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Como os Lobos

Desde o primeiro momento soube que seria tua, somente tua.

Caminhei com o meu clã sozinha, com a minha negra tribo, e tu cruzas-te o meu caminho naquele dia tão chuvoso e frio, viste-me resguardada sobre as raízes daquela velha arvore e não tiveste medo de mim, vieste a meu encontro, cobriste-me com tua bela capa de veludo e seda, não tiveste medo da minha figura ferida e suja, da minha aparência grotesca e quebrada.

E desde esse dia levas-te o meu coração para longe…

O teu toque fez-me estremecer, e simplesmente acarinhavas-me e aquecias-me com o calor do teu corpo, foi ai que reparas-te eu não era humana, que as minhas orelhas eram bicudas, que eu tinha uma cauda e uns olhos animalescos.

Metade animal, metade humana sou uma animorphi lobina, e tu um mero humano, que caçava a minha espécie, mas em vez de me matares mesmo tendo medo, continuas-te a acarinhar-me, a resguardar-me do frio, eu a cada toque teu relaxava cada vez mais até que adormeci.

Na manha seguinte acordei num local desconhecido, tudo diferente da minha toca nas montanhas, era um sitio espaçoso e cheirava estranhamente a flores, lavanda disse para comigo, dói-me a barriga e as pernas dos meus ferimentos, mas estava deitada numa coisa macia, este ninho é agradável aconchegante, vi as minhas chagas tratadas, isto não é real.

Tu não eras real, um humano tão belo, tão carinhoso, que me aceitou por ser diferente, só espero que sejas aquele com quem eu irei partilhar a minha vida, quero que sejas o meu parceiro…

Mas não é possível somos de raças diferentes.

Tu acordas-te e viste que eu olhava para ti confusa, mas não tiveste medo, mesmo após eu ter rosnado, tu confiante estendeste a tua mão e acarinhaste-me novamente. Fechei os olhos de contentamento a este toque tão agradável que eu tanto amava.

Se fosse caçada, se algum dia o for, quero que seja por ti.

Falaste-me numa língua desconhecida, eu não entendia apontas-te para ti e disseste Athmoor, eu olhei para ti, lembrei-me do grande feiticeiro Athmoor Portador das Cinzas o maior feiticeiro humano que todo Hellyon tinha conhecimento, o mais cruel e frio humano que dizimou cidades, matou crias humanas e fêmeas humanas.

E eu uma simples animorphi, nos seus aposentos comecei a ficar com medo será que ele me ira fazer mal, será que me ira enfeitiçar e matar a minha tribo, não, não irei deixar comecei a rosnar, o meu pelo eriçou-se, as minhas pupilas aumentaram, e comecei a rosnar, os meus irmãos as crias dos meus irmãos, e com medo instintivamente ataquei mordi-lhe a mão, a mesma mão que me ajudou e me acarinhava, ele apenas fitou-lhe li-lhe no olhar dor, mas uma dor diferente, a dor da rejeição.

Senti-me culpada e triste larguei-lhe a mão, e lambi a ferida da minha dentada, os meus caninos feriram-no fundo. Mas eu lambi, sabia que ia curar.

Ele sorriu um sorriso meigo, e o seu olhar perdoava-me a acção, ele tinha percebido que eu ouvira o que diziam a respeito dele.

E voltou a afagar-me, eu deitei-me de lado as minhas peles que me cobriam já estavam muito rotas, tu coras-te quando olhaste meu corpo, robusto pelo lado selvagem e suave e belo, pelo meu lado humano e feminino. Não tinha os músculos dos machos da minha espécie, mas era uma força escondida pela fragilidade da minha humanidade.

Tu viras-te te e trouxeste me umas roupas estranhas, ajudas-te me a vesti-las, não estava habituada a tais roupas eram demasiado leves.

Levaste-me ate á rua, e acompanhaste-me ate a beira da selva, tão estranho este adeus.

Eu encaminhei-me para me ir embora, mas não fui capaz, não iria abandonar o meu amor voltei para ti, apontei para mim e disse o meu nome Kamalia. Tu lentamente repetiste Kamalia. Como foi agradável ouvir o meu nome vindo de ti, e como uma cria ainda cachorra saltei e abracei-te.

Quando tu ias para me agarrar, eu esquivei-me, um Lobo será sempre livre.

Tu eras um mito, que para mim se tornou real, mas eu tinha de voltar, os da minha tribo já deviam estar a minha procura, e eu não desejava por nada que tu fosses ferido.

Então apontei para a selva, e desenhei a lua no chão, apontei para o céu…

Quando a lua cheia nascer aqui eu estarei para ti.

Tu olhaste intrigado, e percebeste que eu tentava falar, no meio de grunhidos e latidos.

Olhaste para o meu desenho, demoraste a compreender, mas com ajuda de mímica percebeste.

E ai eu corri, corri, corri ao sabor do vento em direcção a oeste, onde ficava a montanha das águas a minha casa, senti a mágoa de ter de ir, porque razão o amor entre espécies é proibido se o meu coração me diz o contrario? Se o que eu sinto me diz o contrario?

Cheguei, os meus irmãos vieram receber-me, e cheiraram-me sentiram o cheiro de homem comigo viram as minhas estranhas roupas.

E ficaram com raiva, pensaram que me tinhas atacado, eu expliquei que não, que me tinhas salvo.

A minha mãe veio ate mim observou e suspirou…um suspiro de alivio.

