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Hydra

Em uma noite fria e estrelada em Marselha, no ano de 2028, a cidade portuária estava silenciosa, exceto pelo distante som de contêineres metálicos sendo meticulosamente empilhados.

Alice Angelle, conhecida no submundo pelo codinome 'Raven', observava com olhos de águia o movimento no porto. Vestida com um traje de combate preto que abraçava sua forma atlética, ela se misturava com as sombras, quase indistinguível dos contêineres ao seu redor. Seu rosto era uma máscara de concentração, seus pensamentos focados unicamente na missão.

"Specter, confirme a localização mais uma vez," ela sussurrou no microfone oculto sob a gola de sua roupa.

"Positivo, Raven. O alvo chegará em exatos dois minutos. Prepare-se," respondeu uma voz masculina, calma e controlada, através do comunicador em seu ouvido.

Ela não era uma simples mercenária; ela era uma lenda entre aqueles que viviam nas sombras, uma mulher que transformava o impossível em possível, tudo pelo preço certo. E essa noite prometia ser lucrativa.

"Raven, eles chegaram," a voz de Specter interrompeu seus pensamentos. Ela ergueu o olhar, notando uma caravana de carros pretos, elegantes e silenciosos, aproximando-se do cargueiro. A escuridão era sua aliada, permitindo-lhe observar sem ser vista.

"Certo. Viper, você tem visão do pacote?" ela perguntou, sua voz tão fria quanto o ar da noite.

"Pacote confirmado. Uma maleta prateada algemada ao pulso de um dos homens de terno. Seis guarda-costas, armados até os dentes, e duas figuras enigmáticas, um homem e uma mulher, ainda não identificados. Eles estão trocando a maleta por dois caixotes selados. A visão está obstruída," relatou outra voz, esta com um tom de seriedade que contrastava com a brisa marítima.

"Specter," chamou Raven, sua voz agora impaciente.

"Sim, chefe. Estou conectando à câmera de Viper. Preciso de cinco minutos para rodar o algoritmo de reconhecimento facial nos desconhecidos."

Specter, o gênio da computação e hacker prodígio de apenas vinte e três anos, era os olhos eletrônicos do esquadrão. Sua habilidade em navegar pelo ciberespaço era lendária, tendo extorquido magnatas e violado sistemas bancários com uma facilidade que beirava o sobrenatural. Sua cabeça estava a prêmio há três anos, desde que um empresário alemão, uma de suas vítimas, contratou Raven para capturá-lo. Ela o encontrou escondido em uma pequena vila, mas, em vez de entregá-lo, ficou impressionada com seu talento e o recrutou para sua equipe.

"Apresse-se, Specter. Eles estão embarcando no cargueiro. Viper, preciso de cobertura; estou avançando," ordenou Raven, já se movendo com a graça de uma pantera.

"Deixa comigo, chefe," respondeu Viper, o atirador de elite do esquadrão. Aos vinte e seis anos, ele era o segundo em comando, um homem cuja habilidade com rifles era inigualável. Treinado desde a infância, sua precisão era a chave para o sucesso de muitas operações.

Raven avançou, deslizando entre as sombras projetadas pelos contêineres. Armada apenas com uma pistola Glock 17 9mm, uma granada de fumaça e suas habilidades mortais em artes marciais, ela era uma força a ser reconhecida.

"Continue reto e vire à esquerda," instruiu Viper, sua voz um guia constante em seu ouvido.

Ela correu silenciosamente, seus passos um sussurro contra o concreto, até que uma voz a surpreendeu.

"Ei!" exclamou um guarda noturno, iluminando-a com sua lanterna. O choque em seu rosto era evidente, e ele rapidamente sacou um cassetete de seu cinto.

"Sério, Viper?" ela murmurou, desapontada com a falha de seu companheiro.

"Desculpe, chefe. Erro meu," ele respondeu, sua voz tensa.

Com um movimento fluido, Raven chutou o cassetete para longe, desarmando o guarda. Voltando a si, ele correu em direção a ela, agarrando-a pelo tronco. Raven percebendo estar presa, desferiu alguns tapas no lado direito do rosto dele, próximo ao ouvido, o fazendo perder o equilíbrio momentaneamente. Não parando por ai, ela inseriu seus dois polegares em seus olhos, o afastando para longe dela.

"Eu estou com um pouco de pressa aqui" Ela disse, fechando a mão em um punho e o socando na traqueia, e logo em seguida levantando seu joelho, o chutando nos testículos.

"Uuh, podia ter evitado essa última parte" Viper retrucou.

O guarda em dor e agonia, caiu no chão, se revirando de um lado para o outro. Raven sabia que não poderia perder tempo agora, então o deixou lá e seguiu seu caminho de volta ao cargueiro.

***

A escuridão era sua aliada, permitindo-lhe fundir-se com o ambiente enquanto ela alcançava os carros pretos estacionados estrategicamente. Ela vasculhou a área com seus olhos treinados, procurando pelo alvo que deveria estar ali, mas encontrou apenas o vazio.

"Viper, onde eles estão?" ela sussurrou no comunicador.

"Eu os perdi," admitiu Viper, a derrota evidente em seu tom.

"Droga. Tudo bem, eu estou indo conferir os caixotes," disse Raven, sua determinação inabalável enquanto ela se aproximava dos caixotes solitários.

Ela avançou lentamente, sua Glock 17 9mm um peso confortável em suas mãos. O silêncio era ensurdecedor, apenas o som distante das ondas quebrando contra o cais preenchia o ar.

