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Capítulo 01 – Lembranças de uma vida absurda...

"Seres humanos morrem. Animais morrem. Plantas morrem. Até os ceifadores de almas morrem. É o arco do universo. Tudo o que ganha vida acaba deixando de existir." (Baraggan Louisenbairn, Bleach)

 [Local desconhecido]

 [Ponto de Visão: MC]

Quando de repente você acorda em um lugar escuro sem conseguir se mexer direito, você começa a pensar nas escolhas que fez para sua própria vida.

Eu me chamo ou pelo menos chamava Leonardo Perezine, um jovem adulto de 25 anos, 1,80cm de altura, 90kg, corpo treinado ao máximo do que é humanamente capaz, um rosto bonito com cabelos castanhos escuros e olhos verdes. Um pedaço de mal caminho se posso ser um pouco narcisista.

Seria uma pessoa com todas as perspectivas de prosperidade e sucesso, se não fosse pelo meu passado. Na verdade, o meu passado é meio... meio... como posso explicar... bem, cagado para um cacete, essa é a expressão certa. Mas vou tentar explicar da melhor forma possível.

Para começar, porque eu estou falando no passado e pareço estar contando uma história? Bem, veja, eu acordei nesse lugar escuro e quente a alguns meses. Digo com precisão que são alguns meses, pois desde que acordei comecei a contar os minutos e segundos, algo que aprendi na minha infância e me salvou de inúmeras enrascadas na vida. Talvez não seja exato com o tempo real de um relógio, mas segundo meus cálculos desde que minha consciência retornou, estou aqui nesse lugar há pelo menos 8 meses, 29 dias, 20 horas, 55 minutos e 33 segundos.

Especifico, não é? Mas não é como se eu tivesse outra coisa para fazer nesse espaço apertado, pois se eu tentar esticar as pernas ou os braços, acabo indo de encontro com um tipo de parede e o lugar todo começa a tremer como se sentisse dores ou algo parecido.

Bem, voltando ao porque estou repensando minhas escolhas de vida.

De uns meses para cá estou tendo alguns sonhos estranhos. Agora, não sei se são realmente sonhos ou lembranças, pois eu nasci com um dom maravilhoso e ao mesmo tempo aterrorizante então, o que eu penso ser apenas sonhos talvez, sejam lembranças de outra vida onde coisas horríveis aconteceram comigo.

Bem, já que não tenho controle de tudo que está acontecendo agora comigo, como por exemplo, não poder me mexer, ter muito, mas muito sono, não poder fazer outra coisa além de contar o tempo mentalmente e ouvir vozes estranhas, não há problema algum em reviver algumas lembranças do passado.

Na verdade, esse meu "dom" é chamado de "memória eidética" ou do nome fofo que com o tempo eu passei a chama-lo, "as memórias aterrorizantes de duas vidas de merda".

Pode parecer muito bom ter uma memória eidética, ela torna possível lembrar de coisas que deveriam ser perdidas pelo pequeno poder de processamento de um cérebro na fase final da formação após o nascimento, mas eu lembro como se fosse hoje, horas e mais horas de dor e sofrimento.

 ◊◊◊◊◊◊

Na minha primeira vida eu era um cara comum. Eu era mais um habitante do terceiro planeta que orbitava uma estrela amarela em uma galáxia chamada Via Láctea.

Como o primeiro filho de uma grande família que certamente não estava nas melhores condições financeiras para ser tão grande, passei a maior parte da minha vida lutando por uma melhora em nossa situação.

Após muitos anos de sofrimento, mas aproveitando algumas oportunidades aqui e ali, consegui mudar a situação da nossa família, montando uma pequena empresa que aos poucos, foi prosperando abundantemente, até que meus concorrentes tramaram contra minha vida e de minha família.

Um dos dias mais tristes da minha vida começou normalmente, mas quando voltava de uma reunião de negócios, encontrei minha empresa em chamas e dentro dela infelizmente toda minha família...

Depois de todo o luto, gastei até o último centavo do que me sobrou para descobrir quem foram os mandantes e em uma fúria descomunal fiz com a família de todos eles, muito pior do que fizeram com a minha, antes de morrer em um confronto policial digno dos cinemas mundiais.

Mas parecia que a vida tinha outra reviravolta preparada para mim. Quando caí no chão com meu corpo esfriando e tudo ficando preto, de repente senti novamente o calor que só conheci no abraço de mamãe.

Estranhei tudo o que estava acontecendo quando abri os olhos, pois parecia que estava em um sonho. Ok, talvez chamar de sonho não seja a forma certa de se referir ao que estava acontecendo comigo, pois basicamente eu estava vivendo uma nova vida desde o começo.

"Uma nova chance" pensei, uma chance de fazer tudo diferente daquilo que tinha acontecido. Eu iria fazer de tudo para acabar com a vida daqueles que me feriram horrivelmente na vida passada...

Infelizmente, me foi negada a chance de vingança, pois parece que eu não estava mais no meu mundo original. Pelo pouco que pude ver e entender dos arredores, mesmo sendo mundos parecidos, existiam algumas discrepâncias entre o atual e meu mundo antigo.

