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File 001-Nada Aqui Existe, Nem Mesmo Eu

40 Andares... é tão alto, tão alto que não consigo contar quantos pés dão, quantos centímetros e muito menos os milímetros, o quanto de energia elétrica que esse escritório(que eu entrei escondido pra pegar um ventinho massa) gasta, quantos pequenos negócios tem aqui, pequenas lojas de roupas, lojas de artigos religiosos, até algumas ilegais provavelmente, e tudo isso, bem no meio da maior metrópole já vista... pelo menos é oque meu pai diz, foi ele que me apresentou esse lugar, ele dizia que vários dos momentos mais importantes de sua vida aconteceram aqui, seria engraçado se algum dia eu soubesse como ele conheceu esse lugar, e se também fosse seu pai(vulgo meu vovô) que tivesse apresentado a ele, como ele conheceu esse lugar? será que ele trabalhou aqui? ajudou na construção? bom, infelizmente nunca saberei nenhuma dessas suposições, ambos faleceram já, não que eu... realmente me importe com isso, meu pai era um bêbado de carteirinha e sempre deixava eu e minha mãe sozinhas nas noites de fim de semana, tanto que ele morreu de cirrose, ele me batia também... e batia na minha mãe... ele não era ninguém exemplar...

Mas ao menos ele me mostrou esse lugar, daqui, posso ver tudo que acontece aqui sem me preocupar no dia de amanhã, parece que o tempo para aqui, olhar essas multidões, esses carros baratos, que mesmo daqui de cima seu cheiro de gasolina ecoa, é gostosa a sensação de ficar aqui em cima, uma sensação momentânea de superioridade, mesmo sabendo que não trabalho, não tenho filhos, não estudo, e nem menos tenho qualquer tipo de mérito social, a altura da essa impressão.

-Da mesmo garotinha. Um homem de 2.30 de altura, peso pesado ,e com um terno apertadinho, diz a mim, enquanto se aproxima estalando seus dedos, convenientemente nesse momento, "alguém cai da terra", de cem milhas de distancia e de alguma forma, com um corpo metálico e o dobro da altura do Homem(eu fiz as contas de cabeça e fiz dois carinhas de peso pesado um encima do outro, e deu a altura do bichano metálico)

O Rapaz de terno apertadinho tenta contra atacar o bichano metálico, com um tosquissimo pulinho com o punho erguido, e é lançado para longe por aquilo.

Uma voz aparentemente vindo do além, profere as palavras -Você me deve uma, gracinha. que não veem do além, e sim de trás do bichano metálico, um garotinho de 1.30 mau e porcamente escondido.

O Garotinho sai de seu esconderijo e se demonstra ter menos que 1.30, mas não tinha uma régua para medir ele no momento, segurando a risada, digo - Wow, um anão, não acha que um gunpla seria mais ideal para seu tamanho?

Ele, com olhos enfurecidos parecendo um pincher, rebate minha fala dizendo - E porque você não vai pilotar o fogão sua vADIa FEIA???

-Isso...Não foi legal

-A Brincadeira que faremos na cama seria muuuito mais. Com falas extremamente retrogradas e machistas, esse rapaz puxa meu fino braço e me dá uma injeção verde extremamente nojenta, parecendo algo do devianart, e me desacOOOOrda(sim, eu estou falando com você enquanto estou desacordada, PANACA!)

Enquanto minha mente começa a voltar ao normal, escuto algumas vozes da cabine do que, aparentemente é uma van, tirando risadas ,elas pareciam um sussurro, sabe, quando alguém sussurra mas fala mais alto se ele tivesse falando em um tom de voz normal? basicamente isso, e pra ajudar, minha mente ainda estava dormente, então escutei pouquíssimas coisas, -Eu falei pra você contratar ela de um jeito normal, idiota. foram alguns fragmentos de falas que eu escutei, aparentemente meu sequestro não foi intencional, engraçado.

-Eu acho que essa retardada acordou. Mais e mais ofensas vinda do senhor microtoy, nunca lavou a boca aparentemente.

