93 A Caverna das Almas.

"Tac!" "Tac!" "Tac!" "Tac!"

Gosto de trabalhos braçais, principalmente com uma certa repetição, junto do som, é algo relaxante fazer movimentos contínuos, que fez você esquecer seus problemas e focar apenas no barulho limpando sua mente, esqueça meditação, essa coisa só faz você trazer todos seus problemas de uma vez, trabalhar funcionar dez vezes melhor.

"Madeira!" "TRUMM!"

Nem sei por gritei isso, foi engraçado, na verdade, ninguém próximo mim poderia se ferir com uma simples árvore de dez metros de altura caindo sobre ele, mas mesmo assim, gritei avisando, porque parte de mim, sempre quis dizer isso em voz alta numa situação como essa.

"Dio, por que você está gritando tanto?" Perguntou Diana, surgindo do meu lado, ela está vestindo uma longa toga branca com roupas vermelhas abaixo, e em cima do seu ombro, um tronco grosso que ela está segurando com apenas uma mão e na outra, um machado igual ao meu.

Só a Mulher-Maravilha, pode fazer um trabalho braçal sem sujar sua bela roupa branca, e estamos fazendo isso a quase quatro horas.

"É apenas um costume bobo do mundo dos homens, você quer tentar?" Perguntei para ela dando um sorriso, levantando o tronco usando uma fusão de ectoplasma e telecinese até altura da minha barriga.

Diana, olhou para mim sem entender, até que ela virou seu corpo com cuidado, para não bater em nada com o tronco em cima do seu ombro, depois disso, ela andou até outra árvore a nossa esquerda, marcada com um "X" no tronco, marca avisando que essa era uma das que devem ser derrubadas, pegando seu machado, ela o balançou o segurando só com uma mão mirando na altura da sua cintura. Esse pode ser um simples machado, mas esse foi forjado nessa ilha, com um metal muito superior ao aço que temos hoje em dia, isso junto da força da Diana, a árvore caio num só golpe.

"Madeira!" Gritou Diana, vendo o tronco caindo de lado.

Depois que o tronco caio, ela se virou e olhou para mim com um sorriso no rosto e falou.

"Eu gostei disso!"

Sim, foi um belo sorriso, provavelmente o primeiro nesses últimos cinco dias, desde o fim da guerra.

"Vamos." Falou ela em fim, logo após cortar a parte de cima da árvore, deixando apenas o tronco, que ela colocou em cima daquele que ela já estava carregando.

Juntos, andamos na direção da praia, comigo levitando dois troncos.

Sim, já se passou cinco dias desde que Ares, junto da Cale, perderam. Desses dias, fiquei inconsciente dois, acordando no início do terceiro, e só consegui me mover no final dele, atingido pelos efeitos coletareis das poções, que me deixaram como um viciado em drogas sofrendo de desintoxicação, estou falando de alucinações, vômitos, ansiedade e convulsões.

Não foi agradável, os outros estavam muito ocupados cuidando da cidade, por isso tive que lutar contra isso sozinho dentro da minha Casa, deitado na minha cama confortável, que naquele momento, pareciam espinhos perfurando minha carne.

Enquanto isso, as Amazonas que não estavam gravemente feridas junto do pessoal de fora, correram para ajudar os feridos e salvar aquelas presas nos escombros, foi um esforço que começou imediatamente depois da minha perda de consciência, e só acabou um dia atrás, ainda me sinto triste, só pude ajudar algumas horas, não havia muito o que trabalhar no momento que finalmente consegui me recuperar, então, aqui estamos, no quinto dia, e depois de um descanso de um dia, as amazonas voltaram para o trabalho.

Só que isso não foi a única coisa que aconteceu, logo depois que Ares, foi derrotado, uma forte chuva começou a cair sobre a ilha, apagando as chamas, foi como um sinal divino, os deuses finalmente lembraram da existência das Amazonas, e não foi só isso, um dia atrás, o buraco da barreira, que estava se regenerando lentamente, finalmente se fechou, antes disso, Robin, Steve Trevor, seus amigos, Starfire, Raven e a Zatanna, saíram da ilha com grandes agradecimentos da Rainha e suas generais, eles até mesmo negaram uma grande soma de ouro dado como agradecimento, como não havia mais transporte para levar todos, Diana, acabou rebocando o iate da Cale, com eles a bordo até o outro lado da barreira, como o iate ainda tinha o motor intacto, eles conseguiram sair sem problemas.

