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O Torneio Começa

O homem alto com uma cicatriz no rosto que carregava um martelo de guerra, estava meio infeliz com sua situação atual. Ele já havia visto Belionte em um estado parecido, e quando estava assim, essa criança costuma criar um pequeno caos.

Sempre que sentia alguém poderoso que estava mal-intencionado, Belionte parecia se tornar uma besta sanguinária, e só iria parar se fosse derrotado ou derrotasse seu oponente. O homem só parou Belionte porque um ano atrás ele estava presente quando Belionte e Victor lutaram, e Victor era o líder do pequeno grupo e ainda assim perdeu. O que aconteceria se depois de um ano de treinamento intenso, Belionte lutasse com alguém que era inferior atém mesmo ao seu oponente que foi espancado?

Belionte não notou, mas assim que esse homem chegou, todos dispersaram, das crianças aos adultos que assistiam à aula. Os guardas tentaram se aproximar, mas o homem impediu, sabendo que assim seria ainda mais difícil contornar a situação atual. Ele estava hesitando se deveria lutar com o garoto até ele cansar ou tentar conversar.

Belionte, que parecia não estar em seu perfeito juízo, já estava prestes a avançar e o homem já lançou sua mão para o cabo do martelo quando uma leve brisa soprou. Nem Belionte, nem o homem se mexeram. Agora, ao lado do homem, havia uma bela mulher de cabelos negros e olhos cor púrpura, com um casaco de pele grosso e uma bolsa de couro pendia de seu ombro esquerdo e um arco do seu ombro direito, estava ao lado do homem. Era a avó de Belionte, Bertha.

— Você me decepciona garoto. Se entregando a desejos assim? Por meras crianças e ainda se descontrolando para um aliado? — Disse Bertha com um tom levemente irritado. Belionte parecia ter voltado ao normal já que sua mana havia se acalmado e já não estava mais em posição de investida.

Belionte olhou para Bertha apenas uma vez, e em seguida olhou para o homem.

— Tio Scar- não, chefe da vila, peço perdão pela confusão e inconveniência que causei. Dou-lhe minha palavra que tentarei me controlar melhor de agora em diante. — Disse Belionte fazendo uma pequena reverência.

— Não se preocupe pequeno Bell, sei que não fez por mal! Não se atenha a isso e foque no seu cultivo que isso não vai mais se repetir. Não é mesmo madame Bertha? Hahahaha! — A voz de Scar era alta e grave, e mesmo falando amigavelmente, parecia mais um comando com uma leve ameaça.

— Isso não vai se repetir Scar, tem minha palavra. Vamos garoto, temos o que conversar. — Disse Bertha já de costas se dirigindo aos portões da vila.

— Com certeza nós temos querida avó. — Disse Belionte em um tom sério. Dando um pequeno aceno para Scar, Belionte seguiu sua avó de volta para a cabana fora da vila.

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De volta a cabana, Belionte e Bertha fizeram todo o caminho em silêncio. Enquanto Bertha tirava seu casaco e já e ia se trocar, Belionte pegou a bolsa de couro, com a carne do Cervo Glacial e já se dirigia para cozinha para prepará-la.

Durante a refeição, uma única palavra foi dita, e apenas quando ambos terminaram de comer, eles começaram a falar.

— Garoto, sei que você se deixou levar e que propositalmente perdeu o controle de si mesmo. Você acredita que isso vai te levar a algum lugar? Arriscando morrer antes do nosso objetivo? — Perguntou Bertha com um rosto sério.

— Perdi o controle propositalmente? Nosso objetivo? Avó, você sabe que sempre te respeitei e a amei como minha única parente de sangue. Mas não finja se importar ou saber sobre minhas emoções. E que objetivo é esse que temos? Nunca tive tal coisa e se agora tenho é desconhecido para mim. Tenho um objetivo oculto igual todas as outras coisas que você esconde de mim? Diga-me querida avó, qual seria o nosso objetivo. — Disse Belionte em um tom que escorria sarcasmo.

Belionte poderia ser considerado uma criança madura para sua idade, por tudo que viu e fez em seus curtos anos de vida, algumas coisas que pessoas comuns nunca veriam em toda sua existência. No entanto, ele ainda tinha apenas 12 anos e mesmo que a alma de um adulto habitasse no corpo de alguém de 12 anos, ainda estaria suscetível as emoções e desejos que um corpo impõe a mente.

Os olhos afiados de Bertha estavam fixos em Belionte e ela nem ao menos piscava, era impossível saber o que se passava em sua mente. Após longos segundos assim, ela finalmente se levantou.

— Vença o torneio. Com isso terei certeza de que a decisão que tomei não estava errada. — Disse Bertha se preparando para sair da cabana, mas Belionte interviu antes que isso acontecesse, se pondo de pé.

— Eu não sou digno da sua confiança?! Nem de saber a coisa mais básica ou mais simplória, eu tenho que ser mantido no escuro de tudo?! — Perguntou Belionte gritando. Ele estava cansado de viver sem saber de nada. Sem saber porque eles se escondiam, porque tinham que andar por tantos lugares ao redor do mundo, porque ele tinha que treinar diariamente desde que aprendeu a andar, porque era tão importante a quantidade de línguas que ele falava e principalmente, porque ele precisava sentir essa pressão envolta do pescoço, como se houvesse sempre alguém a espreita esperando para ceifar sua vida.

Bertha olhou nos dele e ela finalmente notou a angústia atrás dos olhos confiantes do garoto. Ela suspirou e pensou um pouco antes de dizer vagarosamente.

— Você está condenado garoto. Só por ter esse sangue que corre em suas veias, você nasceu condenado a morte, assim como todos da nossa família. Nossos inimigos são gigantes e você não pode nem imaginar quão grandes eles são. Você saber da verdade agora não mudará nada, você continuará sendo fraco, e eles poderosos. No entanto, você pode provar que estou errada. Lute nesse torneio, mostre-lhes que mesmo que a Tribo Águia Dourada esteja condenada a morte, ainda somos poderosos o suficiente para não nos curvamos, mostre-lhe do porquê somos temidos. — Disse Bertha e saiu da cabana silenciosamente.

Depois daquela conversa, Belionte não reclamou do treinamento ou de ter que cultivar, ele fez tudo diligentemente, até mesmo dando as aulas para as crianças da vila adequadamente. Ele precisava saber quais eram os pecados de sua família e seus erros, para tentar consertá-los. Belionte agora tinha um objetivo e não iria se desviar dele, mesmo se chovesse sangue e à terra o engolisse.

Assim, uma semana se passou e o torneio finalmente teria seu início.