Mais alguns metros de trajeto, e infelizmente, chegamos em algum lugar... da grande metrópole de nome desconhecido, o lugar fedia.

Consigo escutar outra voz, sem ser a do microtoy,-Leva a garota pro quarto de cirurgia lá. essa era bem mais grossa e respeitosa também, como um garçom de algum restaurante de alto padrão da nossa estruturada sociedade, um restaurante que cobra 200 reais pra um prato que sua mãe que fez um curso de gastronomia vegana no SENAI consegue fazer melhor.

Enquanto sou transportada para o tal quarto para me "acordar" consigo abrir os olhos por alguns relapsos de segundo, porem consigo ver apenas algumas luzes neon de cor verde, como uma boate clandestina, pensamentos rodeiam em minha pequena cabecinha, até que chegasse ao quarto, não poderia me mexer de forma nenhuma.

Cada passo que escutava daquela escada me deixava mais apreensiva e com medo do próximo passo, "será que chegaria viva até lá? coisas ruins aconteceriam comigo?" perguntas mundanas, mas até mesmo se o pior acontecesse, pessoas continuariam matando, crimes continuariam acontecendo, a pobreza, a aids, os ruivos, tudo continuaria em nossa terra, até a nossa lenta e dolorosa extinção, -Ela tem um belo bundão. Uma voz máscula e forte diz, seria meu cavalheiro com branco nas narinas? não sei...

Depois de segundos que pareciam durar minutos que duravam aparentemente algumas horas, chegamos a tal sala, como o padrão do lugar, ela fedia bastante, mas parecia ter um cheirinho nela pra amenizar, um cheirinho vencido, mas um cheirinho. O Homem com a voz respeitosa citado a algumas linhas acima, me deixa na maca com todo o cuidado do mundo, mãos de veludo aparentemente, e finalmente, meu corpinho de 1.60 de altura esta deitada, pronta para descansar com meu conscientemento.

Alguns barulhos metálicos eu consigo escutar, não sei de qual dos homens ele vem(sei diferenciar vozes, não barulhos) eles eram relativamente semelhantes com alguns sons que se via em estoques de super mercado, onde trabalhei por alguns poucos meses, mais um dos trabalhos que não consegui manter, por conta dos meus distúrbios crônicos, sabe, autismo, défice de atenção e essas coisas normais de pessoas especiais, como meus professores me chamavam, comecei a pensar que tudo isso poderia ser um devaneio de minha mente problemática e que tudo isso não passasse de um delírio meu, mas eu não sei se seria tão criativa pra bolar um sequestro tão maluco assim, "um anão e um robô de aço me sequestraram com uma seringa verde" me parece japonês demais isso.

...Bem silencioso aqui, depois daqueles poucos barulhos metálicos, eu não escutei mais... nada, nem o microtoy, nenhuma voz, nenhum cavalheiro elogiando meu rabetão... nada, foi tão repentino que fiquei preocupada, muito preocupada, tão preocupada que minha preocupação começou a preocupar a própria preocupação, então, eu resolvi abrir meus olhos.

Diante de mim, á exatamente oque você espera, um corredor... Deveras escuro, eu enxergo seu fim, mas não consigo ver onde vai chegar, não sei como fui parar de uma boate clandestina pra isso aqui, mas bom, apenas andando descobrirei oque me espera.

O Tempo passa devagar por aqui, ou parece passar devagar, eu não sinto fome, nem frio, nem sede, nem meu corpo eu sinto, parece que estou voando enquanto caminho, ou caminhando enquanto voo(oque é muito mais legal) como um fantasma mesmo...F-F-Fantasma? Será que eu... morri? Não seria impossível pensar nessa hipótese, já que eu, uma bela madame foi sequestrada por um anão e um cavalheiro branco que elogiou minhas proporções de vênus, vai que na verdade não era uma boate e sim um açougue de carne humana? Hipóteses e hipóteses começam a surgir em minha cabeça, enquanto eu apenas ando, ando e ando, nenhuma mudança de terreno acontece, nem o fim parece mais perto, eu consigo ver onde isso termina, mas parece que cada vez o objetivo se distancia, como um...Sonho.