Starfire, Raven e Zatanna, tiveram que ir pelo simples motivo de estarem completamente esgotadas, mesmo não gostando nada disso, a ilha agora não é um bom lugar para recuperar suas energias, quanto ao Robin, ele seguiu sua namorada.

O motivo para Steve, marido da Diana, ter saído a deixado aqui nesse momento, foi é claro o surgimento do Esquadrão Suicida, a comando da demoníaca Amanda Waller, algo que Steve, deveria saber, sendo o segundo em comando da A.R.G.U.R, e isso para ele foi a última gota, ele está indo se demitir junto dos seus outros amigos, afinal, não havia o que ele pode-se fazer, se a Waller, conseguiu manter algo tão grande escondido dele, o que mais ele não sabe? E isso, acabou com o plano e único motivo dele ainda estar trabalhando na A.R.G.U.S, conter os planos loucos da Waller.

Então, só eu fiquei para trás, a pedido da Rainha, para fazer algo que só descobri algumas horas atrás.

Saímos da floresta chegando na praia, era um dia bonito, sem nuvens com o sol no alto, o local está bem ocupado por um grupo de Amazonas vestidas com suas armaduras trabalhando se movendo de um lado para outro pela areia, cortando os troncos em pequenas tábuas rústicas, as levando até as boias brutas feitas de troncos cortados que ficaram juntos com cordas, as tábuas foram colocados em cima deles, e depois levados as embarcações no mar não muito distante.

Os trirremes, antigas embarcações gregas usadas para guerra, eram uma visão imponente, navios com remos dos dois lados também movida por velas duplas quadradas, uma menor atrás e outra maior na frente, medindo trinta metros de comprimento, dez metros de altura e muito mais de largura, navios magníficos longos feitos com madeira das ilhas, as Amazonas, usaram um pouco de magia na sua criação, assim tornando a madeira muito mais resistente e a embarcação mais rápida.

"Acho que já acabamos, Diana." Uma das amazonas, andou até nos, ela está bem ferida, com o braço preso por uma tipoia de pano e grande parte do seu corpo coberto por ataduras.

"General Antíope, tia." Cumprimentou Diana, colocando o tronco no chão, fiz o mesmo que ela, e logo as amazonas vieram até eles, trabalhando juntas os levando para serem cortados.

Antíope, uma mulher alta e loira de olhos azuis, vestindo uma armadura de couro azul com detalhes dourados, um elmo de ouro que parecia mais uma coroa, parou de frente para nós dois, ela, como me foi apresentada mais cedo, é uma das amazonas de maior poder na cidade, irmã da rainha, e também seu general. Diferente da sua irmã, que tem um "ar" mais real e um postura impecável, Antíope, é o que chamamos de guerreira completa, alguém que os seus soldados seguiriam até o inferno se isso fosse sua ordem.

"Me doí ter que desmatar nossas ilhas dessa forma, mas vale a pena no final." Falou ela olhando para o trabalho das outras Amazonas.

Sim, ilhas, essa é mais uma coisa que descobri hoje.

Mesmo que a Ilha Paraíso, seja o local aonde todas as amazonas, faunos e muitas outras raças habitam, o território em que o campo de força está envolve muitas outras pequenas ilhas, espalhadas ao redor da maior, a maioria delas está vazia, como a aqui estamos agora, mas outras estão habitadas, por exemplo, a uma ilha só para os monstros chamada de Ilha Proibida, algumas também foram escolhidas como morada por amazonas que escolheram viver no isolamento, a por fim, e não menos importante, a Ilha da Reforma.

