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O poder do olhar

Avistei os edifícios pequenos daqui. Com uma virada rápida eu desci rapidamente em sua direção, observando o melhor lugar para pousar.

Resolvi parar um pouco afastado, uma subida onde começavam as árvores ao redor da cidade.

Tinha chance de alguém ter me visto descendo no ar, mas não me importava, não tinha uma punição governamental para mim por causa disso, não tenho compromisso com os bruxos. No máximo era melhor evitar um alvoroço.

Pulei da subida de terra e cai levemente no chão, andando calmamente até a cidade, como uma pessoa normal, tirando o fato de que eu era uma criança sozinha com um malão na mão.

Quando cheguei na entrada as pessoas imediatamente tiveram as atenções voltadas para mim, mas não reagi e continuei andando, era esperado.

Me aproximei de um homem na calçada que me olhava de forma estranha, meio desdém e meia curiosidade, era bem vestido e portava um charuto.

"Onde eu posso encontrar uma bússola aqui?" Perguntei olhando em seus olhos.

Seu corpo enrijeceu e seus olhos perderam o brilho.

"Ande três ruas indo em frente, depois vire a direita, vai passar por uma grande agência de correios, na próxima rua, terceira propriedade, estará escrito Chico Vizinho-AES." Ele respondeu roboticamente.

Comecei a fazer como disse, as pessoas ao redor que viram a conversa com o homem pareciam perturbadas de alguma forma, alguns pensamentos como "Possuído" ou "Estranho" entravam na minha mente, mesmo sem contato visual.

Minha passagem por aqui estava causando mais estranheza do que eu esperava, mas não era totalmente sem razão, realmente era estranho se você fosse um observador de fora, não saberia dos fatores e portanto veria como algo desconhecido e temeroso. Ainda mais para as pessoas dessa época, que não tinham a cabeça fundada por pensamentos lógicos e tecnologia pura, informação gratuita para todo lado.

Entretanto, quem tivesse a cabeça racional aqui estaria completamente enganado, sem noção do que realmente era.

Logo eu estava passando pela agência de correios que ele falou, então continuei até estar na terceira propriedade.

Era um lugarzinho velho, a madeira da porta faltava cair. Entrei com o som de sino tocando acima de mim, clássico.

O homem atrás do balcão era bem velho, com um rosto rabugento enquanto lia um jornal.

"O que você quer?" Ele perguntou, molenga e sem vontade.

Eu não disse nada e mexi pelo local, caçando o que queria.

Nesse meio tempo o velho ficou observando com olhos desconfiados para a minha direção.

"Se não vai comprar nada, então saia." Ele voltou a dizer.

Mas agora eu achei, a bússola nova em minha mão, refletindo o meu rosto na tampa fechada. Abri e era como se devia esperar.

A guardei no bolso da camiseta e comecei a me afastar para ir embora.

O velho, percebendo, se levantou com raiva atrás do balcão.

"Ei! Moleque! Entra, não fala nada e que ir embora?" Ele gritou, aparentemente com raiva.

Parei na porta antes de sair, com ela já entreaberta, então virei meu rosto para ele.

Nossos olhos se encontraram, ficamos quietos se encarando, até que em um momento rápido ele começou a suar profusamente, tentando abrir a boca para falar, mas engasgando no processo e cuspindo saliva para todo lado.

Ele segurou a cabeça com as duas mão e começou a resmungar de dor, balançando-a para os lados.

Ficou assim por alguns segundos, o peito arfando fortemente, até que ele colocou a mão sobre o coração.

Seus olhos começaram a virar para trás e ele se engasgou na própria saliva, caindo sobre a cadeira que estava sentado antes, se debatendo em desespero.

Lentamente seus braços começaram a cessar a força, até caírem ao seu lado, pendendo soltos.

Não tinha dinheiro comigo, acho que foi azar dele.

A essa altura eu já tinha saído de lá, estava caminhando em direção ao outro lado da cidade.

Era um local pequeno, me peguei pensando, provavelmente na mesma proporção de onde eu vivi até certa idade em minha vida anterior.

As pessoas pareciam comuns e conservadoras, frias de certa forma. Não havia aquele agradável "Bom dia", os bêbados nas ruas puxando assunto com qualquer pessoa que passava, de nenhuma forma mal caráteres, apenas pessoas fugindo da responsabilidade do mundo.

Eram medíocres, insignificantes até, era bom.

O mais engraçado é que existe maldade em todos os lugares desse mundo.

Não importa onde você fosse, encontraria do maligno.

Meus passos se tornaram mais lentos, deixei o malão encostado ao meu lado no chão.

Parei e observei a rua deserta, nem mesmo uma criança brincando na rua.

Ao meu lado um carro preto passou lentamente, a janela abaixando.

Um homem barbudo estava dentro, seus olhos me fitando.

Tinha outro no banco do passageiro.

Ele de repente fez uma sinalização com a mão para eu me aproximar.

Fiquei neutro e fiz como pediu.

"Você está perdido, amiguinho? Podemos te levar para onde você quer." Ele disse baixo.

Acenei com a cabeça simplesmente. Interiormente menosprezo sua frase, deveria melhorar.

Vendo isso, ele abriu a porta do carro meio apressado e saiu, foi para a parte de trás e abriu para mim.

Com uma mão ele agarrou meu ombro e puxou, tentando não usar muita força, mas falhando quando percebeu que não conseguia me mover.

Virei meus olhos para ele, encarando-o silenciosamente, então fui e entrei no carro, colocando o malão sobre a parte abaixo, afrente dos bancos.

Ele me olhou estranho, mas logo voltou para o banco do motorista.

Fechou o vidro novamente e apertou o acelerador, avançando em direção para fora da cidade.

"Está tudo bem? Sabe quem são seus pais?" Ele me perguntou do banco da frente.

Porém não ouviu resposta.

O outro homem ficou quieto todo o tempo.

O carro começou finalmente a se afastar da cidade, os homens se olhando com um olhar indicativo.

"Me chamo Maicon, aliás." Ele parecia tranquilo agora, diferente da postura tensa anterior.

"Você é mudo, talvez? Ou surdo..."

Ele virou em uma mata ao lado, passando por uma estradinha de terra, até que jogou o carro lentamente na mata fechada.

Sua expressão agora parecia vitoriosa, olhando a vegetação vasta em sua frente.

"Vamos parar aqui rapidinho, ok?" Ele disse.

O outro homem e ele se olharam novamente.

Como antes, sem ouvir resposta, seu olhar virou para o retrovisor interno e tentou ver o meu rosto, mas o brilho vermelho ofuscou sua visão.

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