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Sem Saída

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    – Já chega. Agora eu preciso voltar para casa antes que sintam minha falta. — Disse Garald antes de dar alguns passos.

    A Gardena houvera o interceptado, segurando-o pelo ombro direito.

    Ao ouvirem os passos de Garald, seus filhos correram em direção de casa. Mas, claro, sem antes se afastar com cuidado.

    – O que você ouviu?  — Pergunta Hakken.

    – Quase nada de interessante. Só o que te disse. Não é a primeira vez que o pai vem para cá. E você? O que viu?

    – Aquela coisas não são humanas. Tinham garras e uma língua esquisita. Eles estavam...

    – Estavam o quê?

    – Bebendo o sangue do pai.

    – Bebendo o sangue?! — Pergunta Yasashi, lembrando de uma criatura idêntica a descrição feita por Hakken.

    – Conseguiu reconhecê-las?

    – Acho que aprendi sobre elas na academia. Se estou certo, essas criaturas se chamam Gardenas e se alimentam de sangue. Em troca, realizam desejos.

    – Se o sangue é uma moeda de compra, o que o pai pediu? ...Tenho que descobrir.

    – Temos!

    – Temos.

}

    No dia seguinte, Hakken e Yasashi acordaram mais cedo do que o habitual por conta da ansiedade. Porém, aguardaram até o almoço para pressionar Garald.

    – ... — Hakken olha para a marca no pescoço de Garald até que o mesmo perceba. – Você sempre teve essa marca no pescoço? — Seu tom frio não externa uma pergunta retórica.

    – Marca? — Pergunta Aileen.

    – Eu cai da cama bem feio ontem e alguma coisa me cortou.

    – Porque você não me acordou?! — Aileen reclama, exaltando sua voz.

    – Por isso. — Garald se refere a sua preocupação.

    – Você deveria avisar a alguém.

    – Tá. Tá bom, sim, é verdade. Me desculpem. Se isso acontecer de novo, eu prometo avisar. Agora podemos comer? Eu já estou bem. E faminto.

...

    Horas se passaram. Pouco tempo antes do anoitecer, Garald retornou de seu trabalho como professor. Aileen estara lavando a louça e cantarolando. Por sua distração, não percebe que seu marido houvera chegado. Garald também não fazia questão de chamar sua atenção. Seus filhos o esperavam em seu quarto, surpreendendo-o assim que passa pela porta.

    – Oi, pai. — Disse Yasashi.

    Garald não via Hakken, que rapidamente fecha e tranca a porta. Seu pai se mostra intimidado.

    – Não sei o que aquelas Gardenas disseram a você. Eu nunca o vi tão temeroso.

    – Como descobriu isso, Hakken? – Seu tom medroso se tornou sério.

    – Eu o segui de noite.

    – Como? Eu saí sem fazer qualquer som. E não havia ninguém na escada.

    – Isso não vem ao caso agora. Por qual motivo você deu seu sangue à aquelas aberrações?

    – ...

    – Eu não consigo te convencer. Mas, acho que fui criado por alguém que pode.

    – Não, não, não. Não diga nada à ela.

    – Desembucha, pai! — Yasashi exclama, já impaciente.

    – Tá. Sentem-se.

    Sem hesitar, os dois se sentaram, logo após, vosso pai. Yasashi aguarda com expressão preocupada. Hakken, inexpressivo, como sempre.

    – Quando eu e a Aileen éramos jovens, aproximadamente os mesmos 17 anos de Yasashi, nós éramos o casal que achava que o amor era capaz de vencer qualquer barreira. Que conseguiríamos viver juntos com apenas isso. Por muito tempo, isso foi verdade. Nossas famílias eram contra a nossa união, então resolvemos fugir juntos. E apesar das dificuldades, nós nos sentíamos bem, já que tínhamos um ao outro. Só que chegou o dia que essas dificuldades estavam insustentáveis. Por coincidência, pouco depois de uma briga entre eu e ela, uma Gardena me encontrou e me ofereceu 'qualquer coisa'. Tudo o que ela queria era o meu sangue para se alimentar. Eu achei que era um blefe, mas aquela criatura se mostrou capaz de realizar qualquer desejo mesmo. Por muito tempo, eu recusei, apesar de tudo. Tudo mudou quando descobri que Aileen estava grávida. Eu não pensei duas vezes. Ela me deu essa casa e uma boa fonte de recursos para sustentar tudo isso.

