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A vice capitã Merida

Longe da cidade, a observando de um morro, o último ponto com vista para a ela, a segunda noite do festival, emfim chegava ao fim, e os muros que antes me protegiam com sua imensidão intransponível, agora pareciam pequenas paliçadas bem construídas, envolvendo um acampamento bem iluminado por tochas.

— Primeira vez fora da cidade? — me perguntou, uma das agentes mascaradas, que me acompanhavam nessa missão.

— Sim, — respondi, me sentando na grama e admirando a vista — sabe… é um pouco estranho, eu nunca nem tinha me imaginado deixando os portões da capital… quem diria estar aqui, apreciando essa vista.

Os frios ventos do outono secavam as lagrimas de uma antiga ferida, enquanto a misteriosa agente, de máscara branca e roupas pretas, silenciosamente voltava para seus companheiros, que montavam o acampamento. Eram estranhos esses soldados, tirando suas vozes, não havia outra forma de diferenciá-los, três homens e duas mulheres compunham o suspeito grupo que me acompanhava nesta missão de resgate, me dada pelo príncipe, se não fosse por sua breve explicação, nunca que eu confiaria neste "cavaleiros" secretos da realeza.

— Descansem bem, as próximas quatro horas serão as últimas em que estaremos parados pelas próximas três noites — disse um deles, com uma voz rouca e suave, enquanto os outros enchiam suas tigelas com sopa quente.

— É melhor você comer enquanto pode, essa será nossa única refeição quente por um tempo — me avisou a voz jovem e feminina de antes.

Sem pensar muito, me aproximei da fogueira e aceitei uma tigela que me ofereceram, apesar de ser apenas ração militar misturada com água quente, essa sopa de carne seca estava realmente boa, não que eu tivesse alguma experiência com rações em missões de acampamento. A noite seguia calma e fresca, graças a brisa outonal e a lenha estalando a minha frente, alguns minutos se passaram em silêncio e três dos agentes mascarados foram se deitar em suas tendas.

— É melhor você descansar também, você ficou com o terceiro turno, aproveite o tempo — o dono da voz rouca me avisou, sem tirar os olhos da tigela.

Segui o conselho e fui me deitar em minha tenda, ainda de armadura, mas a ansiedade me impedia de dormir, ou talvez ainda fossem as minhas suspeitas quanto a esses novos companheiros que me mantinham acordada, claro que o aperto sufocante da placa de ferro e da cota de malha em meus peitos não ajudavam em nada.

— Pelo menos não está mais chovendo — resmunguei me revirando sobre o saco de dormir — depois daquelas nuvens estranhas, a duas noites atrás, os céus estiveram tão limpos, quanto os de um deserto… acho… afinal, nunca estive em um…

— …

— Me… Me desculpe… Me desculpe… me desculpe…

— Um sonho — pensei, vendo o cenário escuro e enevoado.

Eu me sentia um fantasma, assistindo os vivos através de um véu, embora estivesse claro para mim, que isto era um sonho, algo parecia estranho… Não era um sonho comum, parecia… uma memória, embora eu não a reconhecesse. A minha frente estava uma garota, ajoelhada, chorando e com as mãos cobertas de sangue, ao seu lado uma espada longa jogada ao chão. O beco em que ela se encontrava, embora familiar, estava escuro demais para observar qualquer outro detalhe e antes mesmo que eu pudesse tentar algo…

— Parece que ela não sabe de nada, e também não possui amigos para se quer ter contado algo — dizia a voz seca de uma mulher, que parecia vir de trás de minha cabeça.

Com o sonho interrompido, o que me restava era uma sensação de vazio em um escuro interminável, sem um chão para sentir sobre meus pés, era como se eu fosse um espírito, flutuando pelo, céus durante o mês sem luas. Alguns minutos se passaram em silêncio, me deixando ansiosa pelo retorno da voz, até que eu senti uma mão sobre meu ombro e então acordei sendo chamada pela voz jovem de um garoto.