"Estou aqui, vou abrir," anunciou Raven, sua voz baixa enquanto ela se inclinava sobre a tampa do caixote. Com um esforço concentrado, ela a levantou, revelando o conteúdo oculto.

"Chefe! Eu descobri quem são aqueles dois! Você prec... sa... go..." a voz de Specter irrompeu através do comunicador, mas a conexão estava falhando, as palavras se perdendo em estática.

Raven não podia esperar. A missão tinha que ser concluída. Ela continuou a abrir a tampa, revelando apenas peixes, mas ela sabia que não poderia der apenas aquilo. Com um movimento decidido, ela derrubou o caixote, espalhando os peixes e expondo pacotes embrulhados em papel verde, cada um marcado com o símbolo inconfundível de uma boca de serpente.

"Hydra!" ela sussurrou, surpresa e reconhecimento brilhando em seus olhos.

No momento em que ela processou a descoberta, a comunicação com Specter clareou abruptamente.

"São a tríade! Chefe, saia daí agora, eles estão atrás de você!"

Raven girou nos calcanhares, apenas para se deparar com uma mulher asiática de cabelos negros como a noite, presos em uma trança elegante. A lâmina de uma faca militar brilhava perigosamente perto de seu rosto, e Raven sentiu o calor de um corte superficial formando-se em sua bochecha.

Antes que ela pudesse reagir, um disparo retumbante soou ao longe, e o sangue quente espirrou em seu rosto. Viper havia atingido a vadia no ombro.

"Porra! Como ela desviou daquilo!?" a voz exasperada de Viper explodiu no comunicador.

Raven não perdeu a oportunidade. Ela girou, agarrou um dos pacotes e correu de volta para a cobertura dos carros pretos, apenas para ser recebida por uma saraivada de tiros de submetralhadoras. Os guarda-costas que ela havia visto antes abriram fogo, mas Viper, posicionado no prédio do outro lado do porto, tinha uma visão clara e respondia com tiros precisos.

"Specter! Me tira daqui!" Raven gritou, sua voz cortando o caos.

"Para já, chefia!" a resposta veio rápida e confiante.

Um drone de porte médio zumbia acima, mapeando uma rota de fuga. Era Specter quem o controlava, operando a partir de um furgão de limpeza estacionado perto do prédio onde Viper estava posicionado. O interior do furgão parecia saído de um filme de espionagem, com vários computadores e laptops abertos, luzes piscando e telas exibindo dados críticos.

"Chefe, tive uma ideia! Entre em um desses carros!" Specter instruiu, e Raven, confiando em seu companheiro de equipe, fez exatamente isso.

O carro ganhou vida por conta própria, o motor rugindo enquanto acelerava rapidamente.

"Não deixem ela fugir!" um dos homens gritou, disparando contra o veículo em movimento.

Com Specter no controle, o carro disparou em direção à saída, deixando o porto - e o perigo - para trás.

"Chefe, preciso que pegue no volante, alguns caras nos encontraram," Specter alertou, observando vários homens subindo o prédio pela janela fosca do furgão.

"Certo, não morram rapazes," Raven respondeu, assumindo o controle do veículo e acelerando em direção ao ponto de encontro marcado.

***

Viper estava posicionado no alto do edifício, com a mira telescópica alinhada à figura de uma mulher asiática. Seu dedo pairava sobre o gatilho, pronto para executar a ordem final. No entanto, antes que pudesse concluir sua missão, a voz distorcida de Specter irrompeu em seu fone de ouvido.

"Ei! Você quer morrer, cara? Estão subindo uns brutamontes aí para cima."

Tsc.

Com um clique de língua em desaprovação, Viper afastou-se da mira, guardando o rifle de precisão dentro de um estojo disfarçado de violão.

A aproximação iminente de homens armados não parecia perturbá-lo. Com movimentos metódicos, ele ajeitou o estojo em seus ombros e caminhou até a extremidade do terraço. Ali, retirou uma corda resistente de sua mochila e a fixou com segurança em uma das robustas tubulações próximas.

Bang Bang!

A porta de metal que dava acesso ao terraço estava sob ataque. Tiros incessantes buscavam romper a porta que Viper havia trancado. Não demoraria muito até que as balas a atravessassem completamente.

Certificando-se de que a corda estava bem ancorada, Viper a prendeu ao seu cinto e se aproximou cautelosamente da borda do prédio. Apesar de ser um atirador de elite, ele tinha uma aversão peculiar a alturas.

"Porra, porque tinha que ser tão alto?"

Pow!

Um estrondo anunciou a invasão. A porta cedeu, e uma enxurrada de homens armados invadiu o espaço, dispersando-se rapidamente em busca de seu alvo. Sem hesitar, Viper lançou-se no vazio, confiando na corda para sua descida vertiginosa.

"Porra, porra, porra!" ele exclamava, enquanto realizava o rapel.

Do furgão estacionado abaixo, Specter observava a cena através da janela do motorista, com uma expressão indiferente. Ele mal podia acreditar no que via.

"Esse cara é idiota?" ele se perguntava, incrédulo.

Quando Viper finalmente tocou o solo, ele correu em direção ao furgão e entrou pela porta traseira.

"Você sabe que o prédio não está concluído ainda, né?" Specter questionou, dando partida no veículo.

"E o que que tem?"

"Bom, você poderia ter descido pelo andaime ali do lado," Specter apontou para a estrutura metálica que se estendia do chão até o terraço, por onde os homens armados agora desciam.

"Você está de brincadeira comigo!?"

Specter soltou uma gargalhada, acelerando o furgão e desaparecendo da vista dos perseguidores.