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Dragão de Prata

Era apenas mais um trabalho. Outro livro fracassado entre a pilha que precisava analisar. Ato corriqueiro. Então, por que acabou assim? Jiang Lu foi enviado para outro 'mundo' e jogado no corpo de uma criança sem memórias, agora, precisa encontrar sua força e sobreviver nesse ambiente de Cultivo e Imperadores. Porém, até quando?

nebulower · Fantasy
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Nunca zombe de um ventríloquo

Jiang Lu estava saturado de mais um final de semana exaustivo que teve que passar junto aos seus parentes. Não que ele odiasse-os, era apenas verdadeiramente cansativo dividir o mesmo espaço que eles por mais de um dia.

Sua família era composta por seus pais, dois irmãos mais velhos, três tios e duas tias maternas, uma infinidade de primos e cinco sobrinhos. Seus tios e primos graças aos céus moravam em lugares distintos ao redor da China, o que impedia que eles estivessem sempre em torno deles. Seu pai não tinha parentes vivos, sobrando apenas os familiares de sua mãe para completar as reuniões familiares, contudo, todos eram uns abutres. O relacionamento com eles era apenas suportável. Em contrapartida, Jiang Lu era orgulhoso de seus relacionamento com seus pais e irmãos mais velhos. Sendo o caçula da família, o Jiang mais novo sempre fora muito mimado pelos outros, a prova disso está no fato de que ele foi o único filho com a chance de escolher sua própria profissão, enquanto seus irmãos foram criados para herdarem os negócios da família.

A família Jiang era dona de uma indústria têxtil há três gerações e só vinha prosperando desde sua fundação, feita por seu tataravô paterno. Jiang Lu era grato aos seus ancestrais por todo o duro esforço, pois seu apartamento em Pequim tinha vindo a partir dessa boa herança familiar. Seus irmãos moravam em Xangai devido à proximidade com os assuntos relacionados a exportação dos tecidos para o Ocidente. No entanto, seus pais compraram uma casa em Zhangzha, no condado de Jiuzhaigou, logo após se aposentarem, fugindo das grandes cidades e escolhendo esta região por insistência de sua mãe em morar perto do Vale Jiuzhaigou.

No momento, Jiang Lu se sustentava através do salário como editor e revisor e dos lucros advindos de sua porcentagem na empresa da família. Era tranquilo, quando ele não tinha que se reunir com seus parentes distantes num mesmo ambiente ou quando não era obrigado a participar da reunião de acionistas. Uma vida muito boa e privilegiada. Quanto a seus familiares maternos? Essas pessoas estavam apenas de olho nos yuan que haviam em sua conta, de seus irmãos e pais (até mesmo na de seus sobrinhos), não valiam a pena.

De volta a sua casa, Jiang Lu apenas largou sua mochila perto da porta antes de se jogar no sofá no intuito de logar seu laptop no Wi-fi. O apartamento cheirava a pinho, a empresa de limpeza contratada por seus irmãos deveria ter mandado alguns empregados mais cedo naquele dia, caso contrário todo o ambiente estaria com cheiro de mofo. Jiang Lu morava naquele apartamento desde a faculdade, sempre fora seu cantinho, todavia ele nunca foi um homem com tempo para fazer os cuidados domésticos, mesmo que não se incomodasse com isso. Já na faculdade ele ocupava seu tempo livre com empregos de meio-período para obter renda extra, além de estudar como um verdadeiro rato de biblioteca nos fins de semana. O curso de Literatura Chinesa na Universidade P foi capaz de lhe proporcionar boas vagas no mercado editorial ainda no final do segundo ano de curso, ao se formar, Jiang Lu foi contratado por uma editora de Pequim e têm trabalhado lá desde então.

O notebook finalmente ligou e conectou à internet, chegando alguns alertas de e-mail logo após abrir o navegador. Tinha muito trabalho acumulado para entregar até o final da semana, entretanto, um aspecto isolado lhe gerava mais dor de cabeça. Jiang Lu suspirou e empurrou os óculos com o rosto cheio de linhas negras. Além de seu trabalho na editora, Jiang Lu se envolvido em um projeto de publicação online, um convênio feito entre a editora onde trabalha e uma instituição governamental. O projeto consistia na criação e manutenção de uma plataforma online para publicação de livros de autores amadores. Contudo, o processo de submissão dessas obras passava por um filtro rigoroso antes de, finalmente, ser transformado num e-book e monetizado. O autor pagava o serviço posteriormente, dando um número X da porcentagem por dois anos inicialmente, depois que as dívidas de produção e publicação fosse paga, a porcentagem a ser devolvida para a plataforma iria baixar.

