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CAPÍTULO 2 – COMUNICAÇÃO COM ESPÍRITOS

1

Pouco a pouco, o brilho branco rompia novamente suas pálpebras e ativavam sua pupila, que se abria lentamente o fazendo ver de novo. Sua consciência parecia retornar pouco a pouco, junto de seus pensamentos que já começavam a completar o vazio de sua mente. O sentimento de confusão prevalecia enquanto seus olhos totalmente abertos observavam as paredes ao redor. Seus sentidos confusos não conseguiram identificar o lugar, nem mesmo sua memória tinha conhecimento de onde poderia estar naquele momento. O segundo sentido a se recuperar foi sua audição que à medida que começava a ouvir novamente, podia sentir vibrações de voz que surgiam de perto de seu corpo que ainda permanecia no chão encostado na parede.

"Você acordou?!"

A fina voz ecoou nas paredes do beco em que estava, mas não tinha força para virar sua cabeça e ver quem estava falando. Em forma de resposta, decidiu balançar sua cabeça acenando de forma positiva, porém confusa. O recado logo foi entendido e a dona da voz se aproximou lentamente em objetivo de ajudar.

"Você ainda me parece mal."

Ela disse enquanto estendia sua mão na direção da testa do garoto, que era curado pouco a pouco. Seus sentidos começaram a voltar mais rapidamente e sua tontura sumiu, podendo enfim levantar sua cabeça para ver quem estava o ajudando.

Sua primeira impressão sobre magia era algo de brilhar seus olhos, aquele brilho que emanava das mãos brancas da garota a sua frente usava da energia do ambiente para formar uma esfera de energia azul semelhante a uma grande bolha de água, que estava o curando mais e mais a cada segundo de forma totalmente sobrenatural e diferente dos métodos comuns de seu mundo anterior. Aquela primeira impressão sobre magia o fez tremer seus olhos em forma de admiração, aquilo por mais de ser mais simples do que ele tinha imaginado, ainda era muito diferente de tudo que já tinha visto antes.

Ao levantar a cabeça, ele parecia ter perdido o rumo, aquilo que tinha visto antes sobre a magia era lindo, porém a garota que fazia aquela luz surgir tinha uma beleza muito maior do que a sensação mágica de ver magia pela primeira vez. Aquela garota brilhava mais do que a própria magia que emanava dela.

Aquela garota era o colírio perfeito para os olhos machucados do garoto, que permanecia encostado na parede, porém agora hipnotizado pelo brilho da garota que estava a sua frente.

— "Essa garota é linda…"

Seus pensamentos logo se fixaram na admiração pela beleza da linda garota que havia acabado de admirar pela primeira vez. Seus olhos se abriram mais e sua pupila aumentou, seus ombros se tencionaram e seu corpo tremia levemente. O fato da beleza da garota estava mexendo totalmente com seus sentimentos básicos, o fazendo ficar envergonhado em segundos. Seu inconsciente parecia começar a criar uma distância entre eles como uma forma de proteção, por algum motivo ele sentia que poderia ser tratado de forma inferior apenas por conta da diferença de beleza.

"Você está melhor? Você parece estar mais vermelho…"

"NÃO!..."

Todo o calor e adrenalina que estavam em seu corpo naquele momento subiram para a cabeça, fazendo com que sua voz saísse muito acima de seu tom normal, surgindo basicamente como um grito. Aquilo aumentou sua ansiedade de forma a fazê-lo parar a frase no meio para respirar fundo antes de completa-la

"...ESTÁ TUDO BEM!"

Levantando totalmente assustado, acabou assustando também a garota que estava próxima demais de seu rosto, que se tingiu ainda mais de vermelho. Junto ao rosto avermelhado, seu corpo tremia evidentemente naquele momento, ele mal podia negar que estava ansioso, provavelmente travaria se tentasse negar. Ele poderia até mesmo agradecer a seu coração naquele momento por não ter parado

A garota por sua vez apenas demonstrava estar confusa, seus pensamentos tentavam alinhar alguma culpa que ela poderia ter na ação inesperada de seu paciente, mas mesmo pensando a fundo, não conseguia achar uma resposta. Ao se levantar os lindos cabelos brancos da garota balançavam livremente pelo ar, trazendo um charme ainda maior para sua aparência angelical. Seu manto branco com detalhes em roxo a deixava ainda mais linda, além de seu rosto extremamente branco como a neve, que combinava totalmente com suas expressões. Virando-se para o garoto com um olhar de dúvida, decidiu começar uma série de questionamentos.

"Qual é seu nome?"

Aquela pergunta lançada diretamente a ele o fez ter que parar para respirar antes de tomar qualquer medida. Como forma de se acalmar, ele começou a arrumar seu cabelo preto de uma forma diferente do que estava usando antes, basicamente o puxando para trás. Aquilo parecia aliviar seu estresse corporal e o ajudar a concentrar e relaxar sua mente.