— Vice-capitã da guarda. Ei! vice-capitã, está na hora do seu turno como vigia.

— … Certo — respondi, um pouco lenta, após acordar e olhar em volta, pensando que a tenda estivesse mais cheia poucos momentos antes.

Sem nenhum rastro de outra pessoa ter estado aqui além de mim, deixei a minha tenda, alguns minutos depois do jovem mascarado que me acordou. Tomei meu posto ao lado de outro agente, me sentando em uma pedra próxima à fogueira, que já começava a perder seu brilho. Sem novidades, a noite seguiu calma e silenciosa, ainda mais com meu companheiro calado. Algumas nuvens começavam a aparecer no céu estrelado enquanto chamas azuis surgiam na floresta ao nosso lado, sendo alguém que nunca havia deixado os muros da capital, me vi tentada a perseguir tais luzes magicas, se não fosse pela missão em que me encontrava.

Com o fim do meu turno, tive tempo para um último descanso antes de partirmos, mas sem conseguir dormir, o tempo passou realmente devagar, enquanto eu buscava em minha mente o que pensar. Com o acampamento desfeito, deixamos para trás, a ultimá vista da cidade, e seguimos a cavalo por quase uma hora, antes de pararmos ao lado de um rio calmo.

— Não encontramos nenhum rastro do bandido que escapou.

— E já estamos a uma boa distância da capital, ou qualquer outra cidade —

Cochichavam três dos mascarados, enquanto eu enchia meu cantil, observada pelos outros dois.

— … Certo — assentiu, o que parecia ser o líder, após pensar por um momento — numero três, cinco e a vice capitã, virão comigo para a floresta. Procuraremos por rastros lá, enquanto isso dois e quatro, vocês "cuidam dos cavalos".

— Eles não têm nomes? — me perguntei.

— Algo a acrescentar, vice capitã?

Seguindo pela floresta, apenas com nossas armas e armaduras, a noite parecia se tornar ainda mais escura nas sombras das árvores, com apenas poucos raios de luz lunar iluminando levemente o caminho a nossa frente. Enquanto os três mascarados que me acompanhavam, se espalhavam e olhavam pelos arredores, eu me concentrava no chão, em busca de rastros, e antes mesmo que eu percebesse, a presença de meus "aliados", desaparecera por completo.

— "… Nenhum rastro aqui também. Parando para pensar, seguimos algum rastro ou pista?"

Perdida em meus pensamentos, no silêncio, comecei a notar o retorno dos espíritos, will o' wisps, chamas azuis também conhecidas como fogos-fátuos, já havia ouvido algumas histórias de comerciantes. Se não fossem por esses espíritos, iluminando os cantos mais escuros desta floresta, eu não teria visto a flecha que voava em direção a minha cabeça, bem a tempo de me esquivar.

— Quem esta, ai? Apareça! — gritei me levantando, pronta para sacar meu chicote de aço e com o broquel em posição.

Sem respostas, o único som que eu ouvia era o das folhas farfalhando ao vento, nervosa, olhei em volta, tentando encontrar algo, sem saber ao certo, o que eu procurava, quando percebi, que estava sozinha. Os, sombras "Um", "Dois" e "Cinco" não estavam em lugar algum, nem mesmo seus corpos, então deveriam estar vivos, não é? Foi o que pensei no curto espaço de tempo entre a flecha e próximo ataque, dessa vez, uma adaga que se aproximava de minha garganta, a repeli na hora com meu escudo, mas continuava sem ver meu agressor. E perdida nesta floresta, um terreno completamente novo para mim, não demoraria muito para finalmente me acertarem.

— Muito bem! Se é assim que querem… "Ressoe pelo ar e se espalhe pelo chão, þunor leoht!" — um pequeno clarão surgiu em minha mão esquerda que eu havia erguido aos céus, e logo em seguida preencheu a área ao meu redor por um instante.