Jiang Lu fazia parte da equipe de revisores e editores, ficando junto a mais seis pessoas em um subgrupo, responsável tanto na parte de seleção quanto de refinamento das obras submetidas.

Recentemente, Jiang Lu e seus colegas receberam uma obra para avaliação cujo gênero era bastante popular na internet e até mesmo fora dela, a Cultivação. Porém, mesmo tendo um gênero interessante, a referida obra possuía uma característica problemática: o enredo era uma completa bagunça. Jiang Lu conseguiu olhar o capítulo inicial rapidamente antes de viajar e o que viu foi decepcionante. Agora, lendo com cuidado e atenção, o resultado é ainda pior. O mundo da novel tinha sido tomado por governos imperiais, rebaixando o sistema de seitas, sem deixar de preservar a cultura de cultivação. Existiam outras espécies além dos humanos e bestas mágicas, mas o autor não explicou nada sobre eles. O enredo era uma bagunça e a narração em primeira pessoa nos primeiros capítulos impede o leitor de identificar quem é o protagonista.

Depois de ler mais quatro capítulos daquele lixo, Jiang Lu abriu seu chat de amigos no WeChat e mandou uma rápida mensagem:

Pequeno pássaro: Vocês viram o novo enredo? Sem dúvida eu posso usá-lo para limpar a bunda.

Alguns minutos depois a conversa dos amigos lotou de mensagens, mas Jiang Lu, para economizar tempo, leu apenas aquelas que lhe interessavam.

Comida de cachorro: Apenas jogue fora, jogue fora. Meus olhos não aguentaram mais de dois capítulos.

Chuva beijando uma flor: Eu absolutamente não entendi como esse autor achou que podia ser aceito, ah! Peço perdão aos grandes deuses!

Pequeno pássaro: Quem vai mandar o e-mail dessa vez?

Todos: O grande irmão Lu é o homem certo para isso!

Jiang Lu revirou os olhos.

— Vocês sempre dizem isso — resmungou para si mesmo, respondendo ao chat com apenas um sticker de OK.

Colocando o celular de lado, Jiang Lu começou a digitar o e-mail de recusa para o autor do desastre chamado Dragão de Prata. O nome era bom, mas o conteúdo era apenas uma perda de tempo. Jiang Lu escreveu seus pensamentos e sentimentos para a novel escondidos em belas palavras, abrangendo os sentimentos do resto da equipe de revisores e depois de remover os erros, enviou para o autor, sentindo um enorme peso sendo tirado de suas costas.

E-mail enviado, Jiang Lu foi para cozinha esquentar água para o macarrão instantâneo. Deixou a água no fogo baixo e foi tomar um banho rápido, trocou as roupas usadas na viagem de volta e foi buscar o laptop que tinha largado na sala. Haviam alguns e-mails novos, mas como eram de propagandas marcadas como spam, Jiang Lu selecionou todos e já prestes a apagá-los, notou que um deles era diferente. Desmarcou a caixa de seleção do dito e-mail e apagou os outros; abriu o e-mail suspeito, pensando que podia ser um e-mail de seu chefe, e o abriu. O remetente não era conhecido, mas o conteúdo de sua curta mensagem já sinalizava qual sua identidade.

A mensagem dizia:

Desculpe por lhes fazer perder tempo, este humilde eu apenas desistiu de escrever para ser um ventríloquo, tenha uma boa noite!

Ah, wtf? Jiang Lu parou em choque por alguns segundos antes de cair na gargalhada. O homem limpou as lágrimas dos cantos dos olhos, sem acreditar no que via. Ele tirou uma foto e a compartilhou para seus colegas de equipe com a seguinte legenda: "Que carreira promissora, ah!"

Jiang Lu já havia negado inúmeras obras que tinham sido submetidas para avaliação e vez ou outra recebe alguma resposta inesperada dos autores que foram chutados fora. A maioria eram xingamentos aos membros de sua família, mas trocar a carreira de escritor para um ambulante era a primeira vez.

