1 Prólogo

Stefan seguiu a multidão de alunos ansiosos até o auditório. Estava tão nervoso que nem mesmo tinha conseguido comer nada o dia todo.

"É hoje. Eu não posso vacilar."

De repente ele sentiu alguém abraçá-lo por trás. Eram tantas pessoas se amontoando para passar pela porta dupla do auditório, que ele mal podia se virar para ver quem era, mas conhecia bem a sensação; os peitos dela estavam fortemente pressionados contra as suas costas.

— Chloe?

Ela sorriu, com aqueles cabelos ruivos caindo sobre seus ombros, longos como um riacho de fogo. Sua boca tão perto do seu rosto que ele podia sentir o cheiro de cereja do seu batom.

Os dois entraram no enorme salão e procuraram dois assentos vagos, sentando lado a lado.

— E aí, você vai mesmo fazer isso? — ela perguntou, quando se sentaram.

— Vou.

Ela sorriu e segurou a mão dele, apoiando a cabeça no seu ombro. Aquilo fez o coração dele disparar mas, de alguma forma, se sentiu mais corajoso.

Levou pelo menos uns cinco ou seis minutos até que todos os duzentos alunos ocupassem seus lugares. Os guardas fecharam as portas, e então as luzes foram apagadas, deixando o auditório no escuro completo, exceto pelo palco, onde estava o diretor, em frente ao palanque, com o resto do corpo docente uniformemente dispostos em uma única fileira atrás dele.

— Sei que todos estão ansiosos, por isso serei breve — o diretor começou. — Vocês não são mais crianças, são soldados, e em dois meses ocuparão seus postos como a próxima geração de pilotos da Federação. Não espero menos do que a perfeição absoluta de cada um de vocês. Entenderam?

— SIM, SENHOR! — o auditório bradou em um uníssono impecável.

— Então de pé para receber o nosso convidado, o comandante do nonagésimo sexto batalhão de Cavaleiros Negros do exército, o tenente-coronel Kurt Schuster.

Os estudantes obedeceram e aplaudiram quando um rapaz de vinte e oito anos, com cabelos loiros e o uniforme negro característico da sua unidade subiu no palco com um sorriso. Ele apertou a mão do diretor, os dois trocaram algumas palavras e o diretor se afastou, ocupando o seu lugar junto ao resto dos professores, enquanto o tenente-coronel ocupava o palanque. Ele fez um gesto com a mão e todos se sentaram.

— Como o diretor disse, em alguns meses vocês serão pilotos da Federação. Não é segredo que estamos em guerra, então não tenham ilusões, o destino de vocês é o campo de batalha. Foi pra isso que treinaram e é isso o que farão. As notas de vocês já decidiram para onde serão enviados quando se formarem. Apoio, inteligência, linha de frente. Mas existe uma unidade acima de todas elas. Uma unidade que escolhe a dedo os seus próprios membros.

Os murmúrios de excitação começaram; alguns professores e alunos mais rígidos tentaram pôr um fim nas conversas discretamente, enquanto o tenente-coronel simplesmente os ignorou.

— Como vocês já sabem, é uma tradição que os Cavaleiros Negros promovam um torneio com os veteranos das academias de elite da Federação. E esse ano não será diferente. Eu estou aqui para encontrar os melhores dos melhores entre vocês, e levá-los comigo para formarem a elite do exército.

Os alunos não se seguraram, todos vibraram. A seleção para os Cavaleiros Negros era o evento mais importante na vida de qualquer estudante. Era uma passagem só de ida para a glória.

— Mas não se enganem — o tenente-coronel elevou sua voz, em tom sério, e todos fizeram silêncio. — Eu quero os melhores, e apenas os melhores. Esse torneio é pra eles, não para os alunos medianos. Então eu pergunto, qual de vocês é o melhor aqui?