Torcendo para que meu truque os tivesse cegado, disparei floresta adentro, procurando por uma clareira ou "aliados". Sem muita sorte, a pouco menos de 10 metros da onde eu estava, outra flecha veio em minha direção, atingindo a árvore em minha frente.

— Droga… Sem mais nuvens… Não ha muito mais que eu… possa fazer — pensei, enquanto me preparava para o próximo ataque.

A noite se escurecia mais a cada momento, e a demora entre os ataques me faziam pensar estarem brincando comigo, como se eu fosse uma presa fácil, como se a vergonha da fuga de antes já não fosse o bastante. Finalmente outro ataque, dessa vez duas flechas, a primeira foi fácil de desviar, mas a segunda prendeu meu pé no chão por um instante. dando tempo para que uma adaga, vinda da minha sombra, cortasse de raspão minha perna por trás da armadura. Antes que eu pudesse reagir, a lamina sumira, me deixando ainda mais indignada e preocupada, as chamas azuis de antes que, agora começaram a se agitar, não ajudavam.

— O que vai ser agora maldição…

A dormência em minha perna, quase me fez desistir, quando os fogos-fátuos se juntaram em três áreas ao meu redor, assim revelando meus inimigos, a mais distante segurando um arco e duas flechas, de silhueta delicada, em um uniforme escuro e de máscara branca como giz, era a sombra numero cinco. Uma de minhas "aliadas" nessa missão, que acabava de disparar duas flechas em minha direção, surpresa, minha única reação foi, desviar da flecha, me jogando para o lado, desajeitadamente e caindo de cara na lama. Ao tentar me levantar, a dormência em minha perna ferida, diminui a minha força e me atrasa o suficiente, para um dos outros dois, sombras, armado com uma espada longa, me atacar, mirando meu pescoço, mas apenas pegando de raspão em meu rosto.

— Ha… Ha… O que estão fazendo?!

Sem respostas e tentando me recuperar, os dois primeiro se aproximavam de mim como lobos, fechando um cerco sob sua presa. Com meu sangue escorrendo, uma estranha dormência em minha perna e estando em desvantagem numérica, o temor da morte se tornava cada vez mais presente em meus pensamentos. Pela primeira vez em minha vida, eu me via numa situação sem escapatória, em que minhas próprias habilidades, haviam sido superadas várias vezes.

— Ha… Muito bem! Podem vir, agora estou preparada — afirmei, meio ofegante, posicionando meu escudo e firmando o mangual em minha mão.

A luta recomeçou com uma faca, arremessada das sombras, a minha esquerda, provavelmente o líder, que ainda se escondia, mesmo com os will'o wisps me ajudando, eles continuavam a iluminar o entorno daqueles dois, porem com o, sombra um, eles pareciam perdidos, se movendo de um lado para o outro pela floresta. Mas sem tempo para pensar, eu tinha que agir, a quinta sombra já tirava mais uma flecha de sua aljava, enquanto o número três vinha em minha direção, segurando sua espada com às duas mãos, pronto para perfurar minha armadura. O desviei com meu escudo no último segundo, o som estridente, de metal raspando, pareceu não terminar, enquanto eu via a cena se desacelerar e enfim consegui contra-atacar, o chutando na barriga e o fazendo rolar pela lama.

— Ha… Podem vir, não pensem que um único feitiço é o bastante para acabar com minha energia.

Ainda em silêncio, enquanto o jovem que eu havia derrubado se levantava, os três predadores, que antes pareciam se divertir, brincando com a presa, agora emanavam uma aura sombria e aterrorizante, fazendo um calafrio subir por minha espinha. O vento parecia acelerar, e as folhas das árvores chacoalhavam sem parar, com um mau pressentimento e meus pelos arrepiados, saltei em direção a quinta sombra, que já soltava os dedos da corda de seu arco de caça. Assustada, correndo em direção a uma flecha, balancei o mangual em minha mão com toda a força que eu tinha, a corrente se esticando e o peso desenhando uma curva no ar, de trás de mim para o alvo a mais de um metro a minha frente, já podia sentir o impacto da arma na cabeça dela, e imaginar a máscara se quebrando. Mas algo dentro de mim, gritava, alertava "Se abaixa!"

