28 Calcinhas e Hematomas

Tão rápido quanto o primeiro golpe, Saito se afastou de Haruki ficando em pé.

"COFF COFF," Haruki tossiu ao sentir a garganta desobstruída. O ar atravessando a traqueia doía. Ele soltava o ar dos pulmões bem devagar para voltar a respirar normalmente. Ele levou as mãos ao pescoço para massagear o local magoado.

O cantor ficou preocupado se conseguiria falar normalmente, e mais, se conseguiria cantar depois desse quase estrangulamento.

"Por favor me desculpe Haruki! Eu me assustei," o aventureiro falou envergonhado, se curvando para o cantor. E em seguida aproximou-se novamente de Haruki para olhar o dano que havia feito em sua garganta.

O cantor compreendeu que foi por puro reflexo que o aventureiro o tinha machucado.

'Ele foi tão ágil! Saito se quisesse poderia ter me matado.' Pensou com o coração de Haruki batia acelerado. Ele olhava o aventureiro em silêncio, ele precisava de um tempo para se acalmar.

"Me deixe fazer isso, por favor," Saito pediu, levantando suas mãos para massagear o local da garganta que ele tinha pressionado.

Haruki baixou suas mãos, se deixando ser massageado por seu agressor. 'Claro! Saito é filho de uma lenda do Judô e deve ter sido treinado desde pequeno.' O cantor concluiu, mesmo assim, ser o alvo de sua perícia tinha sido assustador. O cantor lembrou-se de Jun avisando que Saito era perigoso. 'Será que Jun também sabe lutar?' Seu pensamento foi para o homem que ocupava seus pensamentos.

"Haruki fale comigo, você está melhor?" Saito perguntou parecendo aflito.

Sua preocupação afastou os pensamentos de Haruki em Jun, trazendo o cantor para o presente. Haruki prestou atenção no homem a sua frente, e percebeu que agora Saito lhe causava arrepios.

O aventureiro era a 'Caixa de Pandora' que o cantor descobriu não querer ver aberta.

"Hm estou melhor pode parar." Sem encarar o aventureiro disse enfim com um pouco de esforço.

Levantando-se do colchão Haruki foi para o banheiro olhar se ficaria alguma marca. E viu com desgosto que a pele estava manchada. A pele pisada estava num tom feio de roxo, e essa grande mancha na pele branca se destacava de longe.

Haruki suspirou resignado indo tomar uma ducha demorada, gelada, para tentar acelerar sua cura, a garganta ainda doía quando terminou o banho.

Ao ir se vestir, o garoto procurou em todas as suas novas roupas alguma blusa que tivesse a gola mais alta. Ele era vaidoso e não queria desfilar esse hematoma por aí.

Como que lendo sua mente, Saito lhe estendeu uma malha. Haruki experimentou, mas mesmo a gola sendo rolê ainda se via a contusão.

"Haruki me diga como eu posso me redimir," Saito pediu, parecendo mortificado.

O cantor lembrou de si mesmo se desculpando com Miyu.

"Ei cara, estamos bem. Desde que eu fique no sofá, okay?" Haruki o tinha perdoado, mas acidentes aconteciam. Era melhor não correr o risco de haver um repeteco.

O aventureiro fez uma expressão que Haruki não compreendeu o que seria.

"Eu vou te compensar, eu prometo." Disse Saito saindo do quarto antes do cantor.

Sem fome, talvez por causa da dor Haruki decidiu fazer um pouco de exercícios ao ar livre primeiro e depois ir comer. Ele também não queria ser visto por Jun que provavelmente estava tomando o café da manhã. Então sai sorrateiramente para caminhar, prestando atenção no caminho para ver se havia mais alguma mudança no cenário hoje. Poderia ser só sua impressão, mas parecia que a temperatura estava mudando pela primeira vez. O céu não estava tão claro, e o vento estava esfriando.

Haruki parou de caminhar ao ver Hinata agachado futucando uma planta.

"Oiê! Hinata-kun bom dia!" Haruki caminhou a passos largos para ver o que ele estava fazendo tão cedo fora da mansão. E chegando mais perto percebeu que o garoto kawaii estava enterrando algo. Mas o quê?

Hinata estava com as bochechas vermelhas e o olhar assustado.

"Oi, ... bom dia Haruki-senpai. Por favor, não conte a ninguém," ele pediu ao cantor.

"Hm não contar nada a ninguém sobre o quê?" Haruki não viu o que Hinata havia enterrado. O Estudante por sua vez pareceu ficar ainda mais envergonhado e indignado por ter revelado sem ser preciso sobre seu segredo.

"Ooh bobagem, só uma bobagem. Nossa está ficando frio. Vamos voltar, senpai?" Hinata olhava com carinha de sofrimento enquanto esfregava os braços vigorosamente para dar veracidade ao seu argumento.

"Sim vamos." Haruki segurou o ombro dele, "Ei, não tão rápido. Vamos depois que você me contar o que enterrou e porquê." O comportamento do mais novo era muito estranho e Haruki estava com urticária de tanta curiosidade.

"Aff," suspirou Hinata tomando fôlego para falar, "Ooh, é tão constrangedor! Por favor, senpai, por favor." O estudante ficou implorando para não falar.

Mas diante do olhar firme de Haruki o garoto kawaii desistiu e contou, "É minha roupa. Ita-san não lavou." Hinata estava muito vermelho.

