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05. Você pode me roubar quando quiser...

(Passado)

Eu odiava sair de sala na hora do intervalo mesmo que tivesse feito isso no dia anterior. Fui por Agnes ter perguntado se poderia ficar comigo nesse horário e não queria parecer chata, também porque minha amiga, Bridget, iria ficar bem puta se eu não fosse ao menos no primeiro dia para fora de sala. Bridget sempre foi animada demais para mim. Minha mãe sempre diz que eu parecia uma velha, eu discordo, às vezes pareço mais uma criancinha.

— Nem acredito que vou ficar sozinha esse ano, já que a Agatha se formou. — Bridget fez um maldito drama e não poupei a verdade:

— Até parece! Você pode sentar com quem quiser, todos querem ficar perto de você, só não é mais popular porque não quer.

Bridget ficava lamentando por nada pois a maioria da escola conhecia ela. Era bonita, simpática e inteligente (pelo menos é o que parece quando está com os óculos para leitura, com certeza ela ia ficar bem brava se soubesse que brinco sobre isso). Na primeira vez que vi Bridget lembro de pensar: 'Uau, ela é linda! E alta também, como nunca reparei nela antes?!' No primeiro ano nós conversamos bem pouco em consideração do quanto seríamos amigas depois.

— Oi! — Agnes praticamente pulou na minha frente dois dias depois que nos conhecemos.

— Oi.

— Eu te procurei ontem, mas não te achei na hora do intervalo.

Estava dentro de sala, meu bem! A senhorita não estava em lugar algum anteontem quando te procurei, então desisti.

Se eu fiquei surpresa por ela ter me procurado? Bastante. Ninguém me procurava, a não ser Bridget ou alguém iludido achando que eu era inteligente. Bridget Alanis pareceu acordar que eu não estava ao seu lado e voltou para me acompanhar, mas notando que eu estava conversando, então não se meteu. Olhei para Agnes tirando os fones do ouvido e mexendo entre os dedos, na altura de sua barriga.

— Eu faltei anteontem por isso não te procurei, minha irmã estava doente e fiquei em casa com ela. — Ela insistiu em falar mais, já que a minha boca estava ocupada demais sendo impedida pelo meu cérebro me fazia imaginar situações onde Agnes poderia ser mais fofa com aquele fone entre os dedos.

— Camila, vamos logo!

Bridget Alanis deu um empurrão no meu ombro, mas que para ela foi apenas um toque leve.

— Eu fico dentro de sala, só aquele dia e hoje que saí mesmo, não gosto muito dessa zoeira de adolescentes cheios de hormônios. — Agnes riu, segurando a vontade de perguntar se eu tinha mais de 40 anos ao usar o termo: adolescentes cheios de hormônios. Sei que ela estava se segurando.

— Bridget, eu não quero ir mais, vou voltar para sala.

Bridget ficou irritada (e também decepcionada) mesmo que soubesse que eu não estava muito animada para ir antes e agora estava lhe trocando por Agnes. Sei que a Velazco ficou feliz quando Bridget marchou após um irritado "ok" sair de sua boca. Fiquei decepcionada comigo mesma porque sempre abominei o tipo de pessoa que deixava os amigos como se a vida dependesse apenas de quem lhe beijava a boca. Ainda mais que eu nem beijava Agnes, ainda.

— Que música você estava escutando?

— Vance Joy.

— Eu nunca ouvi falar dele. — Sorri quase sem graça, o jeito forçado de quando você não sabe como sair de perto da pessoa. — Nós podemos falar mais tarde? Sobre música... Eu tenho que ir para sala.

Seu sorriso alegre por eu ter de deixar Bridget ir sozinha, deu lugar a lábios franzidos que nem podiam ser chamados de sorriso. Se eu não poderia ir com Bridget, não seria justo ficar com Agnes também. Ela mal havia chegado, não é marca nova de chocolate que vai me fazer trocar meu bombom polinésio.

— Podemos sim. — Agnes confirmou, parecendo mais contente pelo que falei. — Você não sai nos intervalos?

