1 Morte

Super-heróis, um conceito que talvez só mostre o quanto nós seres humanos somos frustrados por sermos "normais". O protagonista do anime, todos aparentam querer viver em um mundo cheio de aventuras.

No entanto não desejo algo assim, aventuras? Acho que já tive o bastante por toda uma vida. Tudo que eu quero é escapar daqueles que vivem me perseguindo, não quero ir para um mundo de fantasia ou coisa do tipo, só queria paz.

Acabei sendo marcado e perseguido por alguns erros que meu pai cometeu. Isso me fez ter uma vida cheias de "aventuras", em busca de um final feliz acabei percebendo que ele provavelmente não existe, pelos menos não para mim, não estou em um conto de fadas.

Em um beco estreito eu corria em velocidade máxima, atrás de mim estão alguns de meus perseguidores, hoje pela manhã estou fugindo de um grupo, nem sei ao certo qual é já que são tantos.

— Apenas se entregue! — Um deles grita.

Ainda não entendo por que eles gritam coisas como "Desista" e "Se entregue", se estou fugindo eles acham o que? "Ah, foi mal, já que pediu me entregarei".

A saída estava a minha frente, infelizmente não conheço bem esta cidade, então não sei ao certo onde estou indo.

Uma rua a frente, do outro lado havia mais um beco, talvez eu atravesse correndo, mas isso seria perigoso, acredito que seja melhor apenas correr para direita ou esquer-

— Não é possível. — Acabo falando ao ver quem estava do outro lado.

Aquela mulher do outro lado, ela... seu rosto, os olhos cor caramelo, por um momento sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Tudo a minha volta parece perder a importância quando a vejo, minha mente parece não está trabalhando da forma que deveria.

Sem perceber começo a rua correndo, a minha volta escuto grito de algumas pessoas ao fundo, mas as ignoro. Já estava na metade do caminho quando sinto um grande impacto vindo da direita e sou arremessado.

Por um instante vejo ela dissipando no ar.

Levo um susto, olho rapidamente para o lado tentando ver o que tinha me acertado, mas estava tudo branco.

— Que merda é essa? — Falo instintivamente dando uma volta e olhando ao meu redor.

O chão, o céu, tudo estava branco, na verdade eu nem ao menos conseguia identificar o que era o que.

Começo a entrar em desespero, não sei onde estou, tudo isso depois de ter visto "ela", mas que merda está acontecendo?

Nesse momento eu me e dou um soco onde deveria ser o chão, então eu percebo algo, minha mão estava totalmente branca, como se não houvesse cor.

— Como assim? — Falo levantando minha mão e a observando.

Olho para minha mão, eu não conseguia nem ao menos identificar onde ela estava.

— Fique calmo, você está bem agora. — Ouço uma voz, era como se ela estivesse vindo de dentro da minha cabeça.

Assim que a ouço sinto uma estranha sensação de paz percorrendo meu corpo, o que era isso? É como se todas minhas preocupações se esvaíssem, me sinto calmo como nunca estive antes.

A minha frente começa a se formar algo, quatro pernas de metal vão crescendo e tomando forma, logo depois algo negro acima e em poucos instantes estava uma poltrona negra na minha frente.

— Sente-se, irei lhe explicar tudo. — A voz mais uma vez fala em minha mente.

Assim como foi dito eu me sento na poltrona, era estranhamente macia, como se eu estivesse em cima de várias almofadas amontoadas.

Em minha frente outra coisa começa a se formar, primeiramente era apenas algo cinza, no entanto ela começa a tomar uma forma retangular e logo uma Smart Tv estava formada, ficava a pouco mais de um metro e meio de mim como se estivesse flutuando.

A tv liga e começa a passar algo, estava ligada em algum jornal, tento prestar atenção para entender o que estava acontecendo, a imagem estava dividida em uma pequena com a apresentadora falando e a maior mostrando uma rua.

Várias pessoas estavam ao redor, a rua estava engarrafada dos dois lados, a câmera se aproxima mais e foca em um carro preto de luxo, ele estava parado no meio da rua, a imagem vai se movendo aos poucos e lá mostra um pano branco, ele estava cobrindo o corpo de alguém.

Presto atenção na apresentadora.

— A alguns instantes um jovem homem foi atropelado quando atravessou a rua correndo, testemunhas dizem que ele estava fugindo de outros dois homens — ela fala.

Mais algumas informações vão sendo dadas, o morto não pôde ser identificado, o motorista passou mal com a cena, entre outras coisas. Depois de algum tempo eu finalmente percebi, aquela era a rua onde eu estava agora, então aquele corpo no chão era...