Cada passo se torna mais lento e me sinto cada vez mais incapaz de seguir, minhas pernas começam a parar de querer andar, e não, eu não sinto mais meu corpo nesse momento, mas eu conseguia mover meus membros, agora nem isso eu consigo, as partes do meu corpo se cansam mas meu cérebro não consegue processar isso... Pelo que aparenta, minha mãe era médica e ela me falou algumas coisas sobre isso, ,mas eu não me lembro muito sobre ela também.

-Ei, Shiu, Aqui. Uma voz fina eu consigo escutar, ainda mais fina que a do microtoy, mas não tenho nenhum sinal de onde ela vem, e como não consigo me mexer, acho que pode ser algum delírio ou algo assim, tipo, não tem como alguém aparecer aqui agor-

-Você não consegue se levantar? Sim... algo apareceu, desse ângulo desconfortável que eu estou, consigo ver apenas seu braço, com um tom de pele bastante claro, claro até demais.

-Nem falar você consegue? Ao menos olhe pra mim! Essa voz diz para mim, por conta da paralisia dos membros do meu corpo, eu não consigo me mexer, apenas tento emitir um som pela minha boca, que se parece com um grunhido, mas tão baixo, que provavelmente ele não escutou.

-Ainda esta viva! Esse retardadinho conseguiu escutar.

Ele me pega no colo com uma força de mil homens, bastante fortinho para seu tamanho aparente, eu sinto que estou a 3 mãos do chão, quase com um carro rebaixado, realmente baixo, mas não consigo velo, nem escuta-lo, ele parou de falar depois que me pegou no colo, escuto seus passos e alguns barulhos que demonstram a força que ele esta fazendo, que não consigo colocar neste documento, e não me pergunte como eu escrevo enquanto estou sem os movimentos do corpo.

-Você é pesada...droga....Muito pesada. Nunca tinham me chamado de gorda antes, eu xingaria ele se eu conseguisse, apenas alguns grunhidos eu consigo expelir de meus lábios(bonito esse termo não?) grunhidos um pouco mais baixos do que os da ultima vez.

-Desculpa desculpa, não quis chamar você de gorda ou algo do tipo. Nem eu consigo escutar oque eu falo, mas esse carinha consegue, oque faz parecer cada vez mais que ele não existe.

Ele vira para dentro da parede e consegue atravessar ela, algo que jamais eu pensaria em fazer, provavelmente todas as paredes aqui são assim, tentei não encostar nelas por medo de morrer ou algo parecido, eu nunca fui para um lugar assim, tudo pode ser uma ameaça, como propriamente nas ruas, até mesmo um buraco pode ser mortal, eu lembro que na minha escola uma vez, um garoto morreu porque encostou em uma arvore e ela expeliu espinhos nele, oque fez alguns irem no coração e nos pulmões, oque levou ele a morte, eu nunca tinha conversado com ele ou algo do tipo, mas fiquei abalada ainda sim, lembro que tiveram pessoas que fizeram piadas sobre esse assunto na sala de aula, o garoto era bem sozinho então ninguém exatamente sentiu falta dele, fazer oque, é assim que o ambiente escolar funciona.

-Chegamos Garotinha. Ele falou depois de muito tempo, sua voz parecia cansada e bastante ofegante, realmente meu peso deve ser maior do que parece, eu ainda fico estática, sem conseguir mexer um musculo, ele abre minha boca com suas mãos e ingere um copo de algum liquido branco viscoso dentro de minha boca, era um leite, nada de pervertido ou algo assim, mas um leite apodrecido, com algum remédio, que me fez pegar em outro sono profundo, mais e mais profundo, se da outra vez eu conseguia escutar as vozes dos 2 fanfarrões que me sequestraram, dessa vez nem isso, apenas alguns flashes de luz vermelha, seriam esse meus últimos estantes de vida?

