20 O Escolhido

[POV JHIN]

Eu não consegui tirar muitas informações daquele cara, mesmo pressionando bastante. É claro que não iria matá-lo, apenas ameacei, e com sua intensa reclusa, o descartei em um canto por ai depois de paralisá-lo com um veneno e destruir todos os seus itens.

O que descobri foi que a guilda Eye tem atualmente cerca de oitenta membros, número impressionante se considerar que são criminosos. Se compararmos com a Axion e com a Royal, é um pouco mais de um terço de membros que as gigantes tem.

Seu líder é conhecido como "O Escolhido", e pelo visto, é adorado pelos seguidores como se fosse uma espécie de deus em AWO. Não imaginaria que o fanatismo humano entraria em prática até mesmo neste mundo de fantasia. É bizarro como sempre procuramos figuras semelhantes a nós para depositarmos a fé, mesmo que em um jogo como este seres fantásticos existam.

O Escolhido é tido como o salvador do jogo, que guiará os perdidos rumo a verdadeira história por trás de Adventure World Online, e libertará a todos do que os prendem, e lá fora, liderará os remanescentes na verdadeira batalha.

Quanta bobagem...

Como se já não bastasse toda a maluquice em que nos encontramos, ainda surge um bando de doidos que nem esses.

Era tudo que os jogadores presos menos precisavam.

Enfim, o que eu realmente queria saber era a razão de eu aparentemente estar sendo visado pela guilda Eye desde aquela época.

É muita coincidência que depois de tanto tempo eles ainda insistam em mim. Todos os meus sentidos dizem que desde o dia do lago, na primeira vez que encontrei membros dessa guilda, eu já era um alvo pra sabe se lá o que eles querem.

Eu precisava encontrar este tal "Escolhido", e pra isso, preciso da ajuda do meu amigo, que sempre tem bons contatos por ai...

Me encontrei com Jeremiah em um bar elegante de madeira e bem calmo no Território de Nível Vinte e Sete, ele estava com Mira, que tinha sempre um ar serenidade. Nós sentamos em uma mesa e pedimos três copos de uma bebida doce de morango chamada "Afrodite".

É, eu sei que é errado nós bebermos álcool, ainda mais esses dois pirralhos, mas fazer o quê? É um jogo, nossos corpos de verdade não estão sendo afetados, então acho que não tem problema.

- Seus drinks de Afrodite, senhores, obrigada – a garçonete NPC nos serviu e se retirou.

- Que bom te ver, Mira – eu disse.

- Já fazem o quê? Um mês e meio? – Ela indagou-me.

- Acho que sim. Não consegui nenhuma joia nova, além disso, soube que o Jeremiah vem sendo bem assediado, então não quis dar mais trabalho.

- Eh...?! Você descobriu sobre isso?!

- Além da Astor, muitas outras guildas ouviram sobre seus trabalhos excepcionais. Você é uma referência na forja, meu amigo, então é natural que lhe queiram como ferreiro particular.

- É...

- Por que não aceitou até agora? – Questionei-o, tendo uma breve ideia em minha mente.

- Bom isso é...

- Por acaso não é por minha causa, é?

Jeremiah me respeita demais e me admira muito, sei disso. Eu não quero que ele tome nenhuma decisão importante baseada na minha pessoa.

- N-não, isso é...!

- Querido, pare de ser infantil – Mira lhe deu uma cotovelada de leve nas costelas.

- Olha, Jeremiah, se está pensando que eu ficaria irritado no caso de você se tornar o ferreiro particular de uma guilda grande, está errado.

- Mas aí eu com certeza não poderia mais fazer trabalhos pra você, Jhin.

- Qual é, cara, não precisa disso. Eu posso me virar. Além disso, se eu pagar uma quantia, tenho certeza que me permitiriam. É o mínimo que posso fazer, já que você não me cobra um centavo.

- Ainda assim eu não quero. Quer dizer... eu não sei se sirvo pra isso. Minha arte vem da espontaneidade, não quero receber ordens dos outros e passar por burocracia. Eu te faço as coisas de graça por que confio em você, tenho esperança e também...

- Também...?

- Você me dá muita experiência... – ele sussurrou de lado, o que me arrancou uma boa gargalhada. – M-mas enfim... o que queria saber?

- Eu sei que chamei vocês dois, mas meu objetivo hoje é a Mira.

- H-hm...? Eu...?

- Você é uma Invocadora, não é?

- Sim.

- Por ser uma classe extremamente difícil de se lidar, há apenas alguns destes. Agora, não há ninguém de confiança que eu conheço que seja um Invocador a não ser você, Mira.

- Acho que tem razão – ela concordou.

- Poderia me ajudar? Eu te peço, por favor...

- É claro, Jhin, pode me dizer.

Do meu inventário, retirei a kris que o membro da Eye utilizava; a pequena lâmina ondulada brilhou com a luz do bar, e Jeremiah imediatamente bateu o olho, interessado. Ele analisou o objeto e comentou:

- Hm...? Uma kris? É básica, mas é uma arma especial para alguns tipos de assassinos. Fácil de usar, leve e também prática.

- É isso aí. Essa kris era de um membro da guilda Eye.

- Eye?! – Eles exclamaram.

- Como eu já disse no nosso último encontro, acho que estão, por algum motivo, me caçando.

- Tem certeza disso, Jhin? – Mira perguntou, chocada.

- Quase cem por cento... O fato é que já fui alvo mais que uma ou duas vezes, isso por si só é bem suspeito.

- E o que quer que eu faça?

- Você possui algum tipo de espírito que possa detectar quem fez um objeto? – Indaguei.

- Detectar...? – Ela segurou o queixo e olhou fixamente para a mesa, pensando. – Hm... pra falar a verdade, talvez eu tenha algo. Há um que... não é exatamente detectar quem o criou, mas... ele pode achar qual foi o local de "nascimento" deste objeto

- Local de nascimento?

- Deixa que eu simplifico pra ele, querida – sugeriu Jeremiah, gentilmente. Ele me explicou: - Basicamente, você não pode saber quem criou, isso é se foi criada por uma pessoa, no entanto pode-se descobrir onde foi que o item apareceu pela primeira vez.

- Interessante. Talvez seja uma boa opção – conclui.

- Eu imagino que queria fazer umas perguntas se achar um vendedor de arma que trabalha para a Eye – supôs Jeremiah.

- Exato.

- Hmmm... – Mira apoiou o indicador no lábio inferior. – Tá! Ficarei feliz em te ajudar.

- Isso é incrível! Obrigado – agradeci.

- Faremos isso amanhã? – Perguntou Jeremiah.

- Sim, por favor – respondi.

Invocadores podem ser bem úteis em determinado tipo de situação, no entanto, eles raramente irão para o campo de batalha, pois são como magos mais frágeis, pois como é preciso ter muitos pontos em Espiritualidade, eles são ainda piores no combate, salvo, talvez, por raras exceções.

Até agora não se descobriu uma estratégia para encaixar um Invocador na brigada, por isso eles nunca vão na luta contra um chefe. No entanto, foi se descobrindo aos poucos que na verdade é uma classe extremamente útil...

Enfim, nós combinamos de nos encontrar na manhã do dia seguinte.

Vou descobrir quem é o tal "Escolhido", custe o que custar.

avataravatar
Next chapter