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Morte

Eu abri meus olhos lentamente, a dor de cabeça maldita me assolava, era forte e parecia que ia estourar a qualquer momento em pontadas de dor. Eu ainda estava sobre o papelão da noite anterior que agora estava sujo de sangue e fedendo.

Meu cabelo estava desgrenhado e eu tinha arranhões e machucados por todo o corpo. Foi o pior estado que estive em minha vida, eu só poderia agradecer que ninguém me achou aqui ainda.

Eu não sabia exatamente porque estava fugindo, eu poderia dizer para a polícia qualquer desculpa sobre o que poderia ter feito Matheus perder a direção, uma distração ou algo do tipo, ou dizer que eu não sabia ao certo, que não estava prestando atenção, eles não poderiam deduzir que eu causei isso, seria uma probabilidade menor dentro de tantas.

Mas algo me dizia para fugir, eu não entendia, eu só queria fugir de perto daquelas pessoas.

Um som de madeira rangendo acima de mim me chamou a atenção.

Passos de duas pessoas diferentes. Um parecia leve e agitado, correndo ao redor do cômodo, o outro era pesado e lento, indo em direção ao passo menor.

De repente o passo menor cessou.

"Papai!" Eu ouvi uma voz feminina infantil falando entusiasticamente, foi seguido de sons de boca na pele, fazendo barulhos borbulhantes e beijos.

"Oi, minha linda, como está a pequenina do pai?" Uma voz masculina forte forçou uma voz "fofa".

A criança deu uma risada doce.

"Bem!" Eu podia imaginar ela levantando as mãos pequenas em gesto de animação.

"Venham aqui para comer, já está tudo pronto." Era uma nova voz, feminina e madura.

"Indo!" Respondeu o homem, e ele parecia levar a criança no colo já que só ouvi seus passos agora.

Uma família... meu estômago se contorcia por causa da fome, e minha cabeça doía como o inferno, minha consciência estava vaga, eu provavelmente desmaiaria em alguns minutos novamente.

Se eu ao menos pudesse experimentar essa comida... mas era idiotice, eles não simplesmente aceitariam um homem suspeito em sua casa que saiu do porão comendo em sua mesa.

"Você viu, Maria? Parece que um cara morreu aqui perto ontem, acidente de carro, bateu em um poste de luz, esses bêbados não respeitam a si mesmo." Disse o homem.

"Meu Deus, que barbaridade, fazem isso e ainda depois quem sofre é a família." Maria falou com um tom de pena.

"É, o vidro do carro que fez o trabalho, que dor, morrer assim tão repentinamente."

"Papai, o senhor vai morrer?" Perguntou a garotinha de repente.

O homem parou de falar por um momento, provavelmente assustado.

"Não se preocupe com essas coisas, querida, o papai sempre vai estar aqui para você." Ele disse por fim.

"Tudo bem, Gustavo, não fale mais sobre morte na mesa." Disse Maria.

Agora eu já estava com os olhos nublados, minha visão escurecendo até eu apagar.

Acordei novamente, mas não ouvi nenhum som mais. Minha cabeça ainda doía, provavelmente tive uma contusão, porém não me importava com isso nesse momento.

Meus instintos tomaram conta e eu resolvi arriscar dar uma espiada dentro da casa.

A porta para sair estava um pouco emperrada então tive que tomar cuidado, usei força para levantar ela ligeiramente para cima e empurrei, fez um pouco de barulho, mas eu consegui abrir o suficiente para passar.

Estava escuro, mas eu estava de frente pra janela da cozinha, com a lua refletindo a luz para dentro da casa. A pia logo a frente com uma geladeira do lado.

Não me contive, abri a geladeira e consegui pegar uma caixa de leite e uma torta embalada em plástico. Voltei rapidamente para o porão, me certificando de fechar a porta.

Comi até me fartar, ou seja, até terminar tudo.

Recuperei um pouco de energia e estava preparado para sair daqui, mas logo pelo amanhecer, já que eu teria ainda mais energia e seria mais fácil de pedir ajuda e me passar por louco sem tomar um tiro.

Então eu o fiz, acordei e estava muito melhor que no início, com os ferimentos tendo sarado um pouco, chegou o momento de ir embora.

