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Capítulo 1: Um Homem Quebrado

Capítulo 1: Um Homem Quebrado 

"Apostas. Desde muito antes da primeira casa de apostas, os homens já o faziam. 'Por quê?', você me pergunta. Bem, têm vários motivos para isso." 

 Um jovem andava apressadamente pelas ruas de uma metrópole, vestindo calças longas e uma jaqueta preta, cujo capuz cobria sua cabeça, ele parecia mais um delinquente padrão de ensino médio. 

 "O primeiro é a adrenalina do risco. Dinheiro? É apenas uma consequência da situação. O vício em apostas nunca se dá por alguém que quer ficar rico, mas sim pela pessoa que não consegue deixar de lado essa sensação de frenesi. O sentimento nasce da dúvida e da crença; a dúvida se é possível e a crença de que pode acontecer, sem uma não existe a outra. Arriscar tudo… para ganhar tudo". 

Chegando até a entrada de um restaurante, olhou para os dois lados, como se desconfiasse do ar. Levantando a cabeça, a porta de vidro refletiu seu rosto, mas ele instantaneamente desviou o olhar de seu reflexo e entrou. 

"Eu fui muito além disso, porque tenho uma coisa que somente algumas pessoas no mundo tem, tenho Hipertimésia, também conhecida como síndrome da supermemória, eu não esqueço. Basicamente, tudo que passei, senti, li e ouvi está a um pensamento de distância de mim. Sentimentos são sempre tão fortes quanto a primeira vez que eu os senti". 

Passando pela porta, observou os poucos clientes que almoçavam no estabelecimento e rapidamente dirigiu-se aos fundos. 

"Você deve estar pensando que sou algum tipo de sortudo de berço de ouro, e eu não te culpo por pensar assim, mas não é bem dessa forma. Lembrar nem sempre é bom… eu pelo menos tenho muitas coisas que gostaria de esquecer…" 

Descendo lances de degraus no final do estabelecimento, se deparou com uma porta de metal. 

"Honestamente, é solitário, para dizer o mínimo, por isso passo tanto tempo conversando comigo mesmo na minha cabeça; montando histórias, narrativas e imaginando como seria ter uma conversa saudável com outra pessoa, pensando em todas as situações da vida que eu já vivi ou poderia viver, assim como estou fazendo agora mesmo." 

TOC TOC TOC    

"Eu não nasci num berço de ouro, não, nem mesmo em um berço. Minha mãe era empregada de um casal de classe média. Quando ela primeiramente começou a trabalhar naquela maldita casa, a família era composta apenas de um homem e uma mulher, alguns anos depois eles tiveram um filho. Foi aí que os problemas começaram a aparecer." 

— Qual a senha? — gritou uma voz grave do outro lado. 

"O casamento já não estava dando certo, o marido foi demitido e começou a se embebedar todas as noites para "curar" a sua angústia. Um dia o desgraçado chegou tão bêbado em casa que julgou que "estava tudo bem" forçar-se na empregada… bem, foi daí que vim." 

— Abre logo essa porta, Gordon! — respondeu. 

"Quando a dona da casa descobriu, ela expulsou a minha mãe imediatamente, e pediu divórcio. O desgraçado desapareceu no dia seguinte. Ouvi dizer que ele morreu em algum canto, espero que tenha sofrido." 

O ranger das dobradiças veio logo após, do outro lado um homem negro, alto e largo olhava de cima para o garoto. 

TSC 

— É só você, moleque, quantas vezes eu já te disse para parar de vir aqui? — o homem, apesar da aparência e das palavras, repreendeu o garoto suavemente. 

— Você sabe que eu não tenho escolha… — respondeu, rindo como se conversasse com um velho amigo. — Eu não tenho outra forma de pagar as minhas dívidas! 

"Você sempre diz isso… se você fosse um milionário ainda viria aqui…" Gordon pensou consigo mesmo, mas, sem opção, deixou-o passar." 

— Toma cuidado, Li, o chefe quer te ver de novo… 

— Ele quer? Bom, vou lá falar com ele — respondeu. Li não pareceu com medo ou apreensivo, apenas um pouco ansioso. 

"Esse lugar é sempre o mesmo" 

Olhando em volta, viu foi um grande espaço aberto, suficientemente para caber algumas centenas de pessoas, uma verdadeira arena com arquibancadas. Ninguém imaginaria que esse lugar estaria embaixo de um restaurante familiar centenário. 

Li seguiu até o último cômodo e batendo na porta, entrou. 

— Liii, meu garoto de ouro, aí está você! — Um homem grande e gordo, sentado atrás de uma mesa de escritório, gritou assim que viu o menino entrando pela porta. 

— Senhor, me disseram que queria falar comigo… — Li o fitou de cima a baixo. Apesar da maneira que o homem o cumprimentou, ele sabia exatamente com quem estava falando. Um antigo chefe da máfia, o dono de todo esse estabelecimento e, por fim, o homem que o criou desde criança. 