— Não que esse peixe pequeno tivesse algum talento de qualquer forma — Jiang Lu cuspiu entre risadas. Ele estava ciente de que suas palavras eram um pouco cruéis, mas isso era comum em seu meio. O homem já tinha perdido parte da sensibilidade depois de negar 80% dos candidatos e aprovar apenas os 20% restantes.

Jiang Lu cambaleou para a cozinha e terminou de preparar seu macarrão, acompanhando os comentários dos amigos no WeChat, o que lhe provocava uma nova onda de risadas a cada intervalo curto de alguns segundos. O humor ácido se estendeu até a hora de dormir, quando a piada foi substituída por uma aventura amorosa fracassada de um dos editores. Jiang Lu já não tinha interesse em conversar, então apenas leu mais um pouco até estar cansado o suficiente para dormir assim que tocasse a cabeça no travesseiro.

***

Na manhã seguinte, Jiang Lu se espreguiçou e bateu as mãos em uma superfície dura e maciça. Sua cama havia sido substituída pelo chão frio, o que o fez pensar que ele tinha caído da cama enquanto dormia. Ele puxou as mãos e esfregou os olhos, quando os abriu, ficou alguns minutos encarando o ambiente sem expressar qualquer reação. Algo estava fora de lugar, ele não lembrava de ter redecorado seu quarto ou algo assim. Jiang Lu beliscou o próprio braço algumas vezes até deixar aquele pedaço de pele de uma coloração vermelho brilhante.

Não, definitivamente não era um sonho.

O quarto em que estava na verdade era apenas uma salinha compacta de 10m quadrados no máximo, sem nenhuma decoração ou mobília, havia apenas uma janela com barras de ferro em uma das paredes, de onde provinha luz, e uma porta de madeira que não tinha maçaneta do lado de dentro. Jiang Lu vestia uma túnica imunda, seus pés estavam descalços e um dos tornozelos atados por uma corrente, por sua vez, presa a uma das paredes de pedra.

Jiang Lu voltou a si e começou a reagir, soltando uma enxurrada de palavrões no meio dos gritos pedindo por socorro. Ele havia sido sequestrado enquanto dormia? Era isso? Certo que seus pais tinham muito dinheiro, mas ele não! E aqueles velhos nunca iam dar um tostão para tirá-lo do cativeiro! Jiang Lu começou a entrar em desespero, puxando a corrente para libertar seu pé, mas sem sucesso. Sua garganta começou a doer quando ele notou algo anormal, quer dizer, outra coisa anormal: sua voz.

Jiang Lu era um homem adulto de quase trinta anos de idade, sua voz já era madura e rouca, alta e clara. Então, o que há com essa voz falha, suave e que parece que ainda não passou pela puberdade saindo de sua boca? Jiang Lu começou a esquadrinhar o próprio corpo em busca de quaisquer danos e se assustou. Todo seu corpo estava estranho, a gordura corporal tinha quase desaparecido, sobrando apenas uma fina camada de pele sobre os ossos. Sua voz era outro aspecto fora do lugar. A mente de Jiang Lu começou a girar com ideias absurdas sobre o que poderia ter acontecido com ele. Abdução? Lavagem cerebral? Buraco de minhoca?

A porta da pequena sala foi aberta de repente, fazendo Jiang Lu gritar pelo susto. A pessoa na porta também gritou, fazendo-o gritar mais alto ainda.

— O que você está fazendo? — um rapaz com não mais de vinte anos apareceu ao lado da primeira pessoa, que era uma menina da mesma faixa etária, e lhe deu um tapa na cabeça. — Por que está gritando? Quer que nos peguem?

A garota parou de gritar e pareceu se encolher sob o olhar irritado do garoto.

— Eu apenas me assustei com os gritos dele, irmão mais velho Dao.

O garoto ergueu o olhar para Jiang Lu, fazendo esse sujeito se encolher em uma bola trêmula perto da parede. O garoto chamado Dao se apressou até ele e bradou uma espada, partindo as correntes.

— Qual seu nome? — perguntou ele, colocando a espada de volta na bainha. Jiang Lu engoliu em seco assistindo àquela cena, os lábios franzidos para evitar que mais gritos escapassem de sua boca.

