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HOTEL LARANJAL

A cabeça inclinada para o lado, os ombros caídos e a dificuldade em emitir qualquer palavra indicava o enorme esforço que a aquela criatura fazia para se manter naquele estado. Parecia querer dizer algo para o garoto, mas estava limitada. A forma é desfeita por uma pequena explosão, fazendo com que Hitori caísse de joelhos sobre a poça de água. Seu reflexo se assemelhava a textura sinistra do monstro, se distorcendo ainda mais a cada respiração. Por fim, seu próprio reflexo deixou de acompanha-lo, o puxando com brutalidade para dentro da poça, sem que tivesse qualquer chance de defesa.

A poça parecia tão rasa que era impossível se dizer que tivesse alguma espessura. Ela ainda se mantinha, mas agora em um outro lugar, inverso daquele anterior. O horizonte cinza e vazio foi substituído por destroços de um reino, mas não de WaterHill. Corpos impossíveis de se identificar estavam jogados por todos os lugares. Todos estavam carbonizados. Não muito à frente dali, havia uma escadaria larga e extensa que dava em um altar no topo. Não conseguia ver muito bem, porém a impressão o levava a crer que havia alguém ali o esperando, sem nenhum movimento.

Hitori engoliu o medo e forçou-se a caminhar, apesar da sensação ruim que invadia cada vez mais sua mente e peito, tirando-lhe o fôlego e obrigando-o a respirar com mais força. Ao colocar o pé no primeiro degrau, um forte barulho do mar invadiu seus ouvidos, tornando seu corpo ainda mais pesado. A medida que subia os mais de duzentos degraus, o som intensificou-se, mas ele manteve a perseverança. Finalmente, ao chegar ao altar, jogou-se exausto no chão.

Ela estava ali; a mesma silhueta que antes tentava se comunicar com ele. Seus olhos tomados por um intenso brilho branco estavam fitados no céu. A única coisa que se movia eram os realces de sua aura vibrante, responsáveis por omitir qualquer detalhe de sua aparência senão um longo cabelo e vestido.

— Você... — Em um tom de voz distorcido, ela proferiu a primeira palavra —...precisa mata-lo... — Finalizou.

— Eu jamais machucarei o Melias! — Hitori a enfrentou, ainda caído, mas com seu cotovelo apoiado no chão do altar.

— Não Melias... — A voz foi se distorcendo ainda mais — ...Mate Ele... Ou senão deixe-me concluir a possessão...

— Possessão? — Assim que levantou-se, Hitori deu um passo para trás.

— Desista de sua alma... Desista de viver... Desista de tudo... imediatamente! — A cabeça daquele ser virou-se para a direção de Hitori em menos de um segundo. Seus olhos, por mais que fossem somente um brilho, emanavam um poderoso ódio. Ela o empurrou do altar estendendo uma suas mãos, e então o garoto se viu caindo em um vasto infinito. A voz distorcida da criatura reverberava em sua mente, entretanto dessa vez não era possível compreender sequer uma palavra.

O impacto da queda foi sentido quando atingiu o chão de madeira. Ele havia acordado. Hitori levantou-se, apoiando-se na cama, enquanto acariciava sua cabeça para aliviar a dor. Levou algum tempo até notar onde estava; um quarto não muito grande, repleto com quadros de paisagens famosas de Auroxl, como o reino de Kinches, que possui a maior parte das estruturas feitas de cristais, ou o reino Palacíze, responsável pelos edifícios repletos de cores com alto contraste e estruturas mirabolantes. O quarto continha duas camas, onde a outra estava organizada, diferente da que Hitori dormia, que deixaria qualquer pessoa meticulosa em prantos.