A Ilha da Reforma, é uma prisão, mas não uma comum, essa prisão, não apenas deixa os prisioneiros em cárcere, mas também tenta com todas as suas forças recuperar essa pessoa por meio de reabilitação, de certa forma, essa prisão é tudo que as prisões do lado de foram deveriam ser, e esse lugar acabou de receber, Verônica Cale.

Aconteceu um julgamento algumas horas atrás, foi um julgamento justo, mas do que Verônica merecia, e nenhuma pessoa culparia as Amazonas por simplesmente a mandarem ser executada, mas elas eram muito evoluídas para isso, e o julgamento durou uma hora.

Pode parecer pouco tempo, e que não foi algo justo, mas não há por que haver advogados ou inúmeros recursos e até mesmos jurados, quando a pessoa sobre julgamento está segurando o Laço da Mulher-Maravilha, na verdade, o julgamento deveria durar apenas alguns minutos, ele durou esse tempo todo, porque os crimes relatados pela Cale, que aconteceram, é claro, no mundo dos homens, eram inúmeros.

Estamos falando aqui de experiências em humanos até mesmos testes em larga escala em vilas aonde a luz ainda não chegou, fora assassinatos, sequestros, chantagem, roubo e a lista continua. Não é por menos que a Waller, arriscou tudo para salvar ela, Cale, é uma mina de ouro em informação e poder político, já que a maioria dos seus crimes envolvia muitas pessoas de lugares altos no governo e forças armadas.

Gravei tudo que ela disse, vou enviar depois para o Batman e Robin, mas sei que isso não vai dar em nada, já que a única forma de os prender é levando Cale, para fora da ilha, e duvido que ela vá testemunhar num julgamento, assim que ela estiver fora da Ilha, vai estar completamente protegida de novo, não, é melhor deixar ela aqui, pagando pelos seus pecados.

No final, ela foi julgada culpada, e a Rainha, mostrou credencia no final, porque reconheceu que a dor da Cale, foi que a motivou em tudo isso, sendo enganada pelo Ares, por isso, ela não foi executada imediatamente, e sim condenada a perpétua. Não vou mentir, parte de mim queria uma execução, ainda mais depois de ver os muitos e muitos corpos das Amazonas mortas.

"Tia, isso não vai ser um problema por muito tempo, as dríades vão recuperar todas as árvores no futuro, me doí também ter que fazer isso, mas também é o certo a se fazer." Comentou Diana, movendo a madeira para as boias comigo do seu lado, e com sua Tia, nos acompanhando logo atrás.

"Vejam, finalmente chegou o dia em que minha pequena sobrinha, me deu um conselho sábio e maduro, onde está a pequena menina que fugia da sua cama a noite para escalar a torre a procura das estrelas?" Brincou Antíope, fazendo Diana, ficar envergonhada.

"General Antíope, você poderia cortar mais dessas histórias? Elas são realmente incríveis." Pedi esperançoso.

"Você pode me chamar apenas pelo meu nome Diomedes, filho de Hades, o que você aceitou fazer vai ter um grande peso para nós, e sua ajuda na batalha, salvando nossas irmãs com seu demônio, fez você ganhar esse direito." Falou a General Antíope, curvando sua cabeça para mim, o que foi algo muito estranho.

Acho que subestimei o peso do pedido delas, não vou mudar minha resposta, não é grande coisa para mim, na verdade, mas para elas, parece ser muito.

"Infelizmente Dio, não temos tempo para histórias, vamos agilizar um pouco as coisas, o anoitecer está chegando rápido." Não querendo ser mais envergonhada, Diana, achou uma saída, me fazer trabalhar como um burro, um burro com super-velocidade.

Duas horas depois, estamos prontos com todos os trirremes carregados. Subimos no maior deles, e as mulheres remendo já estão fazendo a volta com ele no mar, e as velas, já estão sendo levantadas.

Fiquei muito animado na minha primeira experiência marítima real, eu odiei.

Que dizer, velejar já não é algo fácil para todos, muitos ficam enjoados e passam mal por conta do balanço, imagine então sofrer isso tendo super-sentidos, senti isso mil vezes mais, não foi agradável, sorte que a viagem não era longa.

