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a montanha encantada { concluded }

Durante mais uma temporada de férias na fazenda do Padrinho, as crianças Vera, Lúcia, Cecília, Quico e Oscar se envolvem uma aventura cheia de fantasia e mistério. Eles ficam curiosos sobre uma estranha luz que aparece no cume de uma montanha, que eles chamam de Montanha Encantada, próxima da fazenda, e decidem descobrir o que é. Com a autorização do Padrinho os cincos correm para uma excursão até a montanha. Durante o percurso eles ouvem uma música misteriosa que faz com que fiquem ainda mais curiosos. Ao chegar no topo da montanha eles acidentalmente caem em um buraco que os leva para um mundo desconhecido. Eles avistam uma casa onde moram alguns anões e depois descobrem que na verdade era uma cidade de anões. Neste local tudo é feito de ouro e rubi, inclusive as roupas. Ali eles descobrem o mistério da luz da Montanha Encantada.

9julio9 · Book&Literature
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18 Chs

PADRINHO QUASE NÃO ACREDITA

Oscar começou a contar, muito excitado. Falou de que modo haviam ido parar naquela cidade esquisita e única no mundo. Falou da pedra que girou, do anão que os guiou pelos labirintos da montanha, depois sobre a cidade cujo calçamento era feito com ouro puro. Jeromão arregalou os olhos de espanto:

— Ouro? Então há ouro nesta montanha? Vocês não estão enganados, meninos?

Cecília e Quico confirmaram. Vera e Lúcia falaram sobre a princesa Filó e o príncipe. Vera mostrou a cintura:

— Eles são desta alturinha, Padrinho. Nós éramos quase gigantes perto deles.

Bento, que nunca tinha visto anões, queria que explicassem melhor. Por que eram pequeninos assim? Mas eram gente mesmo? Não eram bichos? Falavam como gente? E por que viviam no fundo da terra?

As crianças contaram tudo o que haviam visto; falaram sobre a festa do casamento, o toque dos sinos, o que haviam comido. Jeromão tornou a arregalar os olhos:

— Sinos? Isso eu ouvi. Ouvi naquela primeira noite que dormimos na montanha!

Continuaram a contar; cada um contava uma parte.

Padrinho sacudia a cabeça com ar de quem não estava acreditando muito. Vera percebeu e perguntou:

— Padrinho, não acredita no que estamos contando?

— Acredito — disse Padrinho. — Mas estou achando tudo tão estranho... Para mim, vocês estiveram perdidos na montanha e agora vêm contando esse lero-lero... Vai ver que sonharam tudo isso. Estão magros, sujos, famintos... E dizem que lá havia de tudo e que foram tão bem tratados; não deviam estar magros assim.

Cecília protestou logo:

— Estamos magros porque não gostamos da comida dos anões, Padrinho. E estamos sujos por causa da chuva que tomamos hoje; mas na cidade dos anões havia banheiros do tamanho de piscinas e tomamos banho duas vezes na piscina da princesa. Foi a lama de hoje que nos deixou sujos...

Vera continuou:

— Viemos com fome porque não jantamos. Sabe o que comíamos lá, Padrinho? Crista de galo garnisé e pão de mel...

— O quê? — gritou Bento. — Crista de garnisé? Cruz-credo! Nunca vi alguém comer crista de galo.

As crianças tornaram a explicar o que haviam visto e comido; de repente Lúcia lembrou-se:

— Ah! Esperem aí, temos umas pedras preciosas que a princesa Filó nos deu. Quico e Oscar guardaram no bolso; mostrem as pedras para Padrinho.

Os dois meninos tiraram as pedras e puseram nas mãos de Padrinho; ele as examinou e revirou entre as mãos. Perguntou:

— Quem disse que são pedras preciosas? São pedras comuns, a montanha está cheia disto...

— Não é possível — falou Lúcia. — São safiras e rubis, Padrinho, veja bem.

Qual! Padrinho examinou e tornou a examinar, eram pedras comuns, um pouco brilhantes. Bento disse que era só procurar um pouco à volta das barracas e logo se encontrava uma porção delas. As crianças ficaram desapontadas; de fato, as pedras não tinham o mesmo brilho, nem pareciam as mesmas que eles haviam visto dentro da montanha; pareciam à toa.

— Quer ver que eles trocaram? — disse Oscar. — Na hora em que a pedra grande girou para sairmos fora da cidade, senti alguém passar a mão no meu bolso. Pensei que fosse Quico...

— Qual o quê! — protestou Quico. — Eu também senti alguém mexendo nos meus bolsos; vai ver que Julião trocou as pedras, sou capaz de jurar.

