55 Sob a Torre Eiffel

"Bolinho, não se preocupe. Eu te ajudo a conseguir o dinheiro no cassino, vem vamos ver os carros." Jun falou ao se afastarem um pouco dos outros que continuavam olhando o carro de Takashi. Os dois saíram caminhando discretamente para o elevador panorâmico.

Haruki ficou aliviado com a oferta de ajuda de Jun. O cantor não queria voltar sozinho para a ilha para morrer de tédio. Ele tinha pensado que o namorado fosse propor que os dois voltassem juntos para a mansão.

'Namorado?! OMG eu já penso em nós como sendo namorados!' Claro que eles poderiam aproveitar para terem a sua primeira vez com privacidade e paz. Jun não tinha muitos diamantes, nem muito dinheiro. O cantor se lembrou da ficha do Bad Boy. E por ter ficado cuidando a noite inteira de Daisuke, ele não teve oportunidade de ganhar nada no cassino. Ele também não tinha como comprar o carro agora. Pensando nisso, o cantor constatou que nem o Influenciador digital tinha como comprar um carro. Os três teriam que jogar quando o cassino fosse reaberto. E teriam que ganhar ou os três voltariam para a ilha, e adeus à privacidade que ele pensou que teria com Jun.

Mas o que Haruki mais queria agora era participar do rally, e não acelerar as etapas na relação, que ele preferia iniciar no mundo real. Jun era muito fechado e o cantor queria conhecer mais sobre seus pensamentos, passado e sentimentos. Mesmo querendo essa intimidade com Jun, bastava o Bad Boy piscar para ele abandonar seus objetivos, e se jogar nos braços e nos lábios do Lovebread!

"É parece que desta vez eles acertaram no nosso gosto." Hinata falou entrando com eles no elevador. O coração do cantor pulou em seu peito fazendo uma corrente elétrica varrer o corpo de Haruki que tropeçou em seus próprios pés de susto. Jun o segurou para não cair no chão. O cantor não tinha percebido a aproximação do estudante sênior ao seu lado.

'Será que Jun fez a oferta de irmos ver os carros, e não de voltarmos para a mansão por causa do Hinata-kun estar ouvindo?' Haruki se sentiu inseguro, mas não tinha como sanar sua dúvida agora com Jun.

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O deque 4 era um recorte de vários pontos turísticos de algumas cidades famosas. Arcos gregos, torre de metal, pirâmide de vidro ao lado de uma torre inclinada, de estátuas de leões e anjos, tudo espalhado entre cruzamentos que levavam até a Casa de Câmbio e ao Monde Car.

Haruki viu uma grande praça com fontes de água que formavam desenhos que iam mudando em uma coreografia sincronizada ao som da valsa 'La Valse de L'Amour' de Patrick Doyle.

O cantor sentiu sua pele granular e sua mente fugiu para o passado, o emocionando. Então ele falou,"Eu vou ficar ali na fonte um pouco. Vocês podem me fazer companhia se quiserem, ou irem para a loja." Haruki falou olhando primeiro para Jun, com olhos pidonchos para que ficasse e depois para Hinata.

"Okay,eu vou entrar para ver as opções." Jun nem pensou para responder, disparando sua resposta. E sem nem um olhar para Haruki ou para a fonte, o padeiro foi caminhando para o Monde Car, deixando para trás um cantor decepcionado.

'Droga! Jun não sabe ser romântico mesmo, enquanto eu estou pensando em nós como namorados. Sou um trouxa.' Haruki odiou ter que admitir para si que, as pétalas de rosas na suíte tinham um caráter prático e objetivo, _conseguir sexo.

'Como eu posso ser tão burro?!' O cantor sabia que não foi por ingenuidade que ele ignorou todos os sinais de que Jun era apenas um cafajeste. Afinal, quantas vezes ele ouviu as táticas baratas dos colegas atletas para amaciarem uma garota até conseguirem 'uma enterrada'. E Jun tinha deixado claro desde o começo que era isso que ele queria do cantor, 'uma enterrada' no brioco de Haruki.

"Eu também vou entrar Jun-senpai." Hinata falou escolhendo ir. 'Vai puxa-saco mor, acompanhe o seu mestre Bad Boy.' Haruki pensou ressentido.

Cabisbaixo, o cantor começou a caminhar pelo passeio entre as águas da fonte ativando o sistema de luzes no piso espelhado sob seus pés.