Primeiramente, não existia tecnologia. O povoado onde morávamos era um pouco atrasado demais e o que mais me chamou a atenção foi a força misteriosa que as pessoas desse mundo conseguiam usar para melhorar seu dia a dia.

Isso sem dizer que a mulher que me deu à luz, Sara, não era a mesma dona Sara que me deu à luz na Terra. Essa era bem mais jovem e parecia ser mãe solteira.

Então parecia que toda aquela coisa de vingança não iria mais acontecer... Decidi então viver ao máximo essa nova vida e fazer dessa mulher, essa nova mãe, a pessoa mais feliz do mundo.

 ◊◊◊◊◊◊

Os dias foram passando vagarosamente e graças ao despertar do meu "dom" lembro de ter vivido coisas que deveriam ser impossíveis de lembrar, como todas as vezes que era amamentado por minha mãe, o sorriso dela ao olhar nos meus olhos enquanto eu me deliciava com seu leite, até momentos mais constrangedores quando ela me levantava e cheirava a fralda para saber se eu tinha feito caquinha...

Sim, tive minha privacidade invadida inúmeras vezes..., mas esses eram momentos maravilhosos que enchiam nossa pequena família de carinho e amor.

Mas infelizmente essa nova vida me lembrou que nem tudo são flores.

Acompanhei o momento em que a pessoa que deveria me proteger com todas as forças, me deixou nos braços de outra família enquanto soluçava. Não entendi o porquê pois, mesmo que nós não vivêssemos em um palácio, eu que já tinha conseguido mudar de vida antes, estava planejando maneiras de melhorar nossas vidas ainda mais com a ajuda da energia especial desse mundo.

A última lembrança que tive de minha mãe foi o momento em que ela virou as costas para o casal com quem ela me deixou e após uma luz vermelha e brilhante seguida de um barulho estrondoso, caiu no chão com o corpo carbonizado...

De novo não! Qual é o problema com esses mundos de merda que me enviam para viver!? Porque todas as pessoas que eu chamo de família morrem queimadas?

Eu só consegui chorar impotente, mas naquele dia eu jurei me vingar, novamente.

Depois disso os anos passaram como um borrão. As pessoas que me criaram fizeram de tudo para parecerem legais, elas me alimentavam, me vestiam, mas já havia sangue ruim entre nós e eu não conseguia perdoa-los.

Quando fiz cinco anos algo então mudou.

O homem que se chamava de meu pai, começou a me "treinar" para entrar no ramo da "família". Passei por inúmeros treinamentos que nunca imaginei serem possíveis, afim de aperfeiçoar meu corpo e magia de maneiras que eu nunca imaginava serem possíveis, através de um treinamento de artes marciais e mágicas que visavam a morte do adversário.

Aos oito anos fui abrigado a matar uma pessoa com as próprias mãos. Sob a premissa de que era ela ou eu. Se eu não o matasse eu seria morto. Então a contragosto, fiz o que me mandaram e depois disso recebi apenas um mero elogio: Bem feito! Agora você pode passar para a próxima fase...

A segunda fase consistia em treinamento com todos os tipos de armas. Espadas, facas, machados, lanças, arco e flechas, armas de fogo e todos os tipos de armas mágicas imagináveis.

Aí fica aquela pergunta, em um mundo com magia, porque utilizar armas de fogo?

Segundo meus "pais", em nosso ramo de trabalho existiam alvos que sempre investiam fortemente em defesas contra todos os tipos de artes magicas, assim precisávamos de treinamento em maneiras de contornar essas defesas.

Aos dez anos, me mandaram matar pessoas com cada uma dessas armas e magias que aprendi. Aos doze anos graças a memória eidética eu já tinha dominado todos os tipos de disciplinas escolares até o nível doutorado, então me ensinaram a arte do engano, do roubo e da guerra.

Aos quinze me levaram para uma floresta cheia de monstros no meio do nada e me deram um cachorro como uma missão. "Cuidar dele e não deixar nada de ruim acontecer". Passei anos naquele lugar aprendendo a sobreviver da fauna e flora, além de manter o alvo da minha missão em segurança.

Aos dezoito anos, as duas pessoas que se chamavam de meus pais voltaram para me buscar e me deram uma última ordem que veio de "cima".

Matar meu próprio coração.

Nenhuma pessoa em sã consciência faria uma coisa dessas, mas com o passar dos anos eles mexeram com a minha mente de uma forma que eu, não consegui deixar de cumprir as ordens dadas pelos "superiores".

Então matei meu coração.

Foi ali que tive a plena certeza que estava sendo treinado para me tornar a arma perfeita... Até meu nome pelo qual fui conhecido por dezoito anos foi tirado de mim. A partir daquele momento eu já não era mais Leonardo Perezine, mas sim L, somente L.

Depois disso, foram anos e mais anos de matança em um país cujo os senhores da guerra pagavam por mercenários para "resolver" a concorrência, essa foi a parte do treinamento que eles chamaram de ganhar experiência. Sinceramente, era tudo apenas uma desculpa para eu limpar a bagunça que a "agência" estava criando naquele lugar.

