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Capítulo 0 - Anseios do Passado...

"No início, só haviam trevas e o mais puro silêncio do vazio infindável."

"Sem luz ou vida, tudo pertencia ao nada"

"Porém, em meio ao Abismo Primordial e ao seu fluxo de caos, uma centelha de luz surgiu proveniente de Duas Deusas Gêmeas que vagavam em completo silêncio pelos confins do nada "

"Essa luz repeliu o caos do Abismo e tomou seu lugar, se expandindo pelo vazio enquanto criava os alicerces de tudo"

"Logo, pois que isso aconteceu, as Deusas Gêmeas se voltaram para o centro da existência e com simples estalares de seus dedos, grandes aglomerados de terra surgiram flutuando na imensidão do espaço"

"A alguns desses aglomerados foi ordenado: Ide e se juntai, pois serás vós o mundo abençoado"

"E assim como foi dito, se fez. Um mundo abençoado pela graça das deusas surgiu"

"Este mundo era vazio e desolado; em seu céu não havia sol, lua ou estrelas, apenas a luz divina das deusas."

"Isso, contudo, não era suficientemente bom para elas. Por isso, ordenaram: Surjam pois agora, as astros que marcarão o céu do mundo"

"E assim se fez. O sol surgiu com o dia e a lua surgiu com a noite. Ambos lutando para ganhar a afeição das deusas"

"Elas porém, não escolheram nem um, nem outro, deixando que se enfrentassem, enquanto transitavam em espírito pela superfície do mundo"

"Esse transitar sobrecarregou o mundo de bençãos, e logo a chuva desceu sobre toda terra, inundando grande parte dela" "A essas porções inundadas, se deu o nome de oceanos; e as porções de terra seca se deu o nome de continente"

"Ao definir tal divisão, as deusas permitiram que suas bençãos se desabrochassem pelo mundo, criando primeiro as florestas e matas; e logo em seguida os animais, desde os que vagavam pelo alto céu, até os que se rastejavam no chão ou nadavam nos profundos oceanos."

"Depois que todas essas coisas aconteceram, as deusas olharam para tudo com extrema alegria, e desceram do seu leito celestial para desfrutar de sua criação. Isso marca o início do que ficou conhecido como a Era da Criação, o período sagrado em que todas as raças começaram a surgir, incluindo a Humanidade"

—Uau... Então foram elas que criaram a gente ? — o menino de olhos azuis e cabelos escuros deitado debaixo dos cobertores olhou impressionado para sua mãe, sentindo como se tivesse descobrido o maior segredo do mundo em plena hora de dormir

—Bem... Podemos dizer que sim, Zac ! Nenhum de nós estaria aqui se não fosse por elas! — declarou a mãe do menino, uma mulher de longos cabelos castanhos e olhos marrons, cuja expressão sorridente carregava um notável contraste entre a vitalidade de alguém que acabara de passar dos 30 anos e a maturidade de uma mãe totalmente dedicada aos seus filhos

—Elas são incríveis demais! – disse outro menino deitado junto deles na cama. Seus olhos eram tingidos de um intenso vermelho carmesim, e seus cabelos, pretos como os do outro menino, exibiam mechas rebeldes que lhe conferiam um tom único e marcante.

—Sim Akira... Elas são incríveis mesmo... — muito satisfeita por ter ganhado o interresse de seus filhos a mulher fechou o livro com cuidado e então se voltou para os meninos—... Elas são incríveis, mas querem saber de uma coisa ?

—O que ? — perguntaram ambos os irmãos, sua curiosidade falando tão alto quanto lhe era possível

—Vocês são mais ! — murmurou a mãe dos meninos, divertida, enquanto dava um leve peteleco na ponta do nariz de cada um.

O menino de olhos azuis protestou:

—Ahh... Não... Você que é... — logo em seguida ele a envolveu em um abraço repentino e carinhoso

—Ei... Zac... Isso é trapaça... — o outro garoto não quis nem saber. Empurrou o irmão um pouco para o lado e então também a abraçou, um sentimento de rivalidade se tornando evidente entre eles

—Ahhhh... Que abraço bom ! Eu acho que poderia ficar aqui a noite toda ! — comentou a mulher ao fechar o abraço em seus dois filhos e se deixar envolver pelo afeto daquele momento

—Por mim tudo bem ! — declarou Zac sem ter que pensar muito

—Então está decidido ! — concordou Akira, igualmente decidido

Assim que ouviu tal coisa, a mãe deles não conseguiu conter o riso. Aos olhos dela, toda essa inegável convicção dos garotos parecia tão adorável quanto as próprias expressões em seus rostos

—Que fofos... Mas vocês precisam dormir agora ! — afirmou a mulher, ciente que a hora das crianças dormirem já tinha passado há algum tempo

—Ahh não... Dormir é muito chato... — repetiram os dois irmãos quase ao mesmo tempo

—Não é não! Dormir é a melhor coisa do mundo ! Principalmente quando... quando... — declarava a mulher, tentando a todo custo mascarar sua natureza meio dorminhoca com algo que parecesse sábio e enigmático —... Principalmente quando você tem pessoas especiais com as quais pode sonhar, como eu com vocês ou vocês comigo! Dormir é bom por isso! Vocês entendem?