    – Isso explicou você negociar com uma delas. Mas, e as outras duas?

    – ...

    – Porque tinham três, pai?

    – ...Com a segunda Gardena, eu negociei meu sangue em troca da cura de Aileen. Aquela doença era mortal e eu não seria capaz de deixá-la morrer, podendo fazer algo para impedir.

    – E a última?

    – Não posso dizer o que pedi. Isso causaria um colapso na nossa família.

    – Se não nos disser, não há como ajudarmos. — Observou Yasashi

    – Ajudar em quê? Eu não lembro de ter pedido ajuda. Está tudo sob controle. Não se envolvam nisso! Eu sabia o que me aguardava quando concordei com os termos. Foi tudo por vocês! Se eu voltasse à aquela situação, faria de novo. Temos tudo o que queremos. Não se preocupem comigo.

    – E se não tivermos você?! E se a mãe não tiver você?! Nada terá valido a pena! Aqueles lixos vão te secar! — Yasashi se altera.

    – Vão para o quarto de vocês.

    – Voc-

    – Eu ainda sou o pai de vocês! Vão logo!

    Os garotos sabiam que mesmo que insistem durante décadas, Garald não iria contar mais nada. Ele parecia ter um forte motivo. Mesmo que ainda queiram respostas, obedecem e caminham até vosso quarto. Parecia o melhor a se fazer no momento.

    Ao chegar, Yasashi tranca a porta a fim de evitar ao máximo que alguém de fora do quarto ouça o som de suas vozes.

    – Eu não tenho um pressentimento bom sobre essa história. — Disse Hakken.

    – Seu último pressentimento estava certo. Precisamos ter cuidado.

    – Se quisermos ajudar o pai, precisamos fingir que nos damos bem.

    – Isso não seria suspeito?

    – Não vamos virar amigos de uma hora para a outra. Vamos apenas esquecer os nossos conflitos por enquanto. Quando isso acabar, você poderá me xingar a vontade.

    – Tá. O que faremos primeiro?

    – Já sabemos o nome daquelas criaturas. Se você aprendeu sobre elas na academia, existem livros que podem nos ajudar.

    – O sol está há 30° do centro. Não é tão tarde. A biblioteca fecha ao pôr do sol. — Diz Yasashi, olhando pela janela.

...

    Como Yasashi disse, agir como se fosse amigo de Hakken, seria algo mais do que suspeito. Sair juntos após alguns minutos de uma discussão mal resolvida alertaria Garald.

    Sem pensar de forma demorada e complexa, os garotos tem uma idéia simples. Yasashi saira antes, e depois de alguns minutos, sai Hakken. Só que ocorreu um pequeno imprevisto.

    – Para onde vai, Hakken? — Disse Garald, receoso.

    – Vou aproveitar que Yasashi está longe e treinar meu dom teatral. — Hakken se refere a tentar não expôr o segredo de seu pai.

    – ... — Por milésimos, Garald leva seu olhar ao chão com a expressão preocupada.

    – O que houve?

    – Nada. Eu só tenho medo de sua mãe descobrir. Obrigado por não revelar nada à ela.

    – ... — Hakken se retira sem responder.

...

    Yasashi e Hakken se encontram na frente do erudito.

    – Você demorou para chegar. O que houve?

    – O pai. Ele perguntou onde eu ia. Inventei qualquer coisa, e ele me liberou.

    Os dois abrem as duas portas juntos, consequentemente, tocam sinos. Um simples mecanismo que avisa quando alguém entra ou sai do local. As poucas pessoas que ali estavam olham em vossa direção. Algo costumeiro quando os sinos são tocados.

    Um homem calvo e idoso arrumava alguns livros atrás de seu balcão.

    – Boa tarde.