— Você tem bons instintos, eu devo admitir… — disse, com voz grossa e séria, o homem que vestia as mesmas roupas e máscaras da mulher a minha frente, enquanto o vento parava de soprar, e os espíritos se focavam em um único lugar.

E assim, sem nenhum cântico ou palavra de poder, um tufão passou por cima de mim, como se todo o vento de antes, tivesse se juntado e virado no último instante, cortando tudo em seu caminho.

— … Mas lhe falta experiencia — terminou, antes de sumir novamente, e deixar a chamas azuis perdidas.

Travada naquela posição, uma perna agachada, a outra esticada, com o broquel protegendo meu rosto e uma expressão de puro pavor, um segundo pareceu durar uma eternidade, folhas levantadas do chão, alguns fios de meu cabelo, cortados, e uma cabeça girando no ar com a máscara ainda nela, e os fogos-fátuos se alinhando lentamente a minha frente enquanto a razão finalmente voltava a minha mente.

— "Fuja e corra, ofost" — encantei, e corri, com as minhas botas brilhando, segui o caminho indicado e deixei para trás, com uma expressão de desgosto, o corpo de minha inimiga, ainda em pé, esguichando sangue, enquanto sua cabeça caia na terra e a máscara se soltava — droga, droga, droga! Eu devia ser a vice capitã droga!! A segunda pessoa mais forte do reino.

Em poucos segundos, eu já estava na saída da floresta, quase cruzando as árvores, de volta para o campo aberto, quando notei, ao lado dos cavalos, os outros dois, sombras, ainda guardando os equipamentos, "será que eles também estão atrás da minha vida", pensei, faziam parte do mesmo grupo afinal, "… Ou talvez não, esses podem ser, diferentes, afinal, ficaram para trás… Isso, o chefe deles também matou a própria subordinada…"

— … Aqueles três deviam esta agindo sozinhos… É isso… Eles devem ser espiões, não deve ter outra razão para os agentes do príncipe…

— O capitão ta demorando, ein? — estranhou, o de voz masculina.

— Deve estar se divertindo, fazia tempo que não recebíamos uma missão — respondeu, a mulher com voz rouca.

— E mesmo assim ele nos deixou aqui de guarda…

— "… E levou os recrutas" — ela completou, como um deboche — Não se preocupe, parece que esse príncipe tem alguns planos, provavelmente estaremos mais ocupados do que nunca.

Mesmo sem ver os rostos, eu pude sentir, que por trás daquelas máscaras, eles estavam sorrindo, mas mesmo essa atitude e o calafrio que eu sentia, não eram o que me preocupava, aquelas palavras de antes, me confirmaram o medo em meu subconsciente, não eram espiões ou traidores, foram ordens do príncipe. Sem saber o que fazer, não podendo avançar, nem retornar, fiquei parada entre aquelas árvores, a poucos metros de dois assassinos, que por sorte ainda não me descobriram.

— E agora? Se os dois de antes, eram novatos, que eu mal consegui lidar, como… — eu pensava repetidamente, até sentir um pingo, que caiu, em meu nariz.

E olhando para cima, pude observar, o céu se fechando, Morgana, a grande lua azul, parcialmente escondida por uma gigantesca nuvem enquanto outras menores pareciam formar um cerco sob Merlin, a pequena lua vermelha. Com as gotas começando a cair na terra, minha esperança crescia, o som da chuva e a luz que diminuía, facilitavam a minha fuga, eu pensei, além de uma chance de lutar.

— E agora está chovendo também… Ah! maravilha — o homem suspirou.

— Se você tem que aturar a chuva, eu tenho que aturar ambos — a mulher reclamou, se virando para pegar algo nos cavalos.

— É agora… "Se espalhe pela água, þunor leoht" — sussurrei, pouco antes de pequenos raios saírem de meus dedos e caminharem pelas gotas, até os olhos do assassino, onde estouraram em um grande e barulhento clarão.