— Quem sabe foi ordem de Filó — disse Vera. — Ela deu os presentes, mas se arrependeu e mandou Julião trocá-los.

Depois de conversar mais umas duas horas, Padrinho disse que passava de meia-noite e todos precisavam dormir. Apagaram a lanterna e deitaram-se, mas nenhum deles dormiu bem; Vera chegou a se levantar e espiar para fora da barraca para ver se Julião andava rondando por ali. Lúcia e Cecília ouviram sinos tocar, pedras ranger, mas acharam que era tudo imaginação.

O dia seguinte estava lindo. Quando se levantaram, viram que Bento não se achava na barraca e Jeromão estava juntando lenha para fazer fogo. Foram procurar Bento. Gritaram:

— Bento! Onde você está?

Uma das crianças disse:

— Será que Bento desapareceu?

Oscar lembrou:

— Quem sabe se Julião levou Bento para dentro da montanha?

Vera disse:

— Se ele foi para lá, os anões são capazes de não o deixarem sair mais.

Um pouco assustados, foram procurar Bento pelos arredores; não estava. Subiram até o alto da montanha e chamaram os cachorros para procurar:

— Procura, Pingo! Procura, Pipoca!

Os dois cachorrinhos cheiraram as árvores, as pedras, à procura de Bento; não estava em lugar algum. Os meninos examinaram os rochedos para ver qual deles servia de porta à cidade dos anões, mas por mais que procurassem, não descobriram; todos pareciam iguais.

Ouviram Padrinho chamando para o café; voltaram à barraca e contaram que Bento havia desaparecido. Padrinho também ficou preocupado; depois de tomarem café com leite e bolachas, saíram todos à procura de Bento. Passaram a manhã andando pelos arredores e procurando Bento; Padrinho queria saber qual o rochedo que girava e levava à cidade dos anões; nenhum deles soube indicar a pedra.

Bem mais tarde, viram Bento aparecer por trás de uma grande pedra; contou que não pôde dormir pensando nos anões, então saiu de madrugada e foi procurar o caminho da cidade encantada. Como ouviu contar que os meninos haviam desaparecido atrás de uma pedra, ficou atrás de uma grande rocha, esperando a pedra girar. Chegou a ver um vultinho com umas roupas de cor pulando de um lado para outro; as crianças exclamaram:

— Era Julião! Era Julião! Por que você não chamou, Bento?

— Chamei — disse Bento. — Chamei baixinho: "Julião! É você?", mas ele não deu confiança, sumiu como se fosse engolido pela terra e não voltou mais por estes lados.

Padrinho perguntou:

— E você não ouviu quando chamamos? Não ouviu as crianças chamarem?

— Não ouvi nada — disse Bento. — Nem pensei que fosse tão tarde.

Jeromão falou:

— É melhor a gente ir embora daqui; este lugar é encantado como nunca vi; as pessoas até ficam surdas de uma hora pra outra...

As crianças ainda ficaram por ali procurando algum indício; disfarçadamente cada uma delas procurava a pedra mágica, mas não viram nem sinal, por mais que procurassem. Padrinho tornou a dizer que com certeza eles haviam se perdido, depois um deles sonhou durante a noite com anões e todos haviam ficado impressionados. Devia ter sido isso. As crianças protestaram; depois tornaram a tirar as pedras dos bolsos e a examiná-las; eram pedrinhas à toa, quase sem brilho. Isso elas não podiam compreender.

Quem menos acreditava era Henrique; achava impossível existir dentro da montanha uma cidade como aquela e ninguém saber do fato em toda aquela redondeza. Perguntava uma porção de coisas sobre a cidade, sempre duvidando; Vera disse:

— E você não andou tanto tempo perdido na Ilha? E Simão não estava lá com os bichos? E nós acreditamos em tudo o que você contou...

— Isso é diferente — respondeu Henrique. — Simão está na Ilha com todos os seus companheiros, macacos, veados, papagaios, jaguatirica... Mas existir uma cidade cheia de anões vivendo dentro de uma montanha? E depois essa história de pedras preciosas, cristas de galo, vestidos de veludo... Aranhas que tecem... Ah! Não posso acreditar...

As crianças ficaram um pouco zangadas com Henrique; mais tarde Eduardo teve uma ideia:

— Olhe, Padrinho, a gente pode trazer umas bombas e dinamitar as pedras. Aí quero ver se existe ou não a tal cidade...

Lúcia deu um grito:

— Matar os anõezinhos? Ah! Não. Isso nunca.

— Ninguém vai matar anõezinhos — disse Eduardo.

— Eu disse apenas para abrirmos o caminho da cidade dinamitando a pedra.