Começo a ficar novamente desesperado, sinto minha visão ficando um pouco embaçada, isso é... eu estou chorando?

— Pode chorar, não há problema algum com isso? Quanto tempo faz que você segura tudo isso? — A voz fala, mas dessa vez não ouço dentro da minha mente, ela estava ali ao meu lado.

Sinto uma mão tocando meu ombro, outras coisas vão começando a aparecer ao meu redor, na frente uma mesa de escritório um pouco bagunçada, a esquerda duas estantes de livros uma ao lado da outra.

Em poucos instantes aquele local vazio toma forma, a figura ao meu lado também fica visível. Um homem, ele aparentava ter um pouco mais de vinte anos, sua pele era morena e sua estatura era média.

Ele se senta em uma poltrona, parecida com a que eu estava, atrás da mesa de escritório, ao sentar-se apenas olha para mim, tento parar de chorar um pouco, mas naquele momento era algo impossível, no entanto ele apenas espera eu me acalmar.

— Agora está mais calmo? — Ele fala.

Sinto que eu coloquei muita coisa para fora de uma vez, depois de conseguir parar de chorar vem a mim novamente aquele sentimento de antes, mais leve, a fadiga mental vai desaparecendo rapidamente.

— Acho que estou um pouco melhor — respondo ainda soluçando um pouco.

Agora calmo eu consigo observar as coisas melhores, o homem em minha frente foi a primeira coisa que foquei minha atenção, isso porque de alguma forma ele me lembrava o ator de um filme que vi quando era criança.

A mesa a sua frente parecia um pouco desarrumada, mas não em um nível comum, haviam inclusive pratos e copos por todos os lados e no único local que parece ser um pouco arrumada estava uma pequena placa com um nome, típicos em salas de pessoas importantes como um presidente de uma empresa, nela estava escrita |deus estagiário|.

— Primeiramente devo me apresentar, sou um |deus estagiário| e estou encarregado pelas transferências entre mundos. — Fico um pouco perdido com que ele está falando, provavelmente percebendo isso ele continua. — Ah, perdão, você deve estar um pouco confuso graças a perca de memória recente, isso ocorre por causa da morte, normalmente as pessoas perdem parte de sua memória quando morrem, mas isso não é nada grave, no máximo você não conseguirá lembrar de coisas como seu nome, alguma dúvida?

Ele falava tudo muito rápido, fico até um pouco atordoado, mas consegui entender o que ele havia falado.

Pensando um pouco e tentando forçar minha memória vejo que ele está certo, sinto que várias informações que deveriam estar ali não estão, quando penso em meu nome consigo imaginar algo, mas de alguma forma se torna indecifrável para mim, no entanto sinto que estou perdendo muito mais que apenas um nome, quem era aquela mulher que vi hoje antes de morrer?

Mesmo com esse sentimento de perda minha mente fica mais lúcida e posso me concentrar no que estava acontecendo.

Tenho várias dúvidas, pelo jeito ele irá responder tudo o que eu perguntar, a primeira coisa que me vem a cabeça é aquela placa em cima da mesa e a forma como ele se intitulou.

— O que seria um |deus estagiário|? — Essa era a minha maior dúvida naquele exato momento.

Tudo que pude imaginar era a imagem de um deus que seria café para os outros deuses, talvez carregar um monte de papéis, será que pensar isso se qualifica como uma blasfêmia?

— Hmm... Digamos que sou algo como um deus novato, ainda não designado para nenhuma função específica. — Ele dá uma pequena pausa na fala e solto um suspiro. — Ah, como eu queria ser um deus da natureza.

Quando ele fala sobre deuses da natureza sinto um certo brilho em seus olhos.

Pensando bem, ele é um deus, poderia facilmente ter o poder de ler mentes ou algo do tipo, mas ele não falou nada mesmo com meus desrespeitosos pensamentos, então acredito que não deva possuir essa habilidade, isso me dá um certo alívio, provavelmente ficaria ofendido.

— Existe mais de um deus? — Essa resposta já é óbvia, no entanto eu ainda sim queria ouvir dele.

— Claro que existe mais de um deus, como você acha que nós iríamos cuidar de tantos mundos assim? — Ele dá uma pequena pausa como se estivesse pensando em algo. — Na verdade você não sabe disso, seu mundo tem um avanço científico muito baixo para saberem, além disso vocês nem ao menos têm magia!

Ele tira um smartphone de dentro de uma gaveta e começa a mexer nele.

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