– "Eu não preciso me alterar, por mais das poucas experiências que tive em conversas recentes, eu sei que posso lidar com isso!"

Serrando seu punho em direção ao chão e respirando fundo, ele virou seu olhar em direção aos olhos da garota…

"Eu sou Yokoyama Tsuki, mas prefiro que me chame apenas de Tsuki."

Seus olhos não conseguiam manter o olhar na direção do rosto dela, aquilo era esforço demais para ele que nem mesmo tinha conseguido parar de tremer totalmente naquele ponto. Mudando seu olhar, ele apenas decidiu olhar para a parede atrás dela.

"O que aconteceu para você ter se machucado tanto?" Disse a garota com um tom de voz leve e uma expressão ainda confusa

"Eu não me lembro bem… e-eu apenas me lembro de sentir um impacto em meu corpo."

– "que tipo de explicação foi essa?!" – Em conflito com sua própria mente, ele se controlou a ponto de não deixar suas reações internas se tornarem expressões externas

"Eu te vi caído no chão, mas não consegui ver nada do que aconteceu com você. Você era a única pessoa que estava lá naquele momento."

Os olhos roxos como cristal pareciam desviar o olhar pouco a pouco, deixando clara a preocupação da garota com o modo como os fatos estavam sendo narrados. As reações exageradas do garoto também afetavam o clima e o rumo daquela conversa que parecia se encurtar mais do que devia, causando desconforto das duas partes em manter aquele diálogo…

"Me desculpe te preocupar, mas eu não menti em nenhum momento sobre não me lembrar de nada."

"Ahn?"

A surpresa com a resposta dele a deixou totalmente confusa, em sua cabeça ela estava sendo ótima em esconder sua preocupação e medo, mas agora tinha certeza que tudo estava expresso de forma clara em seu rosto. Por outro lado, ele parecia ter ficado surpreso com sua própria clareza naquela fala, pois até aquele ponto ele não tinha sido realmente verdadeiro e confiante para dizer as coisas. Em uma frase seu tom de voz e expressão mudaram a ponto de tornarem aquela conversa um pouco mais íntima do que antes.

Em uma reação instintiva ela começou a sair após tampar seu rosto branco com as mãos. Seus cabelos longos e brancos balançavam, enquanto ela saía dali de forma veloz. Sem reação alguma, ele apenas a olhou sair, enquanto buscava entender exatamente o que estava acontecendo. Seus sentidos ainda não tinha entendido nada sobre aquele lugar, nem mesmo sobre aquelas pessoas. Seu modo de conversar era básico e falho, por isso, ele sabia que tinha dito algo que a incomodou de alguma forma, mas não sabia como consertar aquilo.

– "Esse mundo novo…"

2

Logo, ele pôde ver o último fio branco de cabelo sair do beco, mas mesmo assim não tinha nem mesmo conseguido mover um músculo de seu corpo que se manteve imóvel. Nem mesmo a sua expressão havia mudado, ele continuava com vergonha e seu corpo começou a tremer mais. Sua mente se encheu de culpa e dúvida sobre o que fazer. Ele procurava em sua mente qual havia sido seu descuido, mas não conseguia entender bem se as pessoas funcionavam daquela forma normalmente ou apenas naquele mundo.

— "O que eu disse para aquela garota correr dessa maneira?" – Respirando fundo, ele pensava em algo que talvez pudesse ter sido a raiz de todo aquele problema.

— "É mesmo, eu não perguntei o nome dela…"

Finalmente ele se moveu, indo para frente de forma veloz na direção do início do beco. Seus pensamentos tinham lhe dado a motivação de tentar, sua próxima pergunta já estava programada em sua mente, agora sentia que poderia tentar conversar, mas ela já parecia estar longe demais.

– "Eu não vou ser a mesma pessoa nesse mundo, essa é minha chance de começar de novo!"

A motivação tinha feito seu corpo parar de tremer e seu olhar se levantou para o horizonte que estava sendo tapado pelas paredes de tijolo daquele beco.

"Ei Tsuki, não precisa correr tanto, você não vai conseguir encontrá-la."

Ao chegar na entrada do beco, seu corpo foi paralisado por uma voz inesperada que parecia vir de cima, mas não muito, o que deixava sua origem ainda mais confusa. A fina voz fofa vinha de um pequeno gato cinza que estava voando pelo beco.

"Eu acho que correr atrás dela não ajudaria muito a consertar as coisas entre vocês."

O gato começou a se aproximar do rosto de Tsuki, que estava totalmente sem reação com o que estava vendo.

O gato pareceu mudar de expressão de repente e logo após voou novamente girando em volta do garoto.