Contra minhas expectativas(e minhas vontades) abri meus olhos e apareci em outro local, outro corredor, mas agora branco e com pinturas abstratas nas paredes, de cima a baixo, como um museu... Eu acho, nunca fui em um museu, uma luz bem forte eu conseguia enxergar também, e ESCADAS! Finalmente uma variação de terreno, até me mexer normalmente eu conseguia, feliz como nunca, desci elas, e não tinha...Nada de muito interessante, apenas outro corredor com outras pinturas abstratas nas paredes, mas agora tinha no teto e no chão.

Me encontro solitária novamente, não sei se isso seria bom ou ruim, mas sigo, sigo novamente em corredores repetitivos, cada vez as pinturas começam a ficar mais e mais intensas, preenchendo totalmente as paredes brancas e luminosas e virando apenas rabiscos de cores variadas, ainda sim luminosas, novamente, aqueles pensamentos paranoicos(nos quais não tinha citado antes nesse texto) começam a aparecer em minha mente, nem meus fones de ouvido eu tinha para escutar minhas musicas esquisitas, então, eu resolvi sentar....

Sim, sentar, simplesmente sentar, sentar encima daquelas pinturas abstratas sem muito sentido e estranhamente luminosas, a esperança de sair ja tinha evadido em minha mente, eu apenas aceitei que aqueles seriam meus últimos momentos.

.....Nem um cavalheiro branco ou uma criança estavam por aqui, apenas a mais simples definição de solidão, provavelmente o sentimento que mais senti nessa longa aventura, e tudo isso por causa de uma pessoa extremamente pequena.

Começo a pensar em solos de Shoegaze, mas por causa das memorias meio nebulosas que essa aventura me fez ter, nem solos de guitarra eu conseguia imaginar, nem mesmo uma VOZ! EU tinha esquecido minha voz e... até mesmo meu rosto eu conseguiria sim falar a qualquer momento, mas eu gastaria energia, hipoteticamente, ja que meus sentidos não funcionavam mais(como dito anteriormente), mas o meu rosto ja seria mais dificil de me relembrar, ja que em todo esse relato, não o citei nenhuma vez, só citei quando elogiaram meu traseiro, mas isso seria meu corpo, não meu rosto.

-PLOFT. Misteriosamente, cai uma câmera digital encima de minha cabeça, bastante antiga, e com uma resolução deveras baixa, mas melhor que nada, viro ela para meu rosto, e faço a pose com o sinalzinho da paz e um sorrisinho de canto de boca, e tiro uma foto, um barulho bem alto é emitido pela câmera, e a foto começa a sair, lentamente pelo filme fotográfico, oque na verdade diz que essa não é uma câmera digital, mas esqueci meu corretivo no outro corredor.

FINALMENTE! Eu consigo ver meu rosto, ele é bem... normal, nariz pequeno, olhos pequenos, pele clara e um cabelo deveras bagunçado, na foto tambem tem uma...Uma sombra? Aparentemente tem uma sombra aqui, olhando para a lente desta câmera junto comigo, eu viro lentamente para trás e...

-Olá, perdida por aqui também? UM HOMEM APARECE, OUTRO HOMEM!!! Com uma aparência bastante normal, tirando seus cabelos roxos espetados que faziam ele parecer um personagem de algum JRPG.

Retribuo seu "Olá" Repetindo exatamente as suas falas, apenas reforçando a ideia de que eu também estou perdida aqui, então ficaria mais ou menos -Olá, eu estou perdida aqui também. Bastante patético, Gaguejei toda falando isso, será que ele vai me odiar agora?

-Que conhecidência não? Duas pessoas aqui, perdidas nestes murais coloridos, estranhamente e bastante luminosos. Eu gostei dele, apenas por essas palavras.

-SIM SIM!!! VoCê TEm RAZÃO!!! BasTaNtE eSTRANHO SIM!!! Eu digo isso... Foi provavelmente o começo de conversa mais patético que eu já tive.

-....- Ele fica quieto..... E Eu tambem.

Seguimos juntos de mãos dadas, novamente até as escadarias, sem trocarmos uma palavra, subimos as escadas, e seguimos o corredor, encontramos algumas portas, mas ele ignora todas elas e só segue para frente, sendo um pouco rude até, apertando minha mão mais forte quando eu tento entrar nas portas