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Arco 1 Capítulo 3 "Crueldade Rebelde"

O arco da garota fantasma continuava na cabeça de Sado Yasutora.

Após ele e Kitogawa chegarem à estação de trem, Sado provou da bondade sobrenatural deste homem quando o mesmo deixou-o ir sem ter que assinar nenhuma papelada ou ocorrência.

— Valeu mesmo, cara. Eu tô indo nessa.

— Se cuida. Mas ó, quando você ver alguém fora da estação de trem, não dá uma de louco e sai por aí correndo nos trilhos. Chama o cara aqui que ele da um jeito.

Kitogawa aponta para si com o dedão enquanto sorria em um ar de super satisfação.

— Vem cá... Tu acha que é algum protagonista de Novel ou algo assim?

Sado encolhe os ombros desleixados vendo toda a postura "heróica" do loiro, o mesmo ri à reação do garoto.

— Há, há. São os ossos do ofício. Aliás, se a minha vida fosse descrita em um livro, não sei se seria adequado a todos os públicos.

— ...?

Sado ergue uma sobrancelha, confuso com o tipo de resposta que recebeu. Não sabe ele se foi apenas um tipo de sarcasmo por parte do Kitogawa ou se estava realmente falando sério. Mas decidiu nem tocar mais nesse assunto por talvez respeitar o espaço alheio.

Na verdade, Sado optou por terminar qualquer conversa por ali mesmo.

— Bem, se você diz. Eu já tô indo. Tô um pouco atrasado, e com pouco eu quero dizer que a professora vai arrancar a minha cabeça caso me veja aparecendo na escola. Mas como eu não quero ser como um certo alguém que saiu no meio, o meu objetivo é chegar até o terceiro ano vivo.

— Você não tem a mesma sorte que eu. Mas um conselho, é que não largue a escola assim do nada. Por isso, Sado, encare o rosto doloroso da sua professora e volte vivo para contar história.

— Certo! Tô indo lá.

Sado se despediu então acenando e seguiu de descer a estação de trem. Foi observado por Kitogawa até desaparecer nas ruas de Kandori — sua cidade.

— Caramba, parece que eu achei um anômalo, huh? Devo ficar esperto. Só espero que ele não seja do tipo problemático.

Comentou o loiro para si mesmo enquanto parecia pensar sobre algo. Ele logo olha para cima, admirando o belo céu azulado.

— Por que se for...

Kitogawa afina os olhos escuros não condizentes com seus cabelos claros e deixa essa questão ser levada pelo ar.

...Nada de tamanha importância ocorreu naquela estação após isso.

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— Poxa vida! Eu tô atrasado pra burro!!

Ele corria freneticamente balançando sua bolsa enquanto se dirigia par a escola. Ainda estava longe. Sado tinha a impressão de que faltaria algumas quadras a mais até chegar em seu destino.

Mas ele só não conseguia esperar que mais um trem aparecesse. A sua euforia iria lhe perseguir mesmo sentado em um banco do vagão.

— Assim eu canso um pouco o meu corpo de merda e não há espaço para uma ansiedade me dominar!

Essa era a lógica de Sado Yasutora.

Porém...

— Tá doendo mais do que o normal... Pera um pouco!

Ele para de correr no meio da rua e se escora em uma parede.

Estranhamente, seu joelho e torço doíam muito mais nesta corrida do que o esperado. Ele até se surpreendeu que o seu sedentarismo fosse tão avançado.

— Sedentarismo nada! Eu tô é todo cortado!

Ele remangou sua calça para ver o núcleo da dor, ou melhor, da ardência e viu que a pele do seu joelho estava em processo de cicatrização.

— Espera aí... Eu não fiz isso quando tinha caído ontem a noite?

Mais que um machucado, era uma evidência de que o ocorrido noturno foi real.

— É sim! Eu ainda estou com os sintomas!

Se estava com os hematomas e feridas da perseguição passada, então só poderia significar de que realmente ocorreu.

Seria fácil dizer que sim, mas...

— A destruição daquela lança não existe... O teto, a minha porta... Até mesmo o asfalto... Tudo isso está intacto e não parece que nada ocorreu ali.

Era como um delírio. Um delírio tão profundo que se ele entrasse só nesses detalhes, parecia que estava ficando louco.

Todavia, a prova de ter o seu próprio corpo marcado e de ter visto, ou achar que viu, a menina albina martelava a sua mente com a convicção de que não era falso.