— Será que ele consegue nos entender? — perguntou a garota, estalando os dedos.

O garoto chamado Dao olhou para Jiang Lu por mais um instante, esperando a resposta que nunca veio e disse:

— Não importa, temos que sair logo daqui antes que venham verificar.

Sem uma palavra a mais, o garoto Dao pegou Jiang Lu e o jogou sobre o ombro, correndo para fora da pequena sala sendo seguido pela garota. A menina olhou para a figura esfarrapada de um Jiang Lu sendo carregando como um saco de batatas e sorriu.

—Meu nome é Mei Ting, o nome do irmão mais velho é Bing Dao. Prazer em conhecê-lo!

Jiang Lu soltou apenas um "Hum" inaudível enquanto era arrastado para fora. O lugar onde fora preso mostrou ser apenas uma das dependências de um casarão rural, estranhamente vazio e silencioso.

— Onde estamos? — com muito esforço, Jiang Lu conseguiu perguntar ao casal de jovens.

— Ah, então você fala! — disse Bing Dao, virando em uma esquina e correndo pela lateral do celeiro para se embrenhar no bosque mais adiante.

Uma vez longe do casarão, Jiang Lu foi colocado no chão, porém, devido ao choque de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, suas pernas fraquejaram e ele caiu no chão de joelhos. Bing Dao olhou para ele como se olhasse para um pedaço de merda. Mei Ting quem se aproximou para ajudá-lo a ficar de pé. Embora ela tivesse uma aparência tão jovem, ela era mais alta que Jiang Lu, fazendo-o criar coragem para perguntar algo que o incomodava.

— Qual sua altura, irmã mais velha Mei?

— Minha altura? Tenho cerca de 1,60m, pequeno irmão.

— Impossível!

Jiang Lu se sentia totalmente perdido, recusando-se a aceitar a realidade. Ele tinha... Transmigrado? Mas, para onde? Por quê? A não ser que...

— Irmã mais velha Mei, em que país estamos?

Mei Ting ajudou Jiang Lu a sentar em um tronco de árvore e encarou com curiosidade, mas antes que ela pudesse responder, Bing Dao se meteu entre os dois.

— Você perdeu a memória? — perguntou ele, examinando sua cabeça em busca de ferimentos ou lesões, mas não encontrou nada. Jiang Lu olhou para aqueles dois com receio, finalmente examinando as roupas que eles estavam vestindo. Certamente eles se encaixavam com personagens de MMORPG, com aquelas roupas fora de época e as espadas em suas cinturas. Engolindo em seco, os lábios de Jiang Lu tremeram. Ele com toda certeza havia transmigrado. Sua mente voltou a ser apenas um turbilhão.

Estava tudo bem, digo, como vim parar aqui? Quem são essas pessoas? Eu estava no meu quarto há apenas um minuto atrás... Eh, o que há com essas roupas? Que lugar é esse?!!!! ヽ(`Д')ノ

Uma voz andrógina soou na sua mente, como num clique:

Sistema: Seja bem-vindo, jovem anfitrião! Este é o enredo de Dragão de Prata, como mundo livre, você tem liberdade para usar qualquer método para melhorar o enredo e tornar a história interessante!

Eh, então por que eu sou apenas um personagem bucha de canhão? Onde está o protagonista?

Sistema: O protagonista não existe, como disse, este é um enredo livre.

O quê?! Que tipo de história não tem protagonista?!

Sistema: O Deus criador não deu um protagonista para esse mundo antes desistir da história, este humilde sistema não pode reverter isso, jovem anfitrião.

Jiang Lu: ...

Uma p****! (ノ`□´)ノ⌒┻━┻

Primeiro capítulo de um livro que tenho escrito desde 2019, publicado em outra plataforma. Trouxe pra cá nem sei porque kkkk tô postando de madrugada sabendo que não vai ter alcance algum nessa plataforma, já que está em português. Mas... não custa postar né, o "não" eu já tenho

ALERTA ALERTA: Esta história é DANMEI, ou seja, possui altas doses de homossexualidade junto com um enredo pesadíssimo em algumas partes da narrativa. Já alertando os hetero top de plantão.

bye, bye

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