1 PRÓLOGO

Desde que meu pai, Gaio Alastor, faleceu, tenho sentido um fogo ardente no meu coração, como se estivesse às vésperas de ser reduzido a cinzas.

Meu pai era um homem robusto, musculoso e inteligente, sendo, de fato, a figura mais importante na agência de conjuradores. Ele era o temido e reverenciado Assassino de Maldições.

No entanto, força e inteligência não são nada se comparados à maldade.

Naquela noite de lua cheia, numa sexta-feira da segunda semana de outubro, onze exorcistas invadiram minha casa, todos eles armados até os dentes.

Minha mãe, Amy Alastor, uma mulher de cabelos loiros semelhantes a um minério de ouro, me abraçava fortemente no chão, enquanto meu pai nos protegia à nossa frente.

"O que está acontecendo, Padre Ludovicus?" perguntou meu pai com olhar ameaçador.

Um homem que estava no meio dos outros exorcistas disse: "Gaio Alastor, você será morto por violar as regras dos conjuradores!" proferiu o homem, por volta dos seus quarenta anos.

"Hein?! Eu não quebrei nenhuma regra!", exclamou meu pai, confuso.

"A família Alastor será punida por violar as regras! Matem-os!" O padre ergueu o braço direito.

"O que está acontecendo, Ludovicus?!" Meu pai deu um passo à frente, com um tom elevado.

"Você será punido por roubar o boneco de palha que sela o diabo!" disse o padre.

"Boneco de palha? Nem sequer encostei nisso!" Meu pai elevou novamente o tom, enquanto veias pulsavam em sua testa.

"Eliminem-nos", ordenou novamente.

Os exorcistas ergueram suas armas e avançaram. No mesmo instante, meu pai assumiu uma posição de luta e começou a atacá-los como se estivesse matando simples insetos.

Em poucos segundos, meu pai eliminou todos os dez exorcistas, restando apenas o padre.

"Amy! Pegue o Raven, estarei logo atrás!" ordenou meu pai, desferindo golpes rápidos no padre, que se esquivava.

Minha mãe me colocou em seus braços e correu em direção à saída. Meu pai pegou sua espada de cor preta, que estava apoiada na parede, e nos seguiu imediatamente.

Corríamos em direção a uma floresta quando meu pai nos alerta: "Existem vários exorcistas por aqui! Droga! Aquele maldito padre é esperto."

Meu pai empunha sua belíssima espada em uma elegante posição de esgrima enquanto nos protege.

"Pai!" Estendi meu braço direito, porém não o alcancei.

"Amy, segure firme o Raven e fuja daqui! Em breve vou alcançá-los. Protejam-no a todo custo."

Minha mãe não hesita nem um segundo e sai correndo em prantos, deixando meu pai para trás, impotente para oferecer qualquer ajuda.

A última imagem que guardo do meu pai é dele lutando contra os exorcistas, com um lindo sorriso no rosto.

Já estávamos fugindo há bastante tempo e minha mãe estava certa de que ficaríamos bem, que estávamos longe o suficiente. Porém, as coisas não eram bem assim.

Enquanto continuávamos a correr, um prego atinge o ombro direito da minha mãe, fazendo-a cambalear e tropeçar nas raízes das árvores. Ela me segura com firmeza e se choca contra o chão, usando suas costas para amortecer a queda.

"Aquele homem..." minha mãe diz com a voz trêmula.

Ela parecia perceber algo errado com seu corpo e rapidamente me soltou, dando vários passos para trás e se apoiando no tronco da árvore: "Aquele prego…" O braço da minha mãe começa a se mover por conta própria.

Desembarquei com tudo o que estava se desenrolando diante dos meus olhos, impotente para fazer qualquer coisa. Com determinação, levantei-me

e corri em direção à minha mãe. No mesmo instante, ela me pediu para ficar afastado.

"Fique longe!! Raven, continue correndo! Não fique—" De repente, o braço direito da minha mãe ergueu-se e dirigiu-se ao próprio pescoço, enforcando-a.

"Raven..." Minha mãe disse em lágrimas, cada vez mais pálida: "Fuja..." Sua voz estava gradualmente desvanecendo-se.

Doze longas horas se passaram e o sol finalmente raiou. Saio de trás das folhas onde me escondi por tanto tempo e refaço todo o trajeto que percorri correndo para voltar aos braços dos meus pais.

Caminhando lentamente até onde ela está, encontro minha mãe sentada ao chão, com seu olhar vidrado.

Neste exato momento, meus olhos se arregalam e começo a tremer e chorar compulsivamente.

Aproximo-me dela e suavemente passo minha mão em sua bochecha. Em seguida, a abraço firmemente.

"Por quê? Por que estão fazendo isso conosco?" pergunto, com a voz embargada.

Cambaleando pela floresta, sigo em direção à minha casa e então sinto um odor de sangue no ar.

Sem hesitar, sigo o rastro e me deparo com o corpo do meu pai caído no chão, ao lado de vários outros exorcistas.

Meu corpo começa a formigar e sinto uma coceira intensa no pescoço, fazendo com que eu o arranhe sem controle. Consigo escutar os batimentos acelerados do meu coração e sentir o sangue pulsando por todo o meu corpo. Neste momento, minhas lágrimas secam abruptamente.

"De repente, vocês… Despojaram-me completamente…" Caminho entre os corpos e me dirijo ao cadáver do meu pai.

"O que é a vida para vocês?" Nesse momento, senti um imenso vazio como se eu tivesse me tornado uma casca.

Maldições e demônios que habitam neste mundo não são nada comparados aos seres humanos.

Posso assegurar que os humanos são os próprios demônios.

No mesmo mundo que abriga maldições e demônios, habitam os exorcistas. São humanos que combatem o mal. Contudo, isso é algo que apenas outras pessoas acreditariam.

Com o decorrer dos anos, até mesmo os semblantes de meus progenitores foram apagados de minha memória. E apenas um sentimento me impulsionava: uma fúria descontrolada que se espalhava por todo o meu ser, como uma paleta monocromática.

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