Nada disso era falso.

— Realmente eu fui perseguido por uma maluca psicopata ontem a noite...

Ele engoliu seco só de lembrar dos acontecimentos envolvendo ela e tampou sua perna novamente.

— A calça não está rasgada, mas a minha ferida existe...

Assim reparou. O tecido azul da calça que combinava com o seu casaco de zíper aberto não tinha nenhum sinal de violação. Somente seu corpo.

— Hum... Estruturas... Objetos e tecidos... Tudo isso foi reconstruído. Mas a pele humana não... O que está havendo aqui?

Ele martelou a sua própria testa com a mão como que se dissesse para o seu cérebro viciado em jogos e livros para que funcionasse de forma diferente agora.

— Eu não vou conseguir estudar assim... Mas isso não é motivo de eu só decidir matar aula. Eu tenho que me apressar e pensar em tudo isso depois. Espero encontrar aquela garota novamente. Será que ela está bem?

Uma menina que ele nunca viu na vida. Era pensando nela mais uma vez que ele se moveu do lugar.

Ela salvou sua vida e nada quis em troca. Simplesmente arriscou a vida por ele, de certa forma.

E agora, tinha visto-a com uma feição amena enquanto olhava o horizonte.

— O que será que-...!?

De repente, Sado ouviu um som estrondoso de algo que parecia metal pesado ter caído no chão e se estraçalhado.

Posteriormente a isso pessoas começaram a correr contra a sua direção gritando como se estivessem fugindo de algo realmente assustador.

— Mas o quê?!

Sado, no meio disso tudo, foi deixado para trás quando o punhado de pessoas corriam por suas vidas.

"Demorei um pouco para perceber que tinha que correr também. Mas quando me dei conta disso, era tarde demais..."

O seu cérebro tardou em lhe oferecer estímulos de perigo, fazendo com que fosse deixado para trás naquela rua de edifícios e construções.

"Mas quando tentei me mover para dar um passo para trás e me virar, algo caiu no meio da rua."

Preso em sua própria narrativa, o carro em chamas se estrambalhou na rua e fez o garoto suar frio.

— Q-quê!? Mas que droga é essa...?

Havia um veículo em chamas e a fumaça escura subia para os céus. Mas isso não era o centro das atenção bizarras neste momento.

Naquela rua vazia, Sado via um jovem com roupas de couro, calças rasgadas e adornos de piercings e correntes caminhando suavemente como se nada tivesse acontecido.

Não... Ele era o causador disso tudo. Sado percebeu isso logo de cara...

— Oi, oi, oi... Você é burro ou o quê? Ficou aí parado e nem tentou correr? Por acaso se mijou tanto de medo como uma menininha que mal teve tempo de fugir é? Há, há, há, há! Que comédia, sabia!?

O jovem de cabelos pretos, ainda mais desgrenhados do que os de Sado, parou em frente à rua e riu.

Palavras provocativas saíam de sua boca junto da risada. O debochado mirava Sado como se ele fosse um alvo.

E tudo o que passava na mente do garoto era: "No que eu fui me meter logo agora!?"

Sado suou frio com a aparição alarmante desse que não se importava em ver um veículo em chamas perto de si.

— Você é o quê? Um terrorista...?

— Hãaaah? Eu tenho cara de terrorista agora, bocó? — respondeu indignado. — Não, não, não. Eu sou um bem feitor, entendeu? Um bem feitor!

— Foi você quem incendiou esse carro? Isso não me parece algo que um bem feitor faria.

Sado, mesmo que inconscientemente, jogava palavras de sua boca que facilmente poderiam enfurecer a figura ali em sua frente. Ele não iria querer isso.

— É mesmo? Esse é o meu jeitinho de dizer que cheguei.

E a razão para verdadeiramente não querer isso, era que o homem segurava um taco de beisebol feito de metal em uma das mãos.

— E o que você ganha fazendo esse alvoroço todo? Você só vai se sentenciar a prisão, sabia...?

As palavras do Yasutora estavam tingidas de cautela. Ele não iria querer, de forma alguma, fazer algum movimento brusco.

E foi quando colocou a mão no bolso, como da última vez, que ele percebeu...

"Não tá aqui...! Meu celular não está aqui!"

A tática de usar o flash de luz como atordoador não iria funcionar pela segunda vez.

