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Capítulo 1: Um Verão Escarlate

O brilho do sol atingiu meus olhos, como em todas as manhãs. Sonhei com algo agradável, mas ao abri-los, lembrei a situação que me encontrava e um sentimento amargo surgiu dentro de mim.

Escutei passos que vinham da escada, era um dos guardas, provavelmente estava aqui para me libertar.

─ Ei, Escória. Hora de trabalhar.

A cela foi aberta e caminhei para fora dela, logo indo em direção ao armazém. Hoje estou atribuído para ajudar no trabalho de transporte de cargas, eu não poderia estar mais feliz.

Meus pais me nomearam como Lunan. A segunda sílaba significando 'Forte' no nosso povo, independente de onde estejam, espero que não possam ver meu corpo nesse estado deplorável.

***

Fim da tarde, estou suado e sujo. Hoje foi especialmente ruim. Havia uma família de nobres que veio a visita. Já não bastava ser humilhado e apanhar todos os dias para a princesa e para o príncipe, hoje, os amigos deles participaram do espancamento também.

Agora estou no banheiro chorando, meu corpo está preenchido por hematomas. Eu vou matá-los. Eu vou matá-los. Eu juro que vou matá-los.

Sendo escoltado de volta para minha cela, observei através das grandes janelas do castelo o céu que possuía um tom vermelho sangue. Era um fenômeno que acontecia no Verão, chamado de "Verão Escarlate". Nunca entendi o porquê de atribuírem o nome do Verão a isso, sendo que é somente ao sol se pôr que o fenômeno acontece, de qualquer forma, hoje o céu estava particularmente mais bonito.

Ao ser trancado novamente, esperei o guarda se afastar e levantei meu colchão surrado e sujo. Agarrei meu diário acabado, dado a mim por uma querida criada. Por fim, escrevo os pensamentos do dia.

***

Mais uma manhã, dessa vez, atribuído para o trabalho domiciliar. Devo auxiliar na limpeza dos quartos. O trabalho que os escravos mais odeiam. Era fácil ser acusado de roubo e dar a chance grátis para um Nobre de descontar a raiva em você. Já passei por isso, mas o que não te mata, te deixa mais forte, certo…?

E também, o trabalho com pessoas não-escravas tinha seus benefícios. Eventualmente eu escutava histórias, amo escutá-las. Hoje aprendi o porquê do pôr do sol ser chamado de 'Verão Escarlate".

Aparentemente, além da Deusa da Lua, também existe o Deus do sol. Houve uma guerra entre milhares de soldados sagrados há milhares de anos atrás que durou um verão inteiro. Reza a lenda que tanto sangue foi derramado que cobriu todo o continente, eventualmente, esse sangue evaporou e em todo verão, ele aparece nos céus para relembrar todos dos resultados da guerra.

Como todas as outras histórias que envolviam o Deus do sol, não pude deixar de desgostar. Ele era conhecido como o Deus da vida. Sem sol, não há plantas, sem plantas não há animais, e sem animais não há humanos. O Sol é a Vida. E tinha a Deusa da Lua, na escuridão nada floresce, na escuridão habita o desconhecido, na escuridão os monstros rondam. A Lua é a Morte.

Vindo de um lugar muito ao norte, onde era frio e noite a maior parte do dia, sempre gostei da Lua. Ela era bonita e brilhava forte, iluminando minha vila, ela costumava ser o meu Sol. Por esse motivo é difícil engolir esses idiotas falando tantos absurdos a respeito dela.

***

Mais um dia, não vou aguentar, quero morrer. Antes de pegar no sono, estive pensando comigo mesmo sobre algumas coisas. Se o sol é tão bom, por que ele permite que suas próprias criações sejam tão cruéis? Onde o Sol toca, existem escravos, onde o Sol toca, existe maldade, onde o Sol toca as pessoas morrem, onde o Sol toca…

***

Sendo escoltado para o meu local de trabalho do dia, notei que a Princesa estava vindo em minha direção. Ela era uma beldade, somente um ano mais nova que eu. Seus cabelos castanhos eram lisos e se enrolavam na ponta, uma pele delicada, um rosto fino, uma mandíbula marcada e um corpo bonito, com as partes superiores avantajadas, mesmo tendo somente 14 anos.

Ela estava acompanhada de seu irmão mais novo, o Príncipe. Uma criança pequena, rosto delicado e com cabelos loiros, observando-o assim, não parecia o demônio que me atormentava todos os dias.

─ Irmã, o que vai acontecer com ele?

Disse o Príncipe.

Eu estava confuso, o que fiz dessa vez? Enfim, não vou me preocupar com isso, o que é mais um espancamento?

─ Ele será premiado.

─ Sério? Que honra!

Vendo a princesa segurando a vontade de sorrir com aquela cara contorcida, segurei a expressão de nojo que iria se formar em meu rosto. Mas, parando pra pensar, premiado pelo que?

─ Guarda.

A Princesa disse.

'Até quando ela vai ficar aqui? Preciso ir trab…'

***

Fui atacado na parte de trás da minha cabeça e desmaiei. Acordei com meu corpo sujo de sangue em uma enorme sala cercada por Nobres, e mais na frente, em um trono gracioso, estava o Rei e a Rainha.

Logo, o rei abriu a boca e começou a falar.

─ Por cometer o crime de blasfêmia contra o Deus do sol e por ter desejos assassinos contra a família real, Eu, Solio, o Rei de Vrarian, sentencio Lunan, um escravo da antiga vila da Lua, a morte.

Olhei ao redor e não havia um rosto que desaprovasse essa ordem. A princesa sorria como se ela tivesse obtido o maior prazer da vida dela e seu irmão mantinha um rosto arrogante e perverso.

'Como isso foi acontecer? eu nunca disse nada assim… Ah, meu diário. Hahaha, fui incriminado?'

Procurando a criada que havia me presenteado com o diário, ela estava segurando as lágrimas. Não acho que tenha sido culpa dela, os olhos são a janela do coração, e parece que os sorrisos também.

Os guardas já haviam me agarrado e me arrastaram até a porta, eu seria preso e esperaria o dia da minha execução. Entretanto, o grito do rei os fez parar.

─ Minha filha me fez uma proposta que considerei interessante. Lunan, Você será enviado para a Caça Solar. Se você sobreviver, ganhará o direito de viver novamente. Prostre-se à minha filha e agradeça-a, se não fosse por ela, você seria morto ainda hoje.

Contra minha vontade, fiz o que aquele idiota mandou. E novamente, me agarraram e me arrastaram até minha cela. Não tenho ideia do que é a Caça Solar, mas se for só sobre caça, meu pai me ensinou quando ainda morávamos na vila. Será moleza.

Foi o que pensei.