Mesmo odiando estar no trirreme, não posso negar a vista, o mar azul brilhando sobre o sol, o vento e o cheiro do sal, isso com certeza, recuperou todas minhas energias, e assim, velejamos rapidamente até a Ilha Paraíso, aonde temos mais trabalhos esperando por nós e muito pouco tempo, afinal, tudo tem que estar pronto no anoitecer.

"Você está pronto?" Perguntou Diana, se aproximando atrás de mim, que estou colado com a proa.

"Não levei muito a sério o pedido, achei que não era grande coisa, acho que me enganei profundamente, não é?" Perguntei para ela, sem virar meu rosto, qualquer pequeno movimento, aumenta meu enjoo.

"Para nós, sim, é uma grande coisa, mas Dio, não fique preocupado, apenas faça como falei, você vai se sair muito bem."

"Mesmo assim, podemos repassar tudo de novo?" Pedi para ela.

"Claro Dio, quantas vezes você quiser." Mesmo olhando paro o mar, senti outro sorriso.

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O pôr do sol está acabando, estamos literalmente naquele momento entre o último segundo de luz e a total escuridão com as estrelas acima já tomando o lugar dele, mas com o chão ainda iluminado enquanto o sol, desaparecia na nossa frente como se estivesse mergulhando no mar, o local escolhido para realizar esse evento bem na frente do sol foi simplesmente perfeito.

Atrás de mim, estavam Diana, Rainha Hipólita, General Antíope e a General Philippus, amante da Rainha. Todas elas estão vestidas com longas togas brancas, tão brancas quanto a neve, e só a Rainha Hipólita, que está armada com seu longo cajado dourado, que ela está segurando com força, ainda se esforçando para ficar em pé, assim como sua amante, elas sofreram ferimentos graves, e nem mesmo deveriam poder se levantar.

Atrás da maior força de comando da Ilha Paraíso, estão as Amazonas, faunos e dríades, todos eles vestindo armaduras militares em sentido e formação de batalha, todos menos as dríades, que estão vestidas com longos vestidos feitos de folhas verdes. Esse pequeno exército, que não deve ter mais do que trezentos, é tudo que sobrou das Amazonas.

Na minha frente, piras funerárias. Elas foram montadas na praia altas, medindo três metros de altura e o dobro disso em largura, a madeira ao seu redor, troncos largos bem cortados, em cima, uma cama de feno cheia de flores, cortesia das dríades, a também madeira e feno em baixo delas para queimar por muito tempo.

Postos em cima da cama de feno e flores, os corpos dos mortos, todos eles foram bem cuidados, como manda a tradição grega, lavados e untados com óleo perfumado e envolvidos em vestes brancas, aqueles que não tiveram a sorte de deixar um corpo em um bom estado, foram envolvidos completamente por panos brancos, os outros tem seu rosto amostra.

Passei a última hora andando por todos os corpos, subindo de pira em pira sem presa, colocando na boca de cada um dos mortos um dracma de ouro, como a tradição manda, moedas para o Barqueiro.

E por que fiz isso vestindo uma longa toga ? Minhas vestes são negras como a noite sem estrelas, cobrindo não só meu corpo, como também minha cabeça parecendo um capuz, na minha mão dominante levantada, uma tocha acessa.

Na verdade, devido ao meu pai, rituais como esse ganham muito mais sentido e força, da mesma forma se um filho de qualquer outro deus ou deusa fizer um ritual adequada para seu pai ou mãe divino, é uma grande honra ter um funeral sendo realizado por mim. Eu não sabia disso antes, os rituais antigos gregos não são minha especialidade, mas quando me pediram para realizar esse, não tive como negar, a Rainha Hipólita, mesmo ferida, quase caio no chão na sua tentativa de se curvar diante mim no momento antes de começar o ritual, assim como todas as outras que colocaram um joelho no chão seguindo sua Rainha, então, sem pressão.

Assim, parados sem dizer nada apenas olhando para o horizonte, esperamos por quase meia hora vendo o sol quase que se escondendo completamente no mar.