Os meus irmãos sentaram-se e ouviram a velha loba, enquanto esta falava, ela defendeu alguns humanos, contando histórias de como alguns humanos tinham coração, e de como esses eram raros, mas que mesmo assim devíamos ter cuidado, pois o coração humano é facilmente corrompido. Eu escutei suas palavras ate ao fim.

Mas não acreditei, sabia que eras diferente, porque razão um feiticeiro como tu havia de salvar uma loba como eu? Como um homem assassino e temido pela sua própria espécie podia ter salvo um ser, ainda para mais fraco e ferido como eu?

Os dias passaram, e ouvia a minha mãe a dizer para eu arranjar um parceiro, para partilhar a minha vida, que nos os lobos acasalamos para a vida, e que a tribo tinha jovens fortes e robustos que serão bons chefes de clã, e para não me agarrar aos humanos, mesmo só porque me tinham salvo, eles não duravam muito e eram fracos, ela já tinha percebido.

Mas como podia eu escolher um desses jovens, se eu já tinha escolhido o meu macho, o meu parceiro, tu Athmoor um simples humano, um feiticeiro, eu amo-te com a força dos elementos, com o ardor de um Lobo.

Já nada me mantinha alegre, já nada me dava a excitação, nem mesmo caçar…

Só pensava em ti, a lua cheia começa a erguer-se, e tal como prometido corri em teu alcance, corri mais do que o normal, como se novas forças tivessem nascido em mim.

E tal como tinha-mos combinado ali estavas a beira da selva, a olhar-me, eu feliz saltei, tu caíste comigo, abracei-te e esfreguei o meu nariz no teu pescoço em sinal de afeição, deite uma pequena e tímida lambidela.

Tu olhaste para mim com o reflexo da lua a bater-nos, com a tua mão agarraste-me a face, deste-me um beijo.

Um simples beijo…

Que fez o meu mundo parar, fez-me sentir bem, fez-me feliz, fez-me vibrar.

Eu desajeitadamente respondi.

E aquela noite na entrada da selva foi nossa, onde conheces-te os recantos da minha alma, o mais fundo do meu ser.

Foi a noite em que te tornas-te o meu parceiro.

Ensinaste-me a língua dos homens, e eu ensinei-te a amar a selva, como eu a amava.

Escreveste na lua o meu nome, e eu nas estrelas o teu.

E nos dias que se seguiram, os nossos encontros nocturnos tornaram-se cada vez mais apaixonados, ambos ansiávamos pelo momento de estar juntos, e com isto tornamo-nos descuidados.

E assim foi, ambos lobos e homens viram um dos nossos encontros, e com repulsa, ódio, perseguiram-nos. E destruíram-se.

Embora os homens fossem mais fracos, tinham umas coisas chamadas de armas, com elas dizimaram o meu clã, como eu sofri os meus irmãos e irmãs mortos tudo pela estupidez, preconceito de não aceitarem o nosso amor.

E por o nosso amor ter sido usado para fomentar uma guerra silenciosa que eu desconhecia…

E nesse dia voltaste tarde, senti o cheiro de sangue humano e carne queimada na tua pele, perguntei-te que se passava, e tu apenas sorriste tristemente para mim.

Nessa noite sai, segui o teu rasto que me levou a uma cidade, uma cidade em ruínas, que eu conhecia por tu ires comprar comida, tudo destruído, todos os humanos mortos, foi triste, mas compreendi.

Vingaste os meus irmãos, sabias que essa era a minha grande mágoa.

Quando voltei estavas, a ser atacado, nem mesmo o teu fogo celeste te estava a salvar, nem mesmo os espectros dos nossos antepassados conseguiam.

Eu ataquei com garras e dentes, tenho de proteger o ultimo ser que amo.

Tenho de ajudar o meu companheiro, a minha metade, vi-te desfalecer no chão.

Gritei! Um grito vindo do fundo das profundezas da minha alma ecoou pelas paredes da nossa toca, e uma força que nunca sabia ter existido em mim despertou.

Matei-os a todos.

Estes humanos nojentos, corrompidos, não merecem viver, atacam quem só quer ser feliz por inveja, por ódio, por preconceito…

Não mais. Matar-vos ei a todos.

Destruirvos-ei a todos.

Depois de ter morto os teus atacantes, dirijo-me a ti, estas fraco, demasiado ferido para sobreviver, eu tento estacar o sangue, lambo as feridas, eu choro, tu sorris, eu olho para ti e vejo uma lágrima a escorrer, tu lentamente levantas-te e recitas um encantamento, vejo um pequeno raio a passar por mim e a bater em algo, um humano atrás de mim que me ia atacar.

E com isto tu cais, e olhas-me, pedes-me desculpa, eu choro, eu só choro salvas-me e agora tens de partir.

Não é justo, não é justo, porquê!

Porquê!

Com isto tocas-me na face, com a tua mão enxugas-me as lágrimas, eu seguro-ta e olho-te nos olhos, digo que te amo, prometo ficar sempre contigo.

Tu olhas-me, e reparo que também choras, sorris, sinto o teu amor, beijo-te sinto que te despedes, isso assusta-me.

Olho para ti o teu olhar vazio…

Tu partis-te, deixas-te me, sinto o vazio a entrar dentro de mim.

Sinto a minha alma a morrer.

Enterro-te como um humano, um humano amado, e deito-me sobre a tua campa a teu lado, e apenas permaneço lá, ficarei contigo até ao fim, ser-te ei fiel até ao fim.

Como um lobo amar-te ei até fim.

Fecho os meus olhos, e vejo-te finalmente estarei contigo.

Esta é a nossa história, este é o nosso amor.

Adeus…