1 Prólogo

Diz-se que é uma cidade amaldiçoada por muitos. Outros reclamam que é um local habitado por seres humanos evoluídos. Acredita-se que os super poderes existentes lá são resultado de maldições, ou seja, as pessoas são amaldiçoadas. No entanto, a descrição mais segura sobre Shibu é a de uma cidade amaldiçoada, onde seres superdotados com habilidades especiais vivem — seres humanos que evoluíram geneticamente — embora nem todos em Shibu tenham o dom.

Diante de todas essas inúmeras acusações envolvendo Shibu, o governo passou a enxergar os malditos por uma nova perspectiva. Surgiu a ideia de utilizá-los para salvaguardar a cidade, pois seriam mais eficazes do que a polícia, mesmo que ainda necessitassem de sua colaboração.

E assim, surgiu os Hunter; um grupo governamental formado por cinco indivíduos dotados de poderes perigosos, cuja missão era zelar pela segurança da cidade. Desde a sua criação, os índices de criminalidade diminuíram consideravelmente. No entanto, em Shibu, os delitos jamais se extinguem, o que justifica a noção de ser uma cidade amaldiçoada.

Os ecos dos gritos permeavam entre as construções, e há indivíduos criminosos saindo de um banco central com risadas sinistras assim como se estivessem festejando o triunfo alcançado após a perseguição. O alarme do banco se confundia com o caos e explosões ainda continuavam acontecendo no interior da instituição financeira.

— Ohohohoho! Eu bem que te falei! É fácil demais! — Exclamou o criminoso carregando consigo uma sacola com dinheiro.

— Difícil de acreditar mesmo! Hohohohoho! — Riu o outro criminoso empunhando uma AK-47.

— Depois que conseguirmos escapar daqui, vamos comemorar tomando uns drinks! — Sugeriu o terceiro indivíduo portando duas bolsas de dinheiro.

Os bandidos se misturavam no meio das nuvens de fumaça das explosões e se encaminharam para um beco. No entanto, enquanto corriam pelo beco, um dos criminosos que carregava duas maletas chamou a atenção para algo no final do caminho.

— Ei! Tem alguém ali! — Exclamou ele.

Os criminosos pararam imediatamente e fixaram o olhar na escuridão que cobria o fim do beco. Da escuridão, podiam-se ouvir passos leves ecoando por todo o beco como uma bela melodia. Então, uma garota vestindo um uniforme escolar preto, com cabelos trançados de vermelho, emergiu com a lâmina da katana riscando a parede; seu rosto permanecia oculto pelas sombras.

— Hã?! Quem é essa?! — Indagou o criminoso com a AK-47.

— Essa roupa preta... não pode ser!! — O suor escorreu pelo rosto do criminoso que liderava o grupo, seus olhos se arregalaram de surpresa.

A garota segurou firme o cabo da katana, colocou a lâmina voltada para trás e avançou em direção ao criminoso do meio, desferindo um corte diagonal.

— Ahhhhhhhhhhhhh!!

— Chefe! — O infrator que estava armado disparou várias vezes contra a garota, mas ela desviava facilmente.

— Aquele homem não nos alertou sobre isso! — O criminoso solta as duas sacolas e avança em direção à garota preparando um soco direto.

A garota esquiva-se dos golpes e tiros dos dois criminosos. Em seguida, com precisão, corta o braço do agressor frenético. Utilizando o cabo da katana, ela desfere um golpe na lateral da cabeça do criminoso armado, fazendo-o desmaiar imediatamente.

— Ahhhhhhhhhhhhh!! Maldita! — Grita em agonia o criminoso, segurando seu braço decepado.

A garota aponta a lâmina na direção do pescoço do criminoso que berrava e diz:

— Quais são suas últimas palavras? — Fala a garota, lançando um olhar ameaçador de superioridade.

— Hahaha! Eu quero que você... — A cabeça do criminoso é cortada no mesmo instante.

Enquanto caminhava através do mar vermelho, a jovem pega o criminoso com o braço esquerdo que está inconsciente e armado, e o arrasta até o fim do beco sombrio.

Logo em seguida, o celular da jovem vibra suavemente dentro de seu bolso. Ela liberta o criminoso e delicadamente retira o telefone com a mão esquerda, atendendo-o após deslizar os dedos pela tela horizontalmente.

Levando o dispositivo próximo ao ouvido, ela estabelece uma comunicação com alguém. Depois de alguns segundos de silêncio, enquanto ouvia atentamente as palavras do interlocutor, ela responde:

— Sim, deixei um dos delinquentes vivo. Com certeza, estarei chegando em breve. — Em seguida, encerra a chamada.

Então, a jovem coloca a lâmina de volta na bainha e gentilmente arrasta o homem para o fim do beco, desaparecendo nas sombras.

★★★

Ainda não consigo acreditar como somos utilizados pelo governo como cães de caça. No entanto, ganhamos dinheiro atuando como Hunter's, e é claro que isso nos traz benefícios.