Torcendo para que, com o som ambos estejam desorientados, firmei a arma em minha mão e finalmente avancei para fora daquela floresta, os espíritos de antes já não me acompanhavam, por que me ajudaram até então, imaginei que nunca saberia, e o que importava agora era fugir, mesmo com toda a minha velocidade e magia, o líder deles não estaria muito longe de mim. Com a corrente encurtada, girei o peso do mangual e mirei pela cabeça do homem, salvo pela outra sombra, que me afastou com um chute em meu peito, me deixando surpresa e quase abalando minha confiança.

— Bem que o capitão falou ontem… Você, não tem experiencia! — ela zombou.

— Argh! Droga que… quem tá ai? Meus ouvidos ainda tão zunindo!

Ela não respondeu — os dois devem estar surdos — gritei enquanto apontava meus dedos para eles, resultando na mulher se jogando para o lado, sozinha.

Com um sorriso em meu rosto, a ataquei antes que se levantasse e percebesse o meu blefe. O mangual acertou seu ombro, deixando uma marca, na ombreira de couro escura e a levando ao chão.

— Ha… Ha ha. Finalmente, finalmente um golpe os acertou!

— Maldita sortuda, não fique se achando… — ela falou, se levantando, com o braço esquerdo dormente — só por que me acertou uma vez.

— Parece que a audição deles já está voltando — murmurei, enquanto ela me apontava uma espada curta.

— Ei! Idiota se recupera logo. Ou ficarei com a diversão toda para mim… "Stræl!".

Ela ficou para por um momento, até que em um piscar de olhos ela já cortara metade do caminho entre nós, e no outro instante sua espada estava batendo em meu escudo, que por reflexo usei para proteger meu coração. A espada que não parecia ter mais que 60 centímetros, segurada por uma mulher com músculos mais finos que os meus, pesou em meu braço como se fosse uma montante, descida contra mim por um cavaleiro treinado. Por sorte o impacto nos afastou e me deu tempo para pensar, enquanto eu via estrago deixado em meu broquel e o sangue escorrendo por baixo dele… eu braço havia quebrado.

— Dente por dente, olho por olho… braço por braço, ou algo assim, não é? — ela riu logo em seguida.

Minha raiva e medo se misturavam, eu devia fugir, mas por alguma razão eu ainda queria lutar, eu queria esmagar a cara por de trás daquela máscara, enterrar o parceiro idiota dela, na lama, e enviar o corpo do líder, para aquele príncipe maldito. Todo o medo que eu sentira antes, parecia ter se transformado em fúria, junto da dor de minhas feridas.

A luz azul prateada, de Morgana, começava a desaparecer, deixando apenas o vermelho sangue de Merlin, enquanto a chuva apertava, me limpando da lama de mais cedo e diluindo o sangue em meu rosto. Um raio caiu, e com ele, uma memória em minha mente, aliviou meus dentes cerrados, e meu punho, que já apertava o cabo da arma para um ataque enraivecido. O corpo de uma jovem, no chão de um beco, na capital, me lembrou dos resultados de um ataque mal pensado, muito embora eu ainda não lembrasse exatamente o por quê. Balancei a cabeça, meu longo cabelo, encharcado, pesando bastante e as dores voltando, notei que o, sombra numero quatro estava agindo estranho, meio escondido, atrás dos cavalos.

— Haaa! — suspirei — Magias em silêncio, encantamento duplos e feitiços mentais, por que diabos a ordem de cavaleiros reais existe!

Calaram-se, parece que até as provocações de antes, foram uma atuação, para me irritar e instigar, facilitando para o feitiço me afetar, mas com isso exposto, o assassino, com a visão e a audição já recuperada, tirou de um dos cavalos, um arco longo e uma aljava cheia de flechas com ponta de aço. Mesmo com meu escudo, o máximo que eu conseguiria, seria uma flecha infincada no meu pulso e outra ferida antes de uma de outro disparo que perfuraria minha armadura como se fosse papel. Com a mente clara, eu tinha certeza, eles só estiveram brincando comigo até agora, eu não tinha outra escolha.