Ele continuou analisando cada detalhe do quarto,tentando entender onde estava, aqueles padrões de móveis e papel de parede eramdiferentes das casas de WaterHill. Nunca havia saído do reino, até então.Possui apenas onze anos, e crianças que tiverem o desejo de se tornaremguerreiros precisam focar-se totalmente em treinamentos e escola, até que atinjampelo menos os vinte anos de idade. Chegou até a janela, cuja uma cortina de corbege cobria grande parte. O que o intrigou foi uma sombra feminina estática aolado de fora. "Eu não acordei daquele sonho!" pensou o garoto. Todavia, tomadopela coragem que nunca teve, ele puxou a cortina com força, revelando assim umagarota de cabelos castanhos e olhos azuis. Ela vestia algo que se assemelhava aum uniforme marrom, e utilizava um longo chapéu pontudo. Seus olhosassustadoramente estavam fixados em Hitori, e o garoto, aterrorizado comaquilo, só pensou em gritar apavorado.

— Ah, há! Drina sabia que estaria aqui! — Grita de volta, mas em tom de alegria.

Hitori imediatamente saiu daquele quarto, ao mesmo tempo em que trancou a porta para não ser seguido, correu por um corredor, cuja estrutura acompanhava a madeira-serrada do quarto. Drina adentrou o quarto flutuando de bruços, e então ficou em postura ereta novamente, mas ainda com os pés fora do chão. Levantou o seu cajado.

— Não pense que fugirá da poderosa Drina! — O topo de seu cajado brilhou em uma luz amarelada, e em seguida uma esfera de energia foi lançada contra a porta, a levando até a outra parede do corredor. Drina prosseguiu flutuando tranquilamente, explodindo qualquer porta que encontrasse. Acabou por incomodar ou assustar outras pessoas que estavam nos diferentes quartos. Hitori, em um outro lado do corredor, não conseguiu encontrar a saída, então entrou na última porta, e logo depois se escondeu em uma das cabines do banheiro. Sentou sobre o vaso sanitário em posição fetal e protegeu sua cabeça entre os joelhos, apertava-se ainda mais a cada nova explosão ouvida.

— Não se preocupa, criança! Drina vai explodir esse lugar todinho até te encontrar! — Gritou, e mesmo que estivesse numa distância longínqua, o garoto pôde ouvir.

Passado um certo tempo, Hitori começou a ouvir as explosões ainda mais próximas. Drina estava por perto, e chegou até o fim de um dos corredores, explodiu a última porta, e ao ver que o teto era menor do que o restante do lugar, decidiu pousar, para que seu chapéu, que considerava exuberante e charmoso, não caísse. O garoto viu os pés da moça passarem direto por sua cabine, e em sequência ouviu um chute na porta da cabine ao lado.

Para a surpresa de Drina, Hitori não estava lá naquela cabine, e sim outra pessoa; Melias Mizukuroi também não esperava por aquilo. Hitori, aproveitando o grito desesperado de Drina, fugiu e pegou um caminho diferente, encontrando assim a saída daquele edifício.

Já no lado de fora, o garoto olhou para a grande quantidade de guardas que rodeavam toda a estrutura. Uma mulher de cabelos prateados e olhos da mesma cor parecia comandá-los com ordens diretas. Seu uniforme branco possuía linhas douradas que formavam uma cruz sobre o torso. Seu cinto — também dourado — suportava uma bainha de couro, a qual continha duas espadas de lâminas finas, como agulhas. Ela retirou ambas as espadas ao mesmo tempo ao ver que Drina acabara de sair.

— O que vocês querem com Drina?! Drina Precisa capturar o garoto! — Em gritos estrondosos, Drina flutuou ainda mais alto e girou o seu cajado. Estava preparando o seu ataque. — Drina é perigosa! E vai mostrar pra vocês o porquê! — Um sorriso insano surgiu na garota.

A mulher de cabelos prateados ficou em guarda. Seu rosto era preenchido por uma expressão séria; Hitori não sabia se sentia mais medo de Drina ou dela, mas decidiu confiar. De certa forma, aquela postura ponderada, a serenidade no olhar e a disciplina o lembravam de Melias.

— Fique atrás de mim, pequeno. Vou cuidar disso em um instante. — A mulher enunciou em uma voz imponente. Mesmo que fosse uma voz calma, ainda parecia intimidadora.