram muitos; as famílias haviam aumentado. Os cavalos haviam morrido, porque não podiam correr dentro da montanha; os cães também haviam morrido, mas as galinhas não; estas haviam aumentado tanto que agora eram em número considerável.

Assim viviam ali, no alto da montanha, os descendentes daqueles que se esconderam dos índios ferozes; sentiam-se felizes e não pretendiam deixar nunca mais a cidade que haviam construído. Ali dentro não havia guerras, nem índios, nem maldades, nem perseguições. Viviam todos uma vida alegre e pacífica.

Ele era príncipe porque seu povo o havia elegido para governar; iria casar-se no dia seguinte com a princesa Filó, que eles brevemente iriam conhecer. Viviam no meio de ouro e comiam em pratos de ouro, mas isso não tinha valor para eles. Nem o dinheiro. Para que o dinheiro, num lugar em que o ouro era tão abundante e vivia rolando pelas ruas? Por isso eram felizes; não havia ambição, nem ganância, nem inveja entre os anões.

Quando o príncipe acabou de falar, uma porta rangeu de leve entre as paredes e uma anãzinha muito bonita entrou no salão; estava vestida com um tecido feito de fios de ouro e diamantes. Mal cumprimentou o noivo e os outros que estavam com ele, olhou as crianças e perguntou numa vozinha infantil:

— São as crianças encontradas na porta da nossa cidade?

O príncipe levantou-se, dirigiu-se a ela e, com toda a cerimônia, inclinou-se e apresentou-a às crianças estupefatas:

— Minha noiva, a princesa Filó!