Abri o alçapão que usei pra entrar pela primeira vez e senti a luz do dia incendiar o meu rosto. Andei mancando levemente para frente...

"O que você está fazendo aqui!?" Gritou a voz de Gustavo ao meu lado. Eu não esperava isso, ele tinha um machado nas mãos e um tronco de arvore cortado estava perto dele, servindo de apoio para outros troncos.

"Responda! Por que você saiu do meu porão?" Agora eu podia ver seu rosto, ele tinha um cabelo louro escuro curto, quase raspado, era gordo e volumoso.

"Eu-eu..." Não sabia o que responder e não conseguia formar as frases corretamente.

Nem tentei dizer mais nada quando fiz um movimento evasivo de tentar correr para o matagal, mas ele avançou contra mim balançando o machado e fui obrigado a me virar.

O machado cortou a lateral do meu estomago, mas consegui evitar um pouco o corte e agarrar o machado, lutamos para conseguir a posse do machado, até que eu dei uma joelhada na virilha dele e caí me jogando em cima de seu corpo.

Consegui pegar o machado em seu momento de fraqueza e cortei para baixo no seu pescoço, a lamina perfurou até a metade, fazendo ele agonizar de dor, desesperado.

Puxei o machado, arrancando-o e fazendo sangue esguichar em mim, o levantei para cima e cortei de novo, dessa vez no rosto do homem, e senti sua vida se esvaindo, com seus últimos movimentos de resistência cessando.

"Papai?" De repente, a garotinha chegou gritando por ele, mas parou com uma expressão de choque a alguns metros de nós enquanto olhava para o corpo de seu pai.

"Papai...?" Ela olhou para o meu rosto com raiva.

"O QUE VOCÊ FEZ COM MEU PAI??"

Eu me levantei e corri na direção dela com o machado nas mãos, ela se virou e correu, rodeando até a porta da frente, entrando pela varanda e em seguida dentro da casa.

"MÃE, MÃE, TEM UM HOMEM LÁ FORA!"

Eu entrei na casa e agarrei a garota pela garganta, e Maria apareceu na minha frente com uma expressão de puro terror.

Eu podia imaginar meu rosto nesse momento, contorcido e sujo de sangue, provavelmente a visão mais assustadora da vida dela, juntamente a sua filha agarrada por mim pelo pescoço, isso seria o suficiente para fazer ela ter um colapso mental.

Mas não aconteceu, então ela correu em minha direção com as mãos levantadas para agarrar sua filha, gritando estéricamente.

"SOLTE ELA." Eu a chutei de volta no tórax com toda a força, fazendo-a cair de bunda no chão.

Joguei a criança contra a cômoda que apoiava a TV do meu lado, fazendo-a gritar, e em seguida balancei o machado contra sua cabeça, partindo até a metade, ceifando sua vida.

Maria soltou um berro louco, um que eu nunca ouvi na vida, cheio de desespero.

Soltei o machado da cabeça da criança e fui em sua direção, agarrei ela pelos cabelos, mas ela não parecia ter muita vontade de lutar, então a levantei e cortei seu pescoço com o machado duas vezes, decapitando-a.

Eu arfei e suspirei, estava acabado.

Olhei para baixo e vi minhas tripas pendendo fora do meu corpo, provavelmente o corte que Gustavo me fez.

Cambaleei até a parede e me joguei de costas para ela, sentado, enquanto observava o estrago que causei, os corpos na minha frente, que ficavam cada vez mais difíceis de ver enquanto minha visão escurecia.

Por que será?

Eu matei todos eles. Giovanna, Matheus, Gustavo, Maria e uma criança inocente que eu nem ao menos sabia o nome.

Eu nunca entendi o porquê realmente, por que de ter feito tudo... mas eu não me importo, nada mais importava, eu estava morrendo e era um pensamento abstrato e confuso, tudo o que importa agora é se o que me espera é o abraço da escuridão eterna, ou talvez, só talvez, algo diferente...

Inicialmente era pra ser uma história feita a partir de uma brincadeira, por isso tem mais ação do que história, mas usarei como prólogo.

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