"Está na hora." Rainha Hipólita, falou em voz baixa atrás mim, está na hora de continuar.

Levantei a tocha acima da minha cabeça, chamando atenção de todos para o fogo, que também não é comum, ele brilhava com uma cor entre o amarelo sol e dourado, com seu entorno sendo vermelho, e essa chama, parecia ser imune aos ventos fortes que vinham sem parar do mar, ela nem mesmo tremia. Pelo que me disseram, essa tocha foi acessa no templo do deus Hermes, e como ele tem o divino dever de levar as almas desse mundo para o Submundo, faz sentido seu fogo ser usado dessa forma.

Como me foi ensinado, fiz minha mana percorrer meu corpo na direção da tocha, e tudo funcionou meio que sozinho depois disso. Um vento forte finalmente fez a chama tremer, e dela, pequenas brasas brilhantes foram levadas pelo ar na direção das piras. Aconteceu de uma forma só possivelmente explicada com uma palavra, mágica, cada pequena brasa, menor que um grão de areia, encontrou uma pira, incendiando toda aquela madeira de uma só vez, bem no momento em que o sol finalmente desapareceu, levando com ele a pouca luz que tenhamos, agora substituída pelas piras, queimando lindamente com chamas avermelhadas como o pôr do sol chegando aos seis metros.

Foi bonito, e também triste, assim com um velório deve ser.

As chamas continuaram fazendo seu trabalho, minha atenção não estava mais nelas, e sim no espetáculo visível apenas para meus olhos, almas, não fantasmas, almas puras brancas como a neve do tamanho de bolas de futebol, elas saíram das chamas flutuando para longe de forma organizada na direção do mar, sendo guiadas por alguém ou algo até o Submundo, formando um rio de luz branca acima do mar desaparecendo no horizonte.

Ficamos mais de uma hora apenas observando as piras queimarem, até que senti a mão da Diana, sobre meu ombro.

"Vamos, Dio." Falou ela, parecendo bastante triste.

"Para onde?" Pergunto para ela, não me foi falado mais nada o que fazer depois desse ato.

"Beber, brigar, chorar, rir, amar e contar histórias daquelas que caíram, para nunca mais as esquecermos!" Respondeu ela.

Olhei para trás, e todo exército estava rumando em direção da sua cidade destruída, para a metade ainda em pé, em direção a praça, onde está o vinho e comida.

Estava pensando em simplesmente ir embora depois disso, as Amazonas, foram mais uma vez machucadas pelas ações de um homem, e mesmo sendo filho do Hades, e responsável pela derrota desse inimigo, não quero e não acho que seria bom ficar aqui muito mais tempo, mas estava errado, as Amazonas me mostraram isso quando me juntei a elas.

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Onde estou? Não, melhor perguntar, como cheguei aqui?

Não estou alto ou com falta de memória por conta das festividades de ontem, sei muito bem que a Rainha Hipólita e a Diana, me chamaram depois de acordar no dia seguinte da lamentação das caídas, depois disso, andamos até a parte de trás da ilha, e depois, não sei, foi isso, não consigo lembrar do caminho, é como se ele tivesse sido arrancando da minha mente.

Agora, pensar no dia anterior me traz um sorriso no rosto, como Diana falou, tivemos muita bebida, choro, alegria, lutas e também amor, no final, fiquei com duas amazonas que me levaram para uma casa destruída, e lá dormimos, por algumas horas, o resto da noite foi gasto em outras atividades.

Foi uma boa noite.

Não, vamos voltar para o problema principal e mais urgente.

"Como chegamos aqui?" Pergunto para as duas, mãe e filha, andando lado a lado na minha frente.

A Rainha Hipólita, estava segurando uma tocha acessa acima da cabeça, a única luz nesse lugar escuro, vestindo uma toga azul sem qualquer outra joia, descalça, parecendo agora mais uma devota que rainha.