 ◊◊◊◊◊◊

Com o passar do tempo eu descobri que Sara, a mulher que me deu à luz, era uma mãe de aluguel, contratada pela família de assassinos para criar um herdeiro com os óvulos e esperma selecionados, provenientes do casal que me criou. Mas no final, ela acabou se apaixonando pelo resultado e demorou mais do que o previsto para devolver o bebê, então ela foi cassada eté ser encontrada e quando me deixou com a família, foi punida por sua transgressão.

Eu entendi a situação, mas eu nunca deixei de lado a minha vingança contra uma família que, nem teve a dignidade de gestar o próprio herdeiro com medo de estragar o corpo e atrasar algum tipo de missão que seria dada pela "agência".

Nos dias de folga de todo esse treinamento obtive informações de que meus "pais" eram pessoas de grande importância na "agência", então eu teria que preparar a vingança perfeita para eles...

Mas como era mesmo o ditado?

Vingança é um prato que se come frio, não é?

E parece que o dia da vingança não estava longe... certo dia recebi uma missão de infiltração de longa duração. Essa missão exigia que eu me aproximasse de um alvo feminino, após começar a trabalhar na mesma indústria que ela.

Eu já tinha sido ensinado na arte da conquista e já tinha recebido vários "prêmios" de treinamento em de sexo, então foi fácil conquistar o corpo e o coração do meu alvo.

O que os superiores não contavam era que:

1. Você não pode matar um coração completamente.

2. Meu desejo de vingança contra eles.

A mulher ao longo do tempo, com seu jeito tímido e retraído me apresentou a um mundo totalmente diferente daquele que vivi até meus vinte e cinco anos. Um mundo muito parecido com aquele primeiro que eu tinha vivido.

E aos poucos, graças aos esforços da tímida cientista o mundo que antes era completamente cinza para mim, começou a ganhar cores. Ela foi reavivando meu coração murcho de uma forma tão maravilhosa, que até os hobbies dela acabei tornando meus. Quais eram os hobbies dela? Nada mais, nada menos, que um conjunto de coisas estranhas chamadas jogos, animes, mangás e novelas leves, com títulos incrivelmente parecidos com os do meu antigo mundo. Parece até que a divina arte é multiversal...

Ahhhh e aqueles foram ótimos dias, passávamos horas e mais horas nos dias de folga entretidos com esses hobbies. E devo dizer, aquilo aos poucos, foi substituindo todo o sofrimento que eu tinha passado.

Mas novamente o mundo pareceu me lembrar que nem tudo são flores.

À medida que o tempo passou, eu comecei a sentir a desconfiança dos superiores para com o sucesso da minha missão. Continuei enrolando-os da melhor maneira que consegui até a fatídica noite em que uma ordem veio.

[Mate a mulher e todos nesse complexo, roube os resultados da pesquisa, junto com as amostras e se apresente no ponto XX as XX horas para verificação]

Naquele dia pela manhã a pesquisa que a mulher estava fazendo e parecia ser muito importante para os superiores foi completada. Ela estava tão feliz que transamos ali mesmo no laboratório, não que já não tivéssemos feito isso, mas aquele momento pareceu um pouco mais especial.

Meu coração reavivado por ela, não poderia cumprir a ordem dos superiores.

Então tomei uma decisão. Coloquei fogo no prédio e na pesquisa da mulher. Depois de evacuar todo o prédio às pressas, parti com a mulher como naquelas histórias onde os Heróis salvam as princesas dos monstros do mundo.

Claro, isso deixou os "superiores" loucos.

Tão loucos que toda a "agência" foi mandada para captura-la e me matar.

Mas, o maior erro deles foi ter criado uma arma quase perfeita. Passamos meses em perseguições frenéticas, com vários carros e prédios destruídos, agentes mortos, viagens entre países. Rapaz, foram alguns meses muito loucos, tenho quase certeza que a "agência" ficou a ponto de desaparecer da face da Terra.

Foi lindo o momento que depois de uma das perseguições mais frenéticas eu conseguir enfiar uma bala mágica na cabeça do meu "pai" e da minha "mãe". Claro, não esqueci de dizer as seguintes palavras: "Isso é pela Sara". Cara, o olhar de horror em seus rostos, vai ficar marcado para sempre na minha memória eidética... e foi incrível como aquilo me libertou.

Mas a vida aquela danadinha, sempre esteve lá para marcar na minha alma que nem tudo são flores e alegrias.

Mesmo após tudo isso, acabei sendo traído por quem estava protegendo. Por quem tinha passado a considerar minha nova família. Pois de alguma forma a agência, enquanto eu me vingava, entrou em contato com a mulher e ela... ela... não consigo nem falar... vamos dizer que eu infelizmente baixei a guarda perto da pessoa que me traiu.

Ou ela me traiu porque baixei a guarda?

A última lembrança que tive dela, foram suas lágrimas e pedidos de desculpas enquanto eu jazia no chão frio. E instantes depois, pela segunda vez, tudo ficou preto.

Estou construindo um grande jardim aqui em casa, preciso de suas pedras para cercar a propriedade...

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