Ele logo se arrependeu profundamente em lembrar que deixou cair no chão de uma rua perto do seu apartamento e esqueceu-se de recolher de volta.

O que ele poderia fazer em uma situação como essa? A figura de aparência rebelde não parecia nada amigável. Ele estava claramente lidando com alguém hostil e que queria causar confusão.

Sado se via em apuros.

"O que ele quer? Qual seu objetivo?"

— Prisão? Não... Eu não vou ser preso. Você não percebeu?

— Percebi? Percebi o quê?

Não entendendo as palavras avulsas do homem, Sado questiona sem entender.

Então o garoto rebelde apontou com o taco de metal para algumas posições nos prédios ao redor.

— Ali tem um. Ali tem outro... Ali também. São selamentos que eu coloquei afim de deixar a nossa conversinha um pouco mais reservada.

— O-o que você fez...?

— Não é óbvio? Eu bloqueei o acesso do mundo exterior e estamos sozinhos aqui, só eu e você. Por acaso não consegue entender? Como é burro...

— .....

O cérebro tentava processar o que escutara.

Os olhos conflitantes de Sado Yasutora estavam com dificuldades em acreditar em tais palavras. Isso era absurdo demais.

O jovem estava caçoando dele?

Bem... Não que ter um carro em chamas seja piada. Em relação a isso, Sado deve agir como se tudo o que ouvisse fosse verdade.

Ele também não escuta mais a comoção que corria em pânico de antes e veículos já não passavam mais pela rua.

Realmente era como se estivessem separados do exterior em um quarteirão fantasma.

— O que você quer comigo, hein!? Eu lá sou digno de ver um cara fazendo mágica avançada na minha frente!? Desculpa aí, mas eu ainda não cheguei no topo do mundo pra receber os melhores ilusionistas...

— Há, há, há, há! Que interessante, sabia? Você é mesmo interessante! Apesar dessa sua aparência patética, eu ouvi da minha assistente que você tinha um dom incomum.

— ...Assistente?

— Você viu ela, não viu? Na noite passada. Ou já se esqueceu?

— .....

O ocorrido da noite passada só poderia ser apontado para dois sujeitos: a mulher de preto e a menina de casaco vermelho.

Logicamente a mente de Sado apontou para a mulher de preto. Havia entre esses dois uma ligação? O jovem se referiu a ela como sua "assistente".

— Ela me contou que você foi bem incomum. Desativando as maldições... Mas eu me precavi. Não sei como você faz mas... Vai precisar subir em cada uma das torres pra conseguir desfazer esse meu trunfo. Eu sou esperto, não?

O sorriso, digno da palavra diabólica, estava estampado no rosto deste sujeito que parecia só brincar com Sado.

Isso não fazia nenhum sentido. Sado não estava entendendo nada. Parecia irregular a qualquer tipo de senso comum.

Mas seguindo a ideia de levar tudo como sendo a verdade, Sado Yasutora soube que para sair deste lugar isolado, precisava desativar o tal trunfo.

Mas como?

Não entendia o que estava ocorrendo aqui. Por que Sado era tão importante e estava sendo alvo de gente estranha? Por que olhavam-no com tanta expectativa como se estivessem esperando algo dele?

Ele não conseguia pensar em nada a respeito.

— Oi. Por que tá com essa cara de cachorro sem dono? Se quer perguntar alguma coisa, então pergunta logo.

O jovem impaciente com o silêncio, foi incisivo e direto para com um Sado que se sentia fora de ordem.

A respeito disso, ele fez a pergunta que mais queria saber agora.

— Quem... Quem é você?

Então, quando a questão chegou aos ouvidos do menino que estava a alguns metros de distância...

...Ele sorriu.

— Eu estava esperando que fizesse essa pergunta, sabia? Pois bem, deixa eu me apresentar.

Com divertimento, ele colocou o taco no ombro e disse:

— Sou um mago Arcano...

— Arcano...?

...E ele continuou:

— Das 78 cartas do baralho de Tarot, representante dos Arcanos Menores, do elemento fogo, o número 5 do naipe de paus — Maxuel Willians!

— ....!?

Assim declarou o jovem que esboçava um sorriso lunático e sádico.

Tarot é conhecido como o jogo de cartas onde dizem-se ter algum poder para fazer adivinhações sobre a sorte do futuro, vida amorosa e coisas do gênero.

Sado_Yasutoracreators' thoughts