Um rapaz loiro, bem na frente, se levantou sem hesitar. Stefan não conseguia ver o seu rosto, mas nem precisava, ele sabia exatamente quem era; Warren Ballet, o pródigo da sua classe.

— Eu sou! — ele disse, com toda a imponência do mundo.

— Então venha — o tenente-coronel disse, e o rapaz obedeceu.

O auditório inteiro aplaudiu, enquanto ele subia até o palco, ficando ao lado do tenente-coronel, com um sorriso orgulhoso no rosto.

Mais vieram depois dele, tanto rapazes quanto moças. Eles se levantavam e o auditório punha seus olhos neles, aplaudindo e comemorando a sua coragem. Mas ninguém estava surpreso com os competidores que se juntavam no palco; eram todos de sangue azul, como Warren, filhos de pessoas importantes e detentores de enorme reputação como estudantes brilhantes, tanto em notas como habilidades dentro de uma cabine. A elite da elite.

O coração de Stefan disparou e as suas mãos começaram a suar. Ele queria se levantar, mas estava paralisado de medo.

— E então? — perguntou Chloe, chamando a sua atenção. — Já tá quase acabando. Pensei que você fosse se voluntariar também.

— Eu vou, é só que…

— Tá com medo?

— …

— E eu pensando que ser um Cavaleiro Negro era o seu sonho.

— …

— Não, quer saber, eu acho que você tem toda razão. É muito assustador, subir em um palco com todas essas pessoas te olhando. Tá tudo bem ficar com medo. Ir pra guerra? Lutar com os insetos? Por favor, isso não é nada comparado a enfrentar uma multidão de adolescentes.

As palavras dela o deixaram irritado, mas ela sorriu para ele e isso o acalmou. Então ele suspirou e se levantou, saindo do seu lugar e caminhando até o palco.

A essa altura, todos os outros candidatos já estavam de pé no palco, então ele foi o último, e todos os olhos no auditório se voltaram para ele. A princípio confusos e silenciosos, tentando descobrir quem era esse estudante solitário. Foi então que eles descobriram a resposta e todo o salão explodiu em murmúrios, enquanto alguns alunos das cadeiras mais próximas puxavam ele pela camisa, tentando fazê-lo se sentar. Quando perceberam que ele estava falando sério, não houve aplausos, apenas agitação e comentários rudes sobre ele.

— Uhuuuu. Stefan. Uhuuuu — ele ouviu uma voz solitária gritar, e reconheceu a voz da Chloe. Ouvir ela torcer por ele, daquela forma, com todo mundo olhando, fez ele sorrir, então ele parou de tremer e subiu no palco, se colocando ao lado dos outros candidatos.

O tenente-coronel olhou para ele e sorriu, curioso quanto a esse último rapaz que estava sendo tão desprezado pelos seus colegas. Por um instante, Stefan pensou que ele fosse expulsá-lo do palco, mas ele não fez isso.

Os outros candidatos foram menos gentis.

— Que merda você tá fazendo aqui, seu idiota?

— Você tá de sacanagem? Desce do palco!

— Se você não sair daqui agora, eu vou te pegar lá fora.

Ele ignorou todos eles e olhou para a multidão. A maioria o encarando com repulsa e raiva, como se ele não tivesse o direito de estar ali, mas, bem no meio de tudo isso, lá estava ela, com aquele cabelo ruivo brilhante e cheio de vida, sorrindo e acenando. Era impossível evitar sorrir quando olhava para ela.

— Mais alguém aqui acha que tem o que precisa pra ser um Cavaleiro Negro? — o tenente-coronel perguntou, esperando mais trinta segundos. Quando ninguém se levantou, ele continuou. — Muito bem. Todos aplaudam os candidatos do torneio. Em quatro dias, todos eles vão mostrar do que são feitos, na frente de toda a escola.

Os alunos obedeceram. Se levantaram e aplaudiram os seus favoritos. Estava feito.

"Agora eu só preciso vencer."

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