"Ha ha ha!" Haruki forçou seu riso, decidido a afastar Jun de seus pensamentos. Ele começou a valsar levantando os braços, em torno de uma parceira imaginária. O cantor saiu girando seu corpo na ponta dos pés, com movimentos fluídos, alongados . Ele adorava a 'La Valse de L'Amour', que tinha sido a primeira música que Haruki teve que treinar para dançar.

~Era um baile na embaixada da Áustria e toda a família foi convidada. Apenas Sayuri, sua irmã mais nova, não pôde ir pois tinha exames no dia seguinte. Ele e seu irmão Eiishi ficaram intimidados ao saber que seria um evento muito formal e talvez tivessem que dançar, e a mãe insinuou que eles teriam um benefício se não parecessem duas árvores na embaixada do país da valsa.

Enquanto o pai aproveitava os louros de seu árduo trabalho público ao lado da esposa, Eiishi valsava com as garotas mais jovens. E todas as senhoras da festa quiseram ter Haruki de par. Ele tinha apenas quatorze anos na época. ~

Diferente daquela noite, hoje, o jovem homem aproveitou o momento para extravasar seus sentimentos. O cantor tinha descoberto no SPA, ao se apresentar para Jun que ele sentia falta de se expressar artisticamente. Os treinos exaustivos tinham tirado muito da alegria que Haruki sentia quando dançava. E sobre Jun, o cantor decidiu que aproveitaria melhor cada momento juntos, sem o sufocar com perguntas. E sem se preocupar se haveria um futuro para os dois. Afinal eram dois homens que em poucos anos deveriam pensar em ter suas famílias. Ou aceitar uma vida solitária por muitos anos, coisa que Haruki dispensava. Ele queria formar uma família definitivamente.

"Cláp! Cláp! Cláp! Cláp!"

Haruki se virou com um rodopio e viu Saito aplaudindo sua performance.

O cantor se inclinou artisticamente, tirando um chapéu imaginário da cabeça, agradeceu seu público inesperado.

"Saito-senpai, não vai entrar no Monde Car?" Ele questionou curioso.

"O que eu quero está aqui." O alpinista falou se aproximando o suficiente para tocar o rosto de Haruki em um carinho erotico. Instintivamente o cantor afastou seu rosto.

"Hpmf" Saito crispou os lábios inclinando seu tronco para trás ofendido. "Sempre assim comigo," reclamou.

"É que Saito-senpai está confundindo as coisas…" Haruki rebateu, mas parou de falar pela força no olhar de Saito.

"Haruki, suas conclusões estão erradas. Você usou o pouco que sabe de mim para me julgar, e condenar. Mas não é assim com Jun. Dele você aceita qualquer desculpa, até a mais esfarrapada, para ficarem nus em uma banheira sozinhos. Eu sei que ele já fez muitas coisas com você. E você não concluiu que ele estava confuso." Saito voltou a se aproximar de Haruki. O cantor sentiu vontade de se afastar. Foi na base de disciplina e autocontrole que manteve-se ereto, sem desviar seu rosto do rosto de Saito. Os dois homens ficaram nariz a nariz de tão próximos.

"Eu descobri que suas promessas são vazias. Você me deu a sua permissão para jogar esse jogo, proposto por você. Mas toda vez que eu jogo, você me manda parar." O alpinista finalizou dando um passo à frente e colando seus corpos.

A princípio Haruki não sabia o que esperar, então Saito deslizou por Haruki como em um bailado e caminhou para a fora do jardim das águas.

O cantor soltou o fôlego, respirando pesado. Saito era intenso demais! Haruki percebeu que tremia ao olhar para suas mãos. 'É mesmo culpa minha, eu esqueci do nosso acordo.' Ele balançou a cabeça. Ele sabia dos sentimentos de Saito e o deixou ter esperanças ao dizer sim. Haruki levou as mãos à cabeça, 'Como eu resolvo isso?'

Ainda sem saber ao certo o que deveria fazer, Haruki foi para o Monde Car atrás do alpinista. Ele queria se desculpar.

Haruki correu para alcançá-lo, que ao invés de ter ido para a loja, tinha ido para a direção da torre de ferro, parecia com a torre Eiffel, mas em miniatura.

"Saito me espere, me deixe explicar." Haruki parou ao seu lado.

O alpinista voltou a encarar o Haruki, "Se decida, jogue o jogo ou admita que nunca teve intenção de honrar sua palavra. Que você brincou com os meus sentimentos Haruki."

"Eu não estava brincando…"

"Então prove agora e me beije e prepare-se para gostar."

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