Haruki sentiu vontade de rir alto, mas não o fez. Tossindo para disfarçar o riso, ele consolou o garoto. "Hm e você preferiu enterrar a roupa do que lavar ?"

"Eu detesto tarefas domésticas. Sou eu que faço toda a limpeza da casa desde do dia em que meu pai me buscou na delegacia." Hinata falou o tempo todo olhando para o chão, envergonhado.

Haruki concordou com a cabeça que era difícil para o Estudante. Mas também compreendia o motivo de seu pai tê-lo castigado tão severamente. Para um policial do alto escalão ser chamado a uma delegacia por causa de uma traquinagem do filho foi muito vergonhoso. Era como se Hinata não estivesse recebendo educação sobre certo e errado em casa.

O cantor também olhava o chão, solidário a Hinata. E seus olhos ficaram fixos no lugar do esconderijo. Era um buraco pequeno. Pequeno demais para caber as roupas de Hinata. O pequeno patife estava mentindo?

"Hm você é muito bom com história e interpretação Hinata-kun! Só se esquece que as provas são incontestáveis. Olha esse montinho de terra aí, como você pode ter enterrado calças, cueca, camisa…"

"Calcinha. Eu enterrei uma calcinha." A voz de Hinata saiu esganiçada ao revelar seu real segredo.

Haruki ficou mudo de surpresa, e corou em seguida por ter forçado o garoto a confessar seus segredos.

"Não zoaram só com você. No meu closet tinha calcinhas transparentes."

"GRRR"Haruki soltou um palavrão, sem conter sua raiva.

"Eu as estou enterrando aos poucos, não queria chamar a atenção. Por favor senpai não fale nada," Hinata era mesmo uma criança. Achando que a culpa era sua por ser um lindo fofinho.

Haruki ficou muito indignado. Ele queria chamar Honda Seichiro e esfregar 'as provas' na tela. No entanto, antes precisaria conseguir a permissão do garoto.

"Hinata-kun você não precisa se envergonhar de nada. Foi um idiota quem fez isso. Você sabe, não tem nada a ver com quem de fato nós somos, mas sim com quem eles acham que nós somos. Okay, ficou esquisito como eu falei isso. O que eu estou dizendo é," Haruki parou de falar ao ver o garoto levantar um dedo e pôr sobre seus lábios.

"Eu compreendi. E sei que ser andrógino tem esse viés, eu sei que causo desejo nos homens, que eles me olham e me desejam. Sei até que essas 'lembrancinhas' que deixaram no meu closet revelam mais sobre quem desenhou do que ele imagina. Eu só não quero ser motivo de chacota aqui. Sabe, aquele dia do show para Jun?! Eu teria me jogado no mar se Saito tivesse me escolhido para ser seu submisso." O garoto explicou para o cantor suas impressões daquele dia. Só depois de Hinata desabafar suas lembranças, o garoto kawaii olhou para Haruki.

E foi a vez de Haruki ficar vermelho.

E ao ver a marca no pescoço do cantor, sua face infantil virou uma carranca pelo assombro, com os lábios formando um biquinho. Hinata levantou a mão direita com o dedo indicador apontando para a mancha que escapava da gola rolê enquanto e disse afobado, "Oh oh senpai, seu pescoço está preto! Oh oh, vocês continuam brincando? Ele te sufocou? Oh oh, vocês são amantes? Oh oh, você gostou?" O garoto estava delirante e fazia uma pergunta atrás da outra.

Haruki foi ficando irritado com o rumo das perguntas.

"Não é nada disso Hinata-kun! Que imaginação fértil." Ele percebeu que sua negação não tinha convencido Hinata, que agora estava com as duas mãos tapando a boca. Os olhos do garoto kawai continuavam fixos no pescoço de Haruki.

Um relâmpago clareou o céu e em seguida o trovão ensurdeceu os tímpanos dos dois. As primeiras gotas d'água caíam pesadas esfriando a pele do cantor.

Hinata saiu correndo para a mansão.

O cantor olhou ao redor, e viu o mar ao longe formando ondas enormes. Era uma tempestade, ele também correu para a proteção da casa.

Haruki preferiu ficar no quarto depois do escândalo de Hinata sobre seu hematoma. Sem nada para fazer, ficou deitado olhando a água da chuva bater na janela pensando em como ele iria fazer para deixar o quarto sem criar novos atritos com Saito. Só que sua mente não contribuía com nenhuma ideia meramente viável. Entediado, ele saiu do quarto e foi perambular no aposento desenhado por Kenta. Estava exatamente do jeito que ele havia deixado.

Haruki então foi ver os outros aposentos para tirar a dúvida de sua teoria e não entrar na paranóia do 'Eu sou perseguido, Ita não quer limpar o meu quarto'.

O cantor por coincidência entrou no quarto que Hinata ficou. Ali ainda estavam suas roupas sujas e fedidas jogadas em um canto e o lugar também estava empoeirado. Haruki passou de quarto em quarto percebendo que estavam todos empoeirados. O último aposento que ele entrou foi onde Jun dormiu.

Tudo estava perfeitamente organizado. Jun, ao contrário do que fazia parecer, era um homem muito ordeiro e ali também tinha pó. Haruki se virou para sair quando Jun entrou no quarto e veio até ele, parando a centímetros do cantor.

'Hm, o Zé Fofoquinha já deu com a língua nos dentes para Jun,' pensou Haruki.

O olhar de Jun era de raiva, e não foi surpresa que sua voz estivesse aguda ao dizer, "Vou ter que perguntar ao Saito o que é isso?"

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