Neste momento, estou sentada diante de um balcão tomando um suco de laranja. Ainda tenho 17 anos e não posso consumir bebidas alcoólicas. Em nossa base, temos uma área que é uma mistura de bar, sala e quartos dos membros dos Hunter's. É um ambiente aconchegante e acolhedor, equipado com ar-condicionado e muito bem cuidado. A localização da nossa base é curiosa: fica abaixo de uma cafeteria pública pouco conhecida. Porém, a comida que servem lá é realmente requintada. Talvez o fato de a cafeteria não ser muito famosa esteja relacionado ao fato de que a entrada fica em um beco um pouco afastado do centro da cidade, onde há uma grande concentração de pessoas. Mas isso também parece ser uma estratégia do governo de construir uma base em um local "seguro", já que a cafeteria não é conhecida em Shibu e, do lado de fora, parece apenas uma casa comum.

— Bebendo suco de laranja mais uma vez, Shizuku? —Indagou um dos membros dos Hunter, Shiki Inugami.

— Pois é, é o que você está vendo, não é mesmo? — Respondi.

— Você realmente adora suco de laranja, eu tinha esquecido. — Comentou Shiki, indo em direção à jarra que estava sobre o balcão. Em seguida, ele pegou um copo vago que estava ali, serviu o suco e sentou-se ao meu lado.

— Você costuma esquecer as coisas com facilidade. — Suspirei.

— Talvez seja pelo sangramento, acabo me esquecendo das coisas. Aliás, onde estão os outros? — Shiki deu um gole no suco.

— Neste momento, eles estão em uma missão. Foram convocados para capturar alguns criminosos que estavam assaltando um banco. — Tomei um gole do suco.

— Ah, tem sido muito tempo desde a última vez em que fomos chamados para uma missão juntos. — Ele virou todo o suco de uma vez.

— É bom isso. Significa que estamos conseguindo controlar a cidade. — Falei, bebendo todo o suco também.

— Já que estamos falando disso, os crimes em Shibu são bem frequentes. No entanto, parecem estar aumentando mesmo com nossa presença. — Ele despejou mais suco no copo e colocou suco no meu copo também.

— Verdade, isso também me incomoda. Mas acredito que não somos apenas nós dois que percebemos isso.

★★★

O delinquente abriu os olhos lentamente, piscando progressivamente até compreender o motivo de estar ali. Ao tentar se mover, percebeu que seu corpo estava imobilizado.

— Meu corpo está amarrado?! E que lugar maldito é este?! — Questionou o criminoso, examinando a sala pouco iluminada com piso quadriculado.

— Finalmente acordou, escória? — Uma voz feminina surgiu em frente ao delinquente.

❝Essa voz... É a mesma garota que acabou com o chefe e meu irmão!❞, refletiu o delinquente, com os olhos arregalados, ao ouvir o tom feminino. ❝Tenho total convicção.❞ O suor escorria pela bochecha do criminoso.

Sentada em uma cadeira de madeira envelhecida, uma jovem cruzou as pernas e descansou o cotovelo na coxa, mantendo seus olhos amarelos perscrutadores fixos no assaltante.

— Você... É um Hunter... Não é? — Indagou o delinquente, gaguejando.

Um sorriso curvou-se nos lábios da jovem, que respondeu: — Parece que até criminosos podem ser perspicazes.

— Está me chamando de idiota, sua imunda?! — O criminoso elevou o tom.

— Resposta precisa. Criminosos como você são estúpidos por não perceberem o risco de transgredir as leis de Shibu — A jovem desenroscou a perna direita, que estava sobre a esquerda, desfazendo o cruzamento. Em seguida, cruzou novamente a perna esquerda sob a direita, ainda sorrindo.

— Tsk! Vocês são apenas peões usados pelo governo, seus vermes! — O criminoso aumentou o tom mais uma vez.

— Ei! Reduza o tom. - O timbre da garota se tornou sério e logo em seguida ela se levanta e caminha lentamente em direção ao criminoso, colocando seus dedos delicados abaixo do queixo do homem, elevando sua cabeça e deixando o criminoso encará-la intensamente. — Você ainda não percebeu a sua situação? Retire o que eu disse, vocês são realmente um bando de ignorantes.

Os olhos do criminoso se arregalam mais uma vez ao encarar os assustadores olhos amarelos da garota.

— Para que você se coloque em seu lugar, deixe-me me apresentar. Sou uma Hunter, Hana Yamazaki. — A garota se afasta do homem e se senta novamente na cadeira, cruzando as pernas.

— N-Não pode ser... Você é a... Rainha do Inferno! — O homem começa a tremer como se estivesse diante de um ser demoníaco e diz: - O-O que você fará comigo?...

— Ah, não sou eu. — Hana solta um sorriso, mostrando os dentes. — Deixo a punição em suas mãos, irmão.

A porta se abre imediatamente atrás do criminoso, e passos pausados se aproximam pelas suas costas. De repente, quando estão bem perto do homem, os passos cessam.

O criminoso, com gotas de suor escorrendo por todo o rosto, vira lentamente para cima e avista um jovem de olhos amarelados e cabelos vermelhos, encarando-o com ar de superioridade.

❝Esse sujeito... Tem as mesmas características daquela garota... Será por isso que ela o chamou de irmão? Ah, é isso... Acho que é o meu fim...❞ Pensou o homem, enquanto um arrepio percorria seu corpo.

avataravatar