Tsuki não conseguia entender muito bem o que era exatamente aquilo que estava o rodeando, porém conseguia entender que não se tratava de algum animal físico, pois ele conseguia sentir a mudança do clima no ambiente, a mesma mudança que tinha notado quando a garota usou magia para o curar.

"É mesmo, tenho que fazer as coisas na ordem certa. Meu nome é Puck, é um prazer conhecer você."

Logo, parou de voar em círculos e voltou a parar em frente ao rosto dele, que ainda parecia sem reação.

"Você já sabe meu nome, não acho que precise me apresentar novamente, não é?"

Puck acenou com a cabeça em forma de resposta a pergunta. Mesmo sendo um gato esquisito, seus costumes tipicamente humanos o faziam parecer um ser muito mais convencional.

Respirando fundo, o garoto controlou seu corpo para tremer menos e decidiu conversar com o gato estranhamente fofo que estava em sua frente. Seus olhos estavam admirados naquele gato, não exatamente por sua aparência, mas pela impressão divertida que ele deixava ao voar e rodar em sua frente. O carisma daquele gato era o remédio perfeito para a ansiedade do garoto, pois era impossível tratar aquele gato como um ser humano distante

"O que eu fiz que a incomodou daquela forma?"

"Ah, a culpa disso não é sua, você está assustado e ela também. Quando ela encontrou você seu estado era péssimo, e só havia você lá." Disse o gato com um semblante baixo em relação aos anteriores, porém mantendo o mesmo tom de voz

"Mas, se ela estava com medo, por que me curou?"

"A índole dela não a deixaria ignorar aquilo nem se estivesse em sua maior pressa."

"Mas, como você sabe tudo isso sobre ela?"

Os dois pareciam ter se entendido bem, mas a cada frase dita a expressão dele parecia mais confusa, seu cérebro não conseguia colocar uma ordem certa para as perguntas que queria fazer. O gato por sua vez estava tranquilo e voava em círculos enquanto explicava cada detalhe com expressões e gestos, mesmo com suas pequenas patas cinzas. Voando na direção do rosto do garoto, sorriu.

"Eu sou um espírito e tenho contrato com ela. Eu vi tudo acontecer."

O alívio pareceu tomar conta, seu medo sumiu em segundos e tudo voltou ao normal, seu rosto não estava mais vermelho e a temperatura de seu corpo parecia mais fria agora. A ansiedade que apenas tinha diminuido antes se desfez totalmente enquanto sua mente pareceu voltar ao que era antes, ou até mesmo melhor do que antes.

"Você parece ter soltado todo o ar de uma vez. O que te deixou aliviado desta forma?"

Toda a confusão do garoto parecia ter passado para o gato que mostrava claramente em sua expressão uma forte dúvida, usando de caretas expressões exageradas para chamar a atenção.

"Eu não consegui ter uma conversa tão tranquila assim desde que cheguei. Por mais que pensei que fosse morrer, acho que agora me sinto mais aliviado. Conversar com um ser não humano me parece mais fácil do que um humano nesse mundo."

Ele sorriu, enquanto mostrava estar mais à vontade e despreocupado. Seu alívio era colocado para fora por meio de exercícios de respiração que ele repetia enquando mudava sua expressão para uma expressão serena e tranquila. Esses exercícios de respiração nada mais eram do que inspirar por três segundos, segurar o ar em seguida também por três segundos e por fim soltá-lo de uma vez fazendo pequenos barulhos pela boca, como se estivesse se aliviando de alguma dor.

— "Esse cara não tem malícia nenhuma." – Pensou Puck, logo após ver as ações e sentimentos do garoto à fundo.

"Pois bem…"

Voando mais alto, ele pareceu falar em tom de despedida.

"Eu tenho que voltar a ela agora, não se esqueça do meu nome, voltaremos a nos ver em breve, assim você poderá pedir desculpas a ela."

Voando em direção da entrada do beco, ele já parecia estar próximo de ir sem falar mais nada.

"Puck…" Gritou Tsuki em um forte tom de voz, o que o fez retornar no mesmo momento. "Diga a ela que eu agradeço por ela ter me curado."

Acenando novamente com a cabeça, ele retomou seu voo, indo embora dali. Com um olhar diferente de antes, Tsuki parecia mais pronto, porém ainda confuso.

"Neste mundo novo, as pessoas parecem ser mais complexas do que os espíritos…"

Sorrindo de forma espontânea, ele pareceu ter se animado com o que estava acontecendo, mesmo que não entendesse bem o que o animava naquilo. Algo queimou em seu coração, talvez até mesmo sua esperança tenha se renovado totalmente naquele momento. Logo, levantou sua cabeça em direção ao céu. Levantando seu olhar de forma firme, respirou fundo e após isso finalmente saiu daquele beco de forma lenta.

– "Minha aventura nesse mundo novo começa daqui, este é o ponto Zero da minha história"

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