— Só em caso de vida ou morte. — Brinquei, mesmo sendo quase isso.

— Tudo bem, então nos falamos mais tarde.

— Ok, até mais tarde.

— Até. — Respondeu e posso jurar ter escutado, ou posso apenas ter criado a ilusão de escutar Agnes falar: Vou ter que conseguir a grade de horário dessa garota.

Olhei para trás algumas vezes sentindo o olhar dela em mim e fazendo o desconforto reinar. Como uma boa jovem meu corpo não me satisfazia, o cabelo até que não tinha nada contra. Só que me irritava ela ficar encarando.

Para de olhar, Agnes! Não posso nem tirar a calcinha que está no lugar indesejado...

Agnes estava me olhando, mas ainda assim eu não sabia sobre sua orientação. Não era de duvidar da minha desconfiança sobre a sexualidade dela, sempre gostei das garotas que expressavam feminilidade e sabe a merda que isso é? Essas garotas quase sempre são heterossexuais! Esquecendo esse papo, olhei para trás uma última vez para trás. Agnes ainda olhava, ela acenou e eu mexi a cabeça antes de me apressar, além de todos os defeitos já mostrados sou uma puta medrosa.

Alguns meses depois que as aulas começaram, ou seja, quando conheci Agnes... Nós estávamos em uma festa na minha vizinhança mesmo, não me questione sobre os métodos de Bridget Alanis para me tirar de casa, já que em circunstâncias normais nada me faria sair, muito menos para um local cheio de adolescentes. Lembro muito bem de como aquela noite aconteceu. Eu fui deixada de lado por Bridget em algum momento porque eu queria ficar sentada e ela não. Minhas pernas sempre foram são muito frágeis, caramba!

Agnes chegou animada, ela sabia que eu iria porque foi isso que Bridget usou como argumento para convencer ambas, por alguma razão minha amiga sabia que Agnes Velazco era o meu ponto fraco. Agnes Velazco nem me chamou para dançar, apenas sentou ao meu lado e puxou papo, falando mais do que me deixando falar, eu não reclamava, gostava de seu papo descontraído.

Meu estômago estava cada vez mais gelado de nervosismo e meu coração disparado, Agnes tinha passado seu braço ao redor dos meus ombros e quando falava seu hálito, cheirando a bala, batia na lateral do meu rosto e se eu virasse totalmente nossos rostos ficariam há centímetros.

— Vamos dar uma volta, Camila? — Toda vez que ela falava 'Camila' eu ficava vermelha, por alguma razão esse apelido tinha um efeito sobre meu corpo estúpido.

A verdade era eu preferia ficar sentada ali, mas fui por ela. Agnes pegou minha mão e me levou para fora da casa. Nós andamos um pouco e sentamos na grama, na lateral da casa, não havia mais que duas pessoas lá e as pessoas em questão pareciam estar desmaiadas de tanto beber.

— Você quer ir comigo na Competição no dia de Ação de Graças? — em algum momento ela tinha se encostando em meu ombro, enquanto eu estava jogada na grama, estava até gostando do local por me fazer respirar melhor.

— Claro, posso te encontrar lá na barraca de cachorro quente? — A verdade é que todo ano eu era obrigada a ir nessa competição, minha mãe fazia tortas para competir, e até então ganhava todos os anos, aquela era a coisa mais ridícula do ano!

— Com certeza!

— Vou gastar todo meu dinheiro naquela barraca! — Brinquei e Agnes acabou empurrando meu ombro. — Você que se cuide, que posso ter que te roubar...

— Eu deixo você roubar, — Agnes sorri e se aproxima rápido demais do meu rosto e me beija, nada demais para ela que é um furacão, apenas um selinho. Por sorte nem tudo dependia de mim, Agnes era bem mais audaciosa que eu — mas não só meu dinheiro.

Agnes acrescentou, ela se afastou um pouco, para olhar minha reação. Fiquei assustada, mas não surtei então estava tudo bem.

— Você pode me roubar quando quiser...