— "Ressoe pelo ar e se espalhe pela água, þunor leoht!"

Com a mão direita erguida, dessa vez, muito mais raios surgiram, se espalhando pela arma e ascendendo cada gota a minha frente, rapidamente me virei e preparei para soltar o encantamento, esperando que o feitiço em escala maior, me desse tempo para fugir, quando o frio em minha espinha me travou. Não era um feitiço, ou encantamento, era a mesma sensação de antes, quando a sombra três, foi morta, o líder dos assassinos, finalmente me alcançou. Não mais do que cinco minutos tinham se passado, desde que começara a chover, esse foi o tempo que eu tinha conseguido, com a minha fuga encantada, ou melhor dizendo, esse foi o tempo que, ele me deu de vantagem.

— Ha… Ha… Ha… — ofegante, eu me aproximava de meu limite, nunca antes, uma luta havia feito eu ficar assim, nunca antes na vida, eu havia soltado tantos feitiços.

Sei, por senso comum que são, raros, os cavaleiros mágicos, que conseguem usar mais do que dois feitiços em combate, pelo menos se forem humanos. Eu, por outro lado, já usara quatro, uma pessoa normal, teria desmaiado, no entanto, estou apenas sem folego.

— Você demorou chefe — disse a mulher, enquanto os raios começavam a parar, lentamente.

— Foi mal, foi mal, eu tive que carregar o recruta.

No entanto, meus oponentes, que não só usaram, pelo menos uma magia, como também as usaram de forma tão livre, estavam de pé, bem atrás de mim, sem nem ofegar, brincando, enquanto decidiam quando me matar.

— Então, já podemos matar ela agora — o, sombra quatro, perguntou.

O medo me imobilizava, enquanto cada célula em meu corpo gritava, "fuja", qualquer confiança que eu tinha, desapareceu na escuridão da noite, cercando a colina em que estávamos, nem uma única alma para eu pedir ajuda, nem uma única chance de sobreviver contra aqueles quatro assassinos, a arma em minha mão, quase escorregando, como o sangue em meu braço e rosto.

— Certo, melhor terminarmos logo esse trabalho — assim que ele falou, meu feitiço enfim parou, e os quatro assassinos começaram a me cercar em círculo.

— Haaa — suspirou o novato — parece que ela já desistiu.

— Depois de tudo que tentou, e falhou, acho que qualquer pessoa normal desistiria — ressaltou a mulher de voz rouca.

— Hahaha, qualquer pessoa normal já estaria morta.

— Realmente, mas eu não esperava uma desistência, devo te-la superestimado — o capitão respondeu, desapontado — ainda sim, ela foi uma "cavaleira do reino, leal até o fim", não acreditam que ela merece uma despedida? — terminou zombando.

Os quatro pararam, a menos de dois metros de mim, a chuva estava forte, com um vento frio, e a luz de Merlin, também começava a desaparecer, quando eles sacaram em simultâneo, uma espada cada, as levantaram em continência e começaram, com as vozes se misturando enquanto as nuvens trovejavam…

— "Pelo reino você viveu, pelo reino você lutou, pelo reino você sangrou e pelo rei você morreu" — eles entoaram a, despedida dos cavaleiros, sem nenhum sentimento.

As espadas subiram e com elas meu destino, meu medo, minha raiva, minha indignação, com tudo junto, enquanto elas desciam, cortando vento e água gritei — þunor deaþ! — minha voz estourou como um trovão enquanto um raio caia, se dividindo em cinco e nos separando com uma explosão.

No fundo, de um barranco, próximo a algumas árvores, eu fechei os olhos e sussurrei — como se… eu fosse… desistir… e morrer… sozinha… Ha… haha…

— Me… Descul… Me desculpe… Me desculpe Annie! — acordei, em uma cama simples, sob um teto de madeira.