1 Capítulo 1 - Esse dia não vai ser hoje

-Lígia? Acorda! Por favor, me dá um sinal...

Por mais que aquela voz dominasse o ambiente, Lígia não estava consciente o suficiente para distinguir todas as palavras que estavam sendo ditas. Sua mente, por mais que estivesse atordoada, só conseguia focar em uma pergunta: A gente já chegou em Santo Américo?

-LÍGIA! ACORDA, CARALHO, A GENTE PRECISA DE VOCÊ, CARALHO! - um tapa ardido atinge sua bochecha esquerda em cheio fazendo-a acordar assustada, a autora do tapa e dona da voz que tentava acordá-la era Sofia, sua melhor amiga.

-Mas que porra foi essa? Cê tá ficando maluca? - Perguntou em direção à Sofia, que exclama com a emoção de alguém que viu o Corinthians ganhar do Ponte Preta.

-FINALMENTE, PORRA! Caralho, tu deu um puta susto na gente, geral achou que tu tava morta. Ficamo mó cota tentando te acordar e não tava dando em nada. - Sofia estende a mão para ajudar a amiga a se levantar.

-O que aconteceu? Onde tá o resto do pessoal? Tá todo mundo bem? Cadê o carro?

-Então... - Sofia aponta para o que sobrou do carro, estava com o capô em formato de "U" depois de quase atravessar uma árvore. - O Almeida atropelou algum bicho e fez o carro perder o controle, todo mundo tá bem, a gente fez um acampamento improvisado aqui perto só pra passar a noite.

-Caralho... Mas como que a gente vai voltar agora? - Lígia posiciona os dedos massageando sua têmpora, sua cabeça está latejando de dor. - Vocês já ligaram pra alguém? Já ativaram o seguro?

-Ainda não conseguimos, o sinal aqui é fraco demais, tamo só com um risquinho e olhe lá. - Sofia fala enquanto tira um cigarro do seu maço de Camel de filtros vermelhos. - O pessoal resolveu que amanhã de manhã a gente vai procurar algum lugar pra pedir ajuda ou pra pelo menos usar um telefone fixo. Enfim, acho melhor a gente ir ficar com o resto do pessoal agora, eles tão preocupados pra caralho. - Sofia gesticula com a cabeça em direção ao que deve ser o caminho para o acampamento improvisado.

Agora que Lígia está consciente ela começa a prestar atenção ao seu redor e tenta identificar o local, era uma floresta que ficava na beira da estrada. Parecia familiar, pois era parecida com todas as outras florestas que ela já viu no interior de Minas Gerais, os mesmos sons e a mesma vida.

-Quer um? - Sofia interrompe os pensamentos de Lígia ao oferecê-la o maço de cigarros.

-Valeu, mas não fumo. Como caralhos cê consegue fumar logo depois de sobreviver a um acidente desses?

-Sei lá... - o barulho do isqueiro se acendendo interrompe suas palavras - Acho que me alivia um pouco a cabeça, sabe?

-É, e destrói os seus pulmões de dentro pra fora até você se afogar com a água que vai ficar neles.

-Não enche, algum dia eu paro, mas esse dia não vai ser hoje.

Lígia é guiada pela fumaça, pela brasa do cigarro e pela luz da lanterna que Sofia carrega com ela. O barulho dos grilos, das corujas e dos insetos ficam mais intensos conforme elas adentram cada vez mais as profundezas daquela floresta desconhecida, elas não sabem o que lhes aguarda naquele lugar.

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