— Ora, menino, sempre tão direto! Não posso falar com meu filho sobre coisas mundanas? — Apontando para uma cadeira, continuou. — Sente-se primeiro. 

Sentando-se, Li não tirou os olhos do homem em momento algum. Seu terno preto listrado, portava um crachá com apenas duas palavras "Tai Lung" seu nome, e um lembrete a todos de quem era o chefe daquele lugar. O dragão. Este homem já chegou a dominar metade da cidade, mas já há algum tempo, os negócios estando indo de mal a pior. 

— Li, você é uma joia rara, um talento sem igual, futuramente vai ser o maior lutador que esse país já viu! — disse Tai Lung, entrelaçando os próprios dedos. — Você só precisa aguardar um pouco mais… 

— A maioria dos lutadores famosos já teriam começado a criar um nome na cena com essa idade… — resmungou. 

— Bem, você não é a maioria, não precisa ter pressa, tudo tem seu momen… 

— Você sempre diz isso! Quando é que vou ter uma luta de verdade? Quando você vai me dar a oportunidade de provar tudo que você diz que eu sou? Já tenho quase 20 ano… 

BANG 

— QUANDO VOCÊ ME PAGAR O QUE DEVE! 

 Tai Lung, vendo o desrespeito, rapidamente fez questão de colocá-lo em seu lugar. Li se retraiu na cadeira. 

— Escuta, Jihan. — Recuperando a postura, o homem arrumou seu cabelo e se acalmou. 

Jihan é o sobrenome de Li, ele sabia que quando seu 'pai' o chamava dessa forma era por ser uma situação séria. 

— Quando te conheci, você era apenas uma criança, perdeu sua mãe cedo e nunca teve um pai. Eu te dei comida, água, teto e até um professor para te ensinar a ganhar a vida lutando. E o que você fez? Jogou tudo no lixo! 

— Eu disse que vou recuperar, só estou sem sorte! Se o senhor me desse um adiantamen… 

— BASTA! Chega dessa besteira! 

SIGH 

Tai Lung suspirou. Levando a mão a gaveta da mesa, puxou um pacote. 

 — Garoto, você sempre me ajudou, então vou te dar uma última mão, mas você precisa fazer um favor para mim. 

— É só dizer! Faço qualquer coisa que o senhor pedir! — Li imediatamente animou-se com a mudança de atitude. 

— O que quero de você é bem simples, não vai te dar muito trabalho… garoto, eu preciso que você perca a próxima luta… 

Apesar da maneira indiferente com que o homem disse, a expressão de Jihan escureceu-se. 

— Per… perder? Eu não posso fazer isso! O senhor sabe muito bem — recusou sem pensar duas vezes. 

— Sei que o que estou pedindo a você, não é fácil. Pode não acreditar, mas isso é tão duro para mim quanto é para você… além disso, não disse que precisa do dinheiro? — provocou-o, batendo duas vezes o pacote em sua mão. 

Li abaixou a cabeça. Criar fama, mesmo em lutas clandestinas, era um bom caminho para chegar ao topo. Entretanto, ser pego arranjando resultados é totalmente destrutivo, esqueça o topo, você não chegará a sair nem mesmo da base. 

Lutar clandestinamente já configura um histórico ruim para um lutador, fixar resultados é destruir o próprio futuro. Como poderia Li deixar um vício passar por cima de seu sonho. 

— Filho… — Li imediatamente olhou para o homem. — Eu não pretendia te contar isso, mas se te ajuda a tomar uma decisão é o melhor. — Tai Lung levantou-se e foi até a janela do escritório. Sem olhar para trás, ele começou. — Estamos acabados. 

— Como assim? — Questionou o menino. 

— Para manter um negócio desse precisamos de muito mais do que o estabelecimento. Precisamos manter quem pode acabar conosco longe, e isso requer bastante dinheiro… — O homem levou uma das mãos à cabeça. — As taxas das apostas nas lutas trazem uma boa grana, mas não o suficiente… Nosso negócio está em perigo, Li… 

 Li ficou em silêncio por um instante. O pedido de Lung pairava na sua cabeça, enquanto ele repetia para si mesmo "Sim, não é pelo dinheiro, é por meu pai, ele sempre deu tudo por mim, eu preciso fazer isso por ele". 

— Se não fosse por isso, eu nunca pediria para você entregar uma luta, você sabe… 

— Eu… faço — decidiu-se com uma voz fraca. 

— Há, sabia que poderia contar com você, meu garoto! — Como se seu humor virasse 180º, o homem sorriu, entregando-o o adiantamento. — Aqui, vai se divertir, garoto! 

  Li animou-se um pouco, pegou o pacote e dirigiu-se à porta. 

— Não vou te decepcionar — disse antes de sair do escritório, iludido demais pela quantia para prestar atenção na expressão de seu pai. 

Lung abriu um sorriso de canto a canto da boca. 

— E como poderia você me decepcionar criança…