— Não — disse Padrinho. — Nunca permitirei que façam semelhante coisa. E vamos nos aprontar para voltar hoje à fazenda...

Ficaram tristes, mas obedeceram. Almoçaram ligeiramente e, logo depois do almoço, levantaram acampamento; prepararam tudo para descer a serra.

A descida foi mais fácil; os cavalos iam satisfeitos, pareciam conhecer o caminho da fazenda; os cachorros iam saltando e latindo alegremente.

Andaram até as seis horas da tarde; então resolveram parar e armar as barracas; estava ameaçando tempestade outra vez. Depois de tudo pronto, jantaram dentro das barracas, pois a chuva começou a cair fortemente. Choveu durante toda a noite; os cachorros estavam inquietos, latiram muitas vezes. Tomásio e Bento levantaram diversas vezes para ver o que havia; não viram nada. Só a chuva caindo com força e a enxurrada que rolava serra abaixo.

No dia seguinte, depois do café, tornaram a preparar tudo para a descida; mas o chão estava tão molhado por causa da chuva que os cavalos escorregavam a todo momento. Precisaram ir muito devagar e com cuidado; o caminho estava perigoso; choveu também durante o dia e, apesar das capas de borracha, todos ficaram molhados. Pararam para almoçar; Bento e Jeromão levaram uma hora para acender o fogo, pois tudo estava úmido e a lenha não acendia. Quando conseguiram fazer um pequeno braseiro, Bento fritou as últimas linguiças que haviam levado e comeram-nas com bolachas e queijo; depois tomaram café com leite. Felizmente haviam sobrado latas de leite condensado e isso valeu muito; já não havia quase nada para comer.

No momento em que estavam descansando um pouco depois do almoço, e todos ficaram em silêncio por uns instantes, ouviram o som de sinos tocando muito longe, muito longe...

Padrinho foi o primeiro a ouvir; ficou de pé escutando, depois olhou as crianças como quem diz: "Vocês têm razão".

Eduardo e Henrique levaram um susto e ficaram com os olhos muito abertos olhando Padrinho. Bento, Jeromão e Tomásio ouviram também; Tomásio ia levando o cigarro à boca, parou e ficou com a mão no ar, assim como quem está escutando uma coisa muito interessante.

Vera, Lúcia e Cecília levantaram as cabeças e olharam umas para as outras pensando nos habitantes da montanha que estavam tocando sinos; eram sons leves e finos, outros mais pesados e graves; vários sinos tocavam ao mesmo tempo, parecia uma música. Pingo e Pipoca estavam de pé perto do Padrinho; torceram a cabeça para um lado, como os cachorros fazem quando querem ouvir melhor; Pingo estava comendo um pedaço de linguiça; largou a comida e escutou levantando uma orelha e descendo a outra.

Depois de uns instantes em que ninguém falou, os sinos pararam de tocar; tudo ficou silencioso; ouviram somente o barulhinho da água da chuva caindo das folhas e mais nada; a mata estava silenciosa. Padrinho foi o primeiro a falar:

— Desta vez eu ouvi, meus filhos. Ouvi sinos tocando muito longe e não eram sinos da fazenda; eram sinos que eu nunca ouvi.

As crianças ficaram entusiasmadas; Quico e Oscar começaram a andar de um lado para outro, queriam falar mas não sabiam o que dizer; pareciam haver perdido a fala. Afinal Vera perguntou:

— Não foi o que dissemos, Padrinho? Uma porção de sinos tocando ao mesmo tempo?

— Foi — respondeu Padrinho. — Vocês têm razão; I ouvi sinos tocando dentro da montanha. Quer dizer que os anões decerto estão tocando a nossa retirada; falta pouco para deixarmos a montanha...

Bento estava estonteado; coçava a cabeça, a testa, sem saber o que dizer. Lúcia perguntou a Henrique:

— Está acreditando agora, Henrique?

— Pode ser que sejam sinos de outra fazenda — respondeu Henrique.

— Ora — disse Eduardo. — Nunca se ouviram sons assim em fazenda alguma. Por que duvidar?

Henrique nada respondeu. Padrinho deu ordem para partir novamente; seguindo o curso d'água, foram parar nas terras da

fazenda; caminhavam devagar porque o chão estava muito molhado e os cavalos escorregavam a todo momento. Atravessaram o riozinho e, às dez horas da noite, a caravana chegou à fazenda, onde Madrinha já os esperava, pois de longe havia pressentido a volta dos viajantes.

Depois dos primeiros abraços, sentaram-se todos à volta da mesa para comer alguma coisa antes de dormir. Madrinha perguntou:

— Então? Descobriram a luz da montanha?