"O caminho é protegido por fortes feitiços, mais fortes até que a barreira cercando nossa casa, as Deusas Ártemis, Afrodite e Hera, gastaram muitos tempo e esforço para proteger esse lugar, por isso só a Rainha das Amazonas, sobe o caminho, até mesmo aqueles que ela guia, tem sua memória arrancada do caminho até aqui." Explicou Hipólita, ainda andando no seu ritmo.

Isso me fez olhar com mais atenção o local onde estamos, era uma caverna, um túnel de pedra em uma caverna de rocha cinza e branca comum, com vinte metros de largura e mais do que isso de largura, o caminho que estamos andando, foi pavimentado por pedras, por isso é uma caminhada facil para todos.

"Por que me mostrar um local tão seguro?" Não sei que lugar é esse, ou o que elas guardam aqui, mas com certeza, é valioso.

Quem me respondeu, foi a Diana.

"As Amazonas, não dão valor a joias e dinheiro como o mundo dos homens, damos valor para honra, conhecimento, companheirismo, amor e liberdade, e você Dio, junto dos outros, nos ajudaram num dos momentos mais negros da nossa história, não apenas salvando todas, como também o mundo, porque ele acabaria com certeza, se Ares, ganha-se."

Continuamos andando por mais alguns metros, até ela continuar a falar.

"Não podemos o recompensar com ouro e joias, porque isso você tem demais, então vamos mostrar algo para você, algo que nenhum outro homem ou deus já viu, essa vai ser a prova de que Diomedes Inwudu, Filho de Hades, é um aliado de Themyscira, hoje e para sempre."

Tais palavras, atrasaram um pouco meu passo, mas retomei o ritmo logo em seguida.

"Seus outros companheiros, também poderiam andar conosco hoje, mas você pode transmitir o significado do nosso gesto para eles depois, mas não mencione nada sobre o local onde estamos indo e seu propósito, isso é lei, e vamos saber se ela foi descumprida." Avisou a Rainha, num tom muito sério, não é para menos, já ficou muito claro a importância desse lugar.

Assim, voltamos a andar em silêncio, e de um momento para outro, percebi que o chão começou a ficar mais estreito, no final se tornado uma ponte de pedra que começou a subir na escuridão, não havia nada dos meus lados, sendo a única luz a tocha acessa na minha frente, que não conseguia perfurar a escuridão, iluminando apenas nossos corpos.

Então as duas pararam, chegamos no fim, literalmente.

A ponte de pedra simplesmente acabava, sem nenhum sinal ou aviso, e se elas não estivessem na frente, teria provavelmente caído no buraco tão fundo, que não consigo ver o chão mesmo com minha visão.

Hipólita, se virou para mim e falou em voz baixa.

"Bem-vindo Diomedes, a Caverna das Almas!"

Foi como se ela tivesse ligado um interruptor, e a luz surgiu. Começou devagar, uma, dois, três bolas de luzes surgiram no ar na nossa frente, todas elas deixando um rastro de luz por onde passavam no seu movimento como cometas.

Cem, duzentas, e assim vai, até que tudo na minha frente estava tomado de luz, essas bolas estavam girando num cilindro perfeito na minha frente, e seu rastro de luz, era simplesmente lindo, e para aumentar tal beleza, brilhos cintilantes surgiram em momentos aleatórios entre a dança.

"Almas, são todas almas." Falei em voz alta assustado.

Já vi muitas almas, mas nunca elas foram tão belas, como se tivessem se fundido com pura luz, e nunca na sua vida tivessem sido tocadas por nenhum pecado, algo impossível de se conseguir vivendo, exceto se você fosse um simples bebe no momento da sua morte.

Foquei minha visão em algumas almas individuais, vendo mais do que se é possível com meus olhos, e junto dos meus poderes, entendi o que eram elas.

"Almas de mulheres, são todas mulheres, mas elas foram purificadas de alguma forma." Voltei a falar, agora com um pouco de lágrimas nos olhos, elas eram simplesmente magníficas.

"A Caverna das Almas, o conjunto de mulheres que morreram em atos de violência, elas tiveram suas almas transformadas em feixes de luz e postas aqui, esse é o berço da nossa civilização, e dessas almas, que as Amazonas são criadas após serem purificadas." Explicou Hipólita.