Após ouvirem isso, ambos os garotos pareceram pensar por um instante antes de responderem em sincronia quase perfeita:

— Nos entendemos, mãe!

Dito isso, o aperto dos dois irmãos sobre sua mãe afrouxou gradualmente, permitindo que ela finalmente se levantasse da cama, segurando o livro que lerá para eles

Os dois meninos se ajeitaram juntos na cama, buscando conforto enquanto recostavam suas cabeças nos travesseiros, um ao lado do outro. A mãe, com gestos suaves e precisos, puxou o cobertor para baixo, cobrindo os pés que estavam expostos, ao mesmo tempo em que afrouxava as dobras excessivas de tecido

Com os ajustes feitos e o livro em mãos, a mulher se dirigiu mais uma vez para seus filhos, um sorriso terno e envolvente se delineando em seus lábios:

—Bem, agora bons sonhos para vocês, meus amores...

—Pra você também, mãe ! — desejou Zac. Seus expressivos olhos azuis fixos em sua mãe

Depois disso, a mulher contornou a cama deles, caminhando em direção à porta no lado oposto à janela. Ela, porém, foi interrompida antes que chegasse a abrir a porta:

—Mãe... Será que um dia poderemos encontrar essas Deusas ? — perguntou Akira, o mais novo dos irmãos, que por alguma razão desconhecida parecia ter segurado essa pergunta até agora

Ao ouvir tal pergunta, a mulher parou no lugar, seu semblante sorridente sendo momentaneamente enfraquecido. As crianças não notaram essa anormalidade, e logo a mãe, já de volta ao seu estado alegre, virou-se para responder:

—É claro Akira ! Se você for um bom menino e se esforçar bastante, elas certamente vão querer conhecê-lo um dia !

Diante dessa resposta encorajadora, o outro menino também a indagou:

—Como elas são ?

—Boa pergunta... Eu ainda não tive a oportunidade de ver como elas são... — um sorriso descontraído surgiu no rosto da mulher que por alguma razão parecia querer rir interiormente

—Quando nós três às encontrarmos podemos pedir pra elas criarem um mundo só pra nós, né ? — perguntou Zac, já entusiasmo com essa possibilidade

—Só pra nós ? — a mãe refletiu sobre isso sem vergonha alguma, quase como se realmente cogitasse fazer tal coisa.

O menino mais velho esperou a resposta da mãe pacientemente, e logo a ouviu, bem mais positiva e natural do que qualquer outro adulto poderia trazer:

—Eu acho uma ideia incrível, Zac ! Já imaginou como facilitaria a nossa vida ? Não precisaríamos ir no mercado, pois teríamos tudo que quisermos em casa ! Não precisaríamos de dinheiro, pois... — ela parecia tão empolgada que agora não conseguia parar de falar sobre isso. Não se sabia se esta empolgação era verdadeira ou só um jeito de agradar os filhos

Os meninos no entanto, sequer se questionaram sobre isso:

—Akira, você ouviu isso ? Se conseguirmos encontra-las ganhamos um mundo só nosso ! — comentou Zac ao irmão

—Eu gostei ! — o menino olhou para o irmão já imaginando como poderia ser esse mundo deles

No curto espaço de tempo que eles começaram a falar entre si, sua mãe terminou de expressar sua carismática cobiça por aquele mundo fácil que os dois filhos tinham proposto. Ela então, ficou ali, assistindo a conversa de seus filhos por um tempo

Isso continuou assim, até que os primeiros sinais de cansaço começaram a atingi-los. Foi nesse momento que a mãe disse:

—Tá bom, tá bom... Já planejaram bastante por hoje ! Agora vocês precisam dormir bem ou as Deusas vão pensar que vocês são zumbis com olheiras !

Ao ouvirem isso, os dois pararam de conversar e fitaram sua mãe. Ela sorria para eles em silêncio, claramente envolvida por aquele momento.

Após eles a fitarem, ainda demorou alguns segundos para que a mulher parasse de olha-los com tal ternura e se voltasse para a porta

Nesse momento, os dois meninos disseram:

—Boa noite mãe...

Ela replicou:

—Boa noite meus anjinhos...

Logo em seguida, ela fechou a porta levemente, fazendo com que os dois garotos se acomodassem mais e então fechassem os olhos