    – Não tem nada de boa. — Como já era de se esperar, o senhor diz com tom grosseiro. – O que querem?

    – Esse é o meu irmão; Yasashi. Ele é fã de lendas e criaturas mitológicas. Onde eu posso encontrar esses tipos de livro?

    – Você me parece ser um garoto inteligente. E além disso, parece saber que as lendas não são lendas. E se sabe, conhece o risco. Não os forneço para fãs ou odisseios. Ter conhecimento sobre tal coisa sem um motivo razoável, é muito audaz. Isso, para não dizer insano.

    – ...

    – Me desculpe. – O senhor diz da boca para fora

    – ...Esses livros são mais importantes do que eu disse. Tem algum lugar onde podemos conversar sem correr o risco de nos ouvirem?

    – Existem as salas de leitura solitária.

    – Tá. E onde ficam?

    – Quero que apenas que não ache que expressões falsas e suspenses possam enganar esse velho... Me sigam.

    Yasashi, Hakken e o senhor entram na sala. O mesmo fecha a porta.

    – O que há de tão grave?

    – Nosso pai barganhou com três Gardenas. — Hakken disse sem rodeios.

    – O quê?

    – O senhor conhece essas criaturas. – Afirma Yasashi.

    – ...Eu já fiz um trato com uma delas.

    – O que pediu?

    – Leitores. Novos leitores.

    – Não me leve a mal, a biblioteca não me parece muito cheia.

    Haviam duas ou três pessoas além de Hakken e Yasashi. O que indica que os tratos podem não dar certo. Ou...

    – Aquela... coisa estava com cada vez mais sede de sangue. Chegou o dia em que ela me drenou tanto... Por pouco, eu não acordo nunca mais. Mesmo que eu não possua meu desejo, não me sinto preparado para morrer ainda.

    – Você a matou.

    – É.

    – ... — Hakken estara pensativo. – Então, se uma Gardena morre, todos os desejos que ela realizou se vão junto a ela.

    – Sabia que era inteligente.

{

    – Por coincidência, pouco depois de uma briga entre eu e ela, uma Gardena me encontrou e me ofereceu 'qualquer coisa'... Eu não pensei duas vezes. Ela me deu essa casa e uma boa fonte de recursos para sustentar tudo isso.

    –  E as outras duas?

...

    – Eu negociei meu sangue em troca da cura de Aileen...

...

    – Não posso dizer o que pedi. Isso causaria um colapso na nossa família.

   

}

    – Então, se as matarmos, a mãe também vai morrer. — Yasashi dise com pesar. Parecera perder o incentivo de matar as criaturas.

    – Quem é o pai de vocês?

    – Garald Heredino.

    – Garald Heredino... O antigo líder do pelotão Libra de Faraldur.

    – Sim.

    – Isso explica muita coisa.

    – Ele não pediu para fazer parte do pelotão... eu acho. Ele não revelou um dos tratos.

    – E a mãe de vocês?

    – Aileen Yamaguchi.

    – Essa eu não conheço.

    – Ela não sai muito de casa.

    – Garald ressuscitou-a com o trato?

    – Não. Ela havia uma doença que iria matá-la. Meu pai fez o trato antes disso.

    – Pode ser que ela não morra. E se essa doença houver um tratamento?

    – E se não houver?! — Yasashi pergunta, com intensidade.

    – Meu trabalho não é influenciá-los, mas, acho que é meu dever deixar-vos a par da situação. Caso deixem tudo como está, Garald com certeza vai morrer. Se resolverem agir, talvez, a senhora Aileen morra. Sei que é difícil tomar uma iniciativa, mas, também sei que sabem o que precisam fazer.

    – Obrigado pela ajuda.

    – De nada.

    Yasashi dá um curto sorriso enquanto Hakken olha sem foco em uma direção, pensativo. O senhor estala seus dedos e o livro aparece na mesa, aberto na página conveniente.

    – Esse é o livro. Há tudo que procuram aí.

    – Qual é o nome do senhor?

    – Amos Guinevrre.

    – Eu sou Hakken Heredino, e ele, Yasashi Yamaguchi.

    – Prazer em conhecer os filhos do admirável Garald.

    Amos se retira da sala. Mesmo após minutos, Yasashi não conseguia ler. Ele apenas pensava em sua mãe e no que poderia acontecer com ela. Diferentemente de Hakken, que não perde tempo e começa a ler.

    – Como você consegue? — Pergunta Yasashi, sem compreender tamanha frieza.

    – Do que está falando?

    – Nós estamos entre a cruz e a espada.

    – Se escolhermos um, teremos um talvez. Poderá não ser uma ferida fatal se tivermos os cuidados certos.

    – Ter chances não basta!

    – Então escolha a cruz. Tenha suas mãos pregadas e tente sobreviver aos dias sem água e sem comida.

    – ...

    – Eu os amo tanto quanto você! Mas, eu sei o certo a se fazer! — Pela primeira vez, Hakken altera sua voz. O que deixa Yasashi mudo. – ...E também acho que o pai pode estar mentindo. — Sua voz novamente se torna fria.

    – Ele não mentiria sobre algo tão sério! É uma ofensa pensar isso dele!

    – Não acho que ele mentiu sem motivo. Acho que há algo maior por trás disso tudo.

    – De qualquer forma, eu tenho medo do que pode acontecer com os dois.

    – ...Vamos levar isso para casa e pensar no que fazer depois.

    – Tá...

...

    Ao chegarem em casa (não juntos), caminham direto para o quarto, trancam a porta e abrem o livro.

    – O que tem de interessante?

    – A pergunta é: "O que não tem de interessante?". Ouve: 'Os Gardenas se alimentam de sangue. Mas, apesar disso tentam se alimentar sem machucar ninguém.'

    – Aquelas coisas pareciam bem hostis.

    – 'Ao invés de atacar, utilizam sua habilidade absoluta como moeda de troca. O trato comum é ser a fonte de alimentação delas por 14 dias, em troca de um desejo material. Depois disso, ninguém deverá nada um ao outro.'

    – O pai disse que fez o trato quando a mãe estava grávida. Isso faz 18 anos. — Observou Yasashi.

    – Como eu disse, o pai está mentindo... Eu sei que o pai está mentindo. Mas... É complicado dizer o que eu acho. Preciso de mais.

    – Se ele estiver mentindo, a mãe pode não correr nenhum risco.

    Yasashi volta a ficar esperançoso. Seu irmão continua lendo.

    – 'As Gardenas se escondem em locais escuros e isolados como antros ou florestas mais densas.'

    – Tem um lado bom e um lado ruim. A parte boa é que Barddone não tem tantas cavernas e florestas. A parte ruim é que Sonjoan não é tão longe e tem dezenas.

    – Há uma forma mais simples de encontrá-los. Tenho certeza de que precisam comer todos os dias. De madrugada, o pai vai alimentá-los de novo.

    – O que acontece se o pai não for?

    – Não tenho idéia... Agora temos que esperar.

...

    As horas se passam, anoitece e a madrugada dá o ar de sua graça. Aileen dormia profundamente quando Garald se levanta e caminha até a porta.

    Hakken tem a mesma sensação da noite passada.

    – Yasashi! O pai!

    – Vamos!

    Os garotos correm ao mesmo tempo que tomam o máximo de cuidado possível com o ruído de seus passos.

    Ao chegarem a cozinha (cômodo onde se encontra a porta), ouvem um idêntico ao trancar de uma porta.

    – Abre a porta, pai!!! — Yasashi exclama enquanto bate repetidamente na porta.

    – Eu não posso.

    Garald estava com a chave. Então, não era possível os meninos irem atrás dele. A menos que...

    – Mãe, não acorda, por favor.

    – O que você vai-

    ...arrombem a porta.

    – "Vambora".

    – Às vezes, você é insano.

    – Não exagera. Essa foi só a primeira vez.

    Depois de poucos minutos de lamúrias, Hakken derruba a porta. Logo, correm até o beco. Dessa vez, de um jeito bem indiscreto. Garald e nem as Gardenas estavam lá. Só havia um monte de carvão em pó espalhado pelo chão.

    – Pai?!

...