"Tudo isso graças a Deusa Ártemis, que teve a coragem de desobedecer seu pai e junto de outras deusas, usaram esse lugar para dar uma chance de uma nova vida para essas mulheres." Continuou Diana.

"Nossa casa foi destruída, e muitas das nossas irmãs mortas, nossos números nunca foram tão baixos, mas Themyscira, não está acabada, vamos nos erguer mais uma vez, construções vão ser levantadas mais uma vez, e novas irmãs, iram se juntar a nós!" Declarou Hipólita, voltando seu olhar para as luzes mais uma vez.

Eu, continuei sem tirar meus olhos do local, quase não escutando o que elas falaram, sendo um filho do Submundo, vislumbrar tal beleza, é muito melhor que qualquer outro tipo de recompensa monetária, agradeço de todo meu coração por estar aqui.

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Um dia atrás, bem no momento em que as piras funerárias estavam no seu ápice sobre o olhar constante das Amazonas e de toda a ilha, duas mulheres ficaram mais afastadas, observando discretamente atrás do que sobrou da floresta, do outro lado da praia, longe demais de qualquer olhar mundano, atrás de uma grande pedra medindo cinco metros de altura cravada no chão, com seu corpo colado a ela olhando sutilmente para a cena.

A mulher adulta, usa uma armadura de couro preta colada ao seu corpo, cabelos pretos longos presos num rabo de cavalo alto, olhos pretos e com um corpo escultural, um corpo de uma guerreira, mas o traço mais marcante nela, é a letra grega antiga ômega (Ω), tatuado em preto bem abaixo do seu olho esquerdo.

"Veja filha, veja como nossas irmãs cairão." Suspirou ela, olhando para o homem conduzindo o funeral de suas irmãs, mas ela não olhou para ele por muito tempo, os sentidos dos semideuses eram poderosos, e ela sabe muito bem como uma assassina se manter escondida.

"Mãe, então não valeu a pena libertar aquele deus?" Perguntou a segunda mulher, na verdade, era uma criança pequena, com seu corpo coberto por uma capa longa preta com capuz, a única coisa visível no seu rosto, eram seus olhos vermelhos brilhantes, sem pupila ou ires, apenas vermelho.

"Falhamos Grail, depois de todo aquele trabalho para libertar Ares, ele foi um inútil, e mesmo com toda essa destruição, ele não conseguiu lembrar nossas irmãs do ódio que os homens causaram a nós as fazendo voltar para sua missão divina, mas o que se pode fazer, não importa se é um homem mortal ou imortal, todos eles são incompetentes, por isso sua falha já era esperada."

"Até mesmo meu pai?" Perguntou Grail, segurando a mão da sua mãe, se escondendo atrás do seu corpo inclinando a cabeça para ela, se parecendo agora, mas uma menina de sua idade do que uma assassina em treinamento.

"Não, seu pai não é um deus, ele está acima disso, por isso você deve treinar mais filha, então um dia, você vai conseguir o matar." Myrina, assassina, mãe e Amazona banida, sorriu para sua filha com orgulho, já pensando no futuro dela e na sua missão, assim como na sua glória ao completar a tarefa de matar seu pai, assim livrando o mundo e o universo do seu maior perigo.

"Vou me esforçar mais mãe, eu juro!" Falou a criança animada, desconhecendo ainda o terror e poder do seu pai, assim como a dificuldade da sua missão impossível de ser realizada.

"Vamos então, vamos para casa e continuar o treinamento, falhados aqui, e não vou gastar mais nenhum dia com minhas irmãs, pelo menos não antes do seu treinamento estar concluído." Falou sua mãe, puxando a mão da sua filha para trás da pedra.

Mãe e filha, que estavam observando tudo que aconteceu na ilha desde a destruição da barreira, caminharam para seu veículo, uma pequena lancha escondida do outro lado da ilha, depois disso, as duas saíram sem serem percebidas, afinal, uma assassina era muito boa